Regra geral, existem 3 formas diferentes de ser, em cada um de nós.
- Aquela que somos na realidade
- A que nos deixam ser
- E a que resulta do confronto entre as duas primeiras
A forma de ser mais visível, é sempre a última. E, a existir, é também a que nos agrada menos. Eu digo “a existir”, porque acredito, que pessoas haverá, livres deste confronto, entre aquilo que somos e o que podemos ser. Pessoas suficientemente fortes e individualistas, cujo carácter não é abalado por quase nada. Ou pelo contrário, pessoas sensatas que se conseguem adaptar com a maior facilidade ao meio em que vivem, fazendo dele o principal modelador da sua forma de ser.
Este é um assunto, em que tenho pensado nos últimos dias. E apetece-me desmontá-lo. Tentar perceber quais são as peças que o compõem. Voltar a montá-lo. Como se quisesse perceber o funcionamento de uma qualquer máquina… o mais racionalmente possível. Sim, faço-o com mais facilidade, pensando com palavras escritas, até mesmo para que o registo não me faça correr o risco de me esquecer do resultado desta reflexão, seja ele, conciso ou não. E sim, continuo desesperadamente, a tentar racionalizar o meu funcionamento. A emocionalidade, não me tem trazido quase nada de bom, ao longo da vida.
O confronto entre aquilo que somos e o que podemos ser. Porque nem sempre aquilo que somos é o mais conveniente. Principalmente, para as pessoas de quem gostamos, e sobretudo, para as que de uma forma ou de outra, são dependentes de nós. Se não lhes queremos fazer mal desta ou daquela maneira, saímos daquilo que somos, e entramos no que podemos ser. E como esse processo é violentíssimo fundamentalmente, para os menos sensatos e conformados, muitos ajustes há a fazer. Enquanto esses ajustes são feitos, nós vivemos a terceira categoria de ser: exactamente a do resultado do confronto.
É evidente, que aqui, se pode questionar muita coisa. Quem são os outros, de que forma são dependentes de nós, durante quanto tempo nos devemos (ou não) comprometer com essa dependência e até mesmo, qual é o limite máximo aceitável de adultério à nossa verdadeira forma de ser. Isso já depende de cada indivíduo e dos seus próprios valores.
A questão está nos malefícios deste estado de ser. Que não é carne nem é peixe. Não é branco nem é preto (a velha questão das cores). E acima de tudo, se for vivida durante bastante tempo, deixa mazelas vitalícias. Cicatrizes indisfarçáveis. Por vezes, fazem prova de que já nem sabemos aquilo que realmente somos (ou éramos).
Gostaria que fosse fácil defendermos a nossa essência, nunca nos esquecermos dela, por muito que fosse o tempo durante o qual, a mesma fosse violada. Ter sempre esperança que um dia, poderemos voltar a tê-la livre, fluente, imaculada. Voltar ao nosso “eu” inicial. Mas o tempo vai passando e a força vai-nos faltando. A resistência vai sendo cada vez menor.
Contra natura, é só a expressão que me ocorre. Daria tudo, por um comprimidinho miraculoso que me fizesse mais conformada, mais sensata. Mas também servia um, que me desse força para manter a identidade.
Esta reflexão foi inconclusiva.