quarta-feira, setembro 29, 2004

Em busca da cor


(não são os meus que não escondem nada, são os teus… que vêm tudo)

Conheço esse ar lívido, de quem morre de amor. Embrulhado num vazio imenso, em local sombrio e frio. Fundo. Silencioso. A cor, não existe de facto… porque se perdeu o rasto ao Sol.

São vidas sem sentido, anos sem fim, à espera da segunda morte. De pessoas que não nos ouvem. Que se expressam entre lágrimas teimosas, alternando com uma mudez que as consiga conter. Vivem rodeadas de memórias. Só elas lhes fazem correr o sangue. Enviuvaram. Morreram de amor.

Dói-me. Por vezes, tenho que virar o rosto. Não quero ver. Atiro o meu corpo sobre um qualquer leito, para recuperar forças. Mas mesmo assim, sinto-as… as lágrimas dos outros. Que me pingam sobre o rosto… pesadas, dolorosas. Por isso, não resisto e cedo tantas vezes.

Em busca da cor. Eu procuro sempre o Sol. E gosto de pensar que fiz um pacto secreto com ele. Vendi-lhe a alma, a troco de cor. Não quero que ninguém me volte a ver, com esse ar lívido, de quem morre de amor.