sexta-feira, outubro 22, 2004

Aos meus leitores habituais

Estou sem pc. Devo andar arredada uns tempos.
Nada de se preocuparem, ok?
Esta tudo bem.

Ate um dia (espero que bem proximo).

domingo, outubro 10, 2004

Cidália


De cabelo imenso, comprido, volumoso, seco. Cor de palha, mesmo. Podia ser bonito, muito bonito, se fosse bem tratado. A pele do rosto, de mulher jovem, borbulhosa de quando em vez, nada seca, plena de vida ainda. A apresentação, quase sempre descuidada. Duvido que não fosse vaidosa, que não gostasse de andar sempre bem. Apenas, não podia, não tinha forma de o fazer. Não era feia. Parece-me até que era bonita. Ou teria condições genuínas para o ser. A idade? Não sei exactamente, mas mais de 26 ou 28, não tinha seguramente.

Quatro, eram os filhos que tinha. Dois rapazes e depois, duas meninas. O Miguel… o Miguel… porra!... que saudades tenho eu do Miguel. Dos pulos que me dava para a cintura. Da força com que me enlaçava as pernas. Dos beijos repenicados, com aqueles lábios sempre húmidos que me besuntavam toda. Tem piolhos, diziam-me frequentemente. Tem piolhos. Se os tinha, eram dele… nunca passaram para aqui, nem nunca tive medo que passassem. Dava tudo por aqueles abraços. Nem com os ciúmes dos meus filhos me importava. O Miguel, nos seus 6 anitos, de olhos vivos, negros, imensos de tamanho e brilho. Esmoreciam apenas quando estava doente. Percebia logo que não estava bem, pelos olhos. Bastava-me confirmar com a Cidália, para saber que não estava enganada. E preocupava-me tanto, durante dois ou três dias, o tempo que ele demorava a ficar bom. Por vezes, dava comigo a adivinhá-lo limpinho, de unhas cortadinhas, caracóis sedosos (sempre me fascinaram os cabelos encaracolados), perfumado. Mas o Miguel era filho da Cidália e melhor mãe que ela não podia ter.

Recordo as conversas que tinha com a Cidália. Eu na minha pose de senhora de bem, que não tem onde cair morta. Ela, confidente. Eu conselheira. Ela, ainda mais confidente. Não éramos amigas. E ela, de facto, estava sozinha. A Cidália estava sozinha. Tinha os dois rapazes com ela. Viviam num barracão qualquer, que eu nunca consegui ir ver, apesar dos imensos convites que me fazia. As duas meninas, estavam num colégio qualquer, onde ela também já tinha estado até aos seus 13 anos.

- Elas estão bem. Oxalá consigam aproveitar a oportunidade e se façam lá mulherzinhas como deve ser. Que era o que eu podia ter sido se a minha avó não me tivesse lá ido buscar para trabalhar no campo.

Era o que me dizia frequentemente, quando conversávamos. Os meninos também já tinham estado num lar qualquer. Mas não estavam bem. Um dia foi visitá-los e encontrou o Miguel meio despido. O Zé, o mais velho, tipo bicho, sem soltar uma palavra. Queria trazê-los logo. Chamaram mesmo a GNR. Não os deixaram trazer nesse dia. Enquanto não resolveu o assunto, não veio para casa. Adivinhou-a sozinha, longe de casa, sem dinheiro, desesperada. Nem consigo imaginar onde terá dormido, o que terá comido. Só consigo imaginá-la a chorar, a suplicar que lhe dessem os filhos, que não estavam bem. Na verdade, eles vieram. Foi no Natal, de há 2 anos. Foram recebidos como príncipes, na festa da escola. E o Miguel, saltou-me para a cintura, nas suas pernas decididas, orgulhando-me de morte, fazendo-me sentir uma privilegiada, porque aquelas pernas não apertavam mais nenhuma cintura, senão a minha. Meu querido Miguel.

Passados um, dois anos, não sei, queriam tirar-lhe os meninos outra vez. Que estariam melhor num colégio, que ela não os alimentava bem, que andavam muito sujos, mal vestidos. A Cidália andava a varrer as ruas, na altura. Ganhava algum dinheiro. Os filhos iam à escola todos os dias. Almoçavam na escola todos os dias. A Cidália pagava os almoços todos os dias. Porra!... não andavam limpinhos, não senhor. Nem perfumados, nem bem vestidos… mas eram felizes, riam, sorriam, brilhava-lhes o olhar. Tribunal para aqui, tribunal para ali e a Cidália tinha que arranjar casa em condições para viver com eles. Duas casas foram-lhe negadas ser arrendadas. A ela, só porque era a ela. A Cidália não tinha mãe e mais valia não ter pai. A Cidália não tinha amigos. A Cidália não me tinha a mim. A Cidália estava sozinha.

Um dia apareceu-lhe aquele que foi o seu primeiro namorado, agora homem descomprometido. A Cidália foi com ele e levou os filhos. O homem tinha uma casa. Era o que ela precisava para não lhe tirarem os filhos.

Ao Miguel e ao Zé, nunca mais os vi. A ela, sim. A ele, também. Uma vez. Foi quanto bastou para perceber, que a Cidália realmente precisava de uma casa. Era só da casa, que ela precisava, não era de homem nenhum. Não consigo imaginar os olhos do Miguel a brilhar, nem os do Zé, nem os da Cidália… e queria tanto conseguir.


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Cada vez mais, me sinto incapaz de julgar os outros pelas aparências, pela roupa de marca que usam, pelo perfume, pelo carro, pela casa, pela actividade profissional, em suma... pelo estilo de vida. Cada vez mais, preciso de ouvir de viva voz, de olhar nos olhos, de tocar e de me abandonar ao contexto das situações, para conseguir julgar. Mesmo assim, nunca consigo. Limito-me a aceitar as pessoas como são, com tranquilidade. Ricos, pobres, bem vestidos, mal vestidos, mais ou menos perfumados... nao interessa. São pessoas. E se são pessoas de bem, merecem todo o carinho, todo o respeito. E porra!... não há piolho nenhum que me demova. Há 6 meses que não vejo o Miguel e chora-me tudo de saudade.

sábado, outubro 09, 2004

Plena de ritmos diversos


Plena de ritmos e registos diversos. Na primeira pessoas, mais uma vez. É como vou escrever, hoje.

Telefone. Foi o primeiro pensamento que tive. Ainda com a visão turva, auxiliei-me do tacto para descobrir o raio do telefone, sobre a cama. Carreguei num qualquer botão para desligar o “despertar”. Continuou a tocar. Foje!... já a telefonarem?!... Foi o segundo pensamento que tive. Bom… funcionou à mesma. Despertei. Levantei-me da cama. E não, não estive muito tempo ao telefone. Quando acordo, não me obriguem a falar, por favor… não na primeira meia hora.

Por isso, esse pedaço de tempo é o momento mais silencioso desta casa. Fazem-se apenas, as perguntas essenciais, de preferência, formuladas de forma a que as respostas, se resumam a um “sim” ou a um “não”. Está finalmente e felizmente, instituído.

Segue-se a preparação dos pequenos almoços. Cada um, quer sempre uma coisa diferente, o que dá uma trabalheira desgraçada. Abro o micro-ondas. Ponho o leite a aquecer. Enquanto aquece, vou buscar os cereais. Prato, leite, colher… não sei quantos passos até à mesa, sempre com qualquer coisa entalada entre o braço e o corpo, para evitar maior número de viagens. Apita o micro-ondas, ainda não voltei. Faço a papa. Faço a sandes. Preparo o leite. Mais não sei quantas viagens até à mesa. Meninos!... Mesa. É sempre o que digo. Sem conversas, nem confusões, todos se sentam. O barulho de fundo é sempre a televisão, que já alguém ligou, baixinho. O mais baixinho, possível.

Como qualquer coisa. Fumo então o meu primeiro cigarro. Bebo o meu primeiro café. E começou o dia. Começam as conversas. Começa a confusão. Reunião familiar na casa de banho. O som da água a correr. Os desencontros de interesses. Não quero essa roupa. É esta que vais levar. Às vezes acertamos logo. Outras vezes, tem que se fazer logo ali, a primeira negociação do dia. Se demora muito, tenho que me sentar. E se estou com pressa… não me sento, nem negoceio. É aquela e mais nada. Ajudo a vestir. Amanso a rebeldia daqueles caracóis imensos (que trabalheira) que teimo em não cortar (seria um crime). E no fim, sou eu. Com o tempo que resta, lá visto as calças, enfio-me dentro da t-shirt, aplico os cremes da ordem e com sorte, ainda tenho 2 segundos para me olhar no espelho e pensar: tá porreiro ou… tá uma merda. Em qualquer das duas situações, avanço para a tarefa seguinte. Hoje, estava porreiro.

Até à hora do almoço, pouca coisa a registar. A televisão foi a protagonista. A breve saída, decorreu sem incidentes. A seguir ao almoço, é que foram elas. Quatro tarefas a realizar, até ao final da tarde. Água, chucha e fralda, telemóvel, tabaco, chapéus… Já todos têm o chapéu? Tudo para dentro do carro. Marcha-atrás… vai descendo. Eu à conversa com ele. Elas muito amiguinhas. Estarão doentes? Lembro-me de ter pensado. Sempre à conversa, a olhar de quando em vez, pelo retrovisor, a ver quando é que aquilo, passava da risota para a choradeira. Manteve-se assim. Saíram do carro de mão dada. Ele, a refilar que tinha estacionado o carro muito longe… que tínhamos que andar muito. Vamos embora, à minha frente. Não quero nenhum para trás (que eu para trás, não vejo nada e ainda perco algum pelo caminho). Fizemos o caminho bem dispostos e saltitantes. Tive até tempo para observar o que se passava à minha volta, o que não é de todo, frequente. Entreguei-me a pensamentos breves, mas profundos, não me chegando contudo, a distrair. Fomos buscar o que tínhamos que trazer. Ainda tivemos tempo para conversar com estranhos e passar na papelaria. À vinda, já era ele que vinha de mão dada com a pequenina e eu, com a do meio. Quando cheguei ao carro, vi que já estava atrasada. Toca o telemóvel. Ok. Já sei que estou atrasada. É sempre a mesma coisa? Não percebo então, a admiração. Contarão as pessoas que eu mude ainda mais, com 41 anos de idade? Contentem-se com o meu sincero esforço, por favor. Mudança brusca de humor. Grrr… que raiva.

Um trânsito desgraçado. De onde é que saiu isto tudo? Jesus!... a que horas vou eu chegar a casa? Apanhei uma porra de um tractor pelo caminho, que não consegui ultrapassar. E que todos os outros que vinham atrás de mim, me fizeram questão de mostrar que conseguiam. Que se lixe. Virei a cara a todos. Mas os meus filhos, fizeram o favor de me descrever as expressões dos condutores, no momento exacto, do triunfo deles. Por isso, gosto de viajar sozinha, caraças. Só vejo o que quero ver.

Chegámos finalmente a casa. Já estavam à nossa espera. Mudar roupas, e aí foram eles. Eu fiquei. Ainda mandei um mail urgente, para dizer uma coisa urgente e saí, com 15 minutos de atraso. Reunião de pais. Demorada. A maior parte do tempo, estive ausente. E quando estive presente, tive que fazer perguntas em voz alta, para saber a quantas ia. Sim, que não gosto de dar parte de fraca, mas também não gosto de não pescar nada. Conversa para aqui, conversa para ali, que afinal, já não conversávamos para aqui e para ali, desde o fim do ano lectivo. Muitas novidades, pois claro. Muita ânsia de pôr a conversa em dia.

Ok. A quarta tarefa, fica para amanhã. Também é dia. Uff!... estou estafada.

Instintos


O que reconheço melhor, é o instinto maternal. Aquele que me diz que os meus filhos, não estão melhor com mais ninguém, senão comigo. Obviamente, não os quero agarrados às minhas pernas, o que quero dizer é que ninguém os conhece melhor que eu, nas suas capacidades e falta delas. Logo, ninguém melhor que eu, lhes adivinha o pensamento, os receios, as vontades. Ninguém melhor que eu, sabe em que momento devem ser retidos e em que momento devem ser empurrados. E já nem me dou ao trabalho de discutir isto com ninguém (senão com eles) porque a segurança, ao final de quase 10 anos, se tornou praticamente, absoluta.

Reconheço também um outro instinto. Bastam-me dois ou três contactos com alguém, para perceber se acabei de conhecer uma pessoa de bem, ou não. Raramente me engano. E quando me engano, sou avisada com antecedência… pois, exactamente pelo meu instinto. Aqueles avisos que não se conseguem racionalmente, compreender. Estou sempre atenta. E, se sou empurrada para uma tomada de posição, assim esteja ele activo, é mesmo pelo instinto que me oriento.

E o instinto de sobrevivência? É sobre ele, que me encontro introspectiva. Sempre me considerei desenrascada. Com poucas ferramentas, me desembaraço de um qualquer empecilho. A bem dizer, quanto menor é a diversidade de ferramentas que ao meu alcance tenho, maior é o gozo que me proporciona o triunfo.

Mas situações há, que nunca vivi, enquanto adulta. As catástrofes. As guerras. Sendo que destas últimas, ainda me recordo do cheiro a pólvora que se embrenhou no meu olfacto, há sensivelmente, 30 anos. Mas tal como referi, era criança e fui nessa condição, protegida por adultos. Há ainda, os confrontos hostis, com gente que nos quer mal. E porque raramente temos oportunidade de testar simulações nesta matéria, saberemos nós, avaliar o nosso grau de instinto de sobrevivência? Prever as nossas hipóteses de alcance de bons resultados?

Entrego-me a exercícios de adivinhação. Conseguirei eu passar para além, do olhar tresloucado de um malfeitor? Adivinhar-lhe o talento para fazer mal? Conseguirei eu manter o sangue frio, aquele que nunca senti assim? Manter a racionalidade, aquela que nunca tive? Entrego-me a exercícios de adivinhação. Escuto as palavras, tentando emoldurar um estado de espírito, tentando avaliar o grau de agressividade. Desvio a atenção do olhar, que me paralisa o raciocínio. Centro-me nas palavras. Oiço-as uma a uma, apesar de parecer que não lhes dou atenção. Meço-as de acordo com o tom usado. Se me são sussurradas, paraliso novamente. Entrego-me a exercícios de adivinhação. Paralisada. Pronta a fugir, mal encontre um momento de distracção. Planeio. Vacilo. Planeio novamente. E já não vacilo mais. Entrego-me a exercícios de adivinhação, tal e qual um teste, uma simulação. Conseguirei eu sobreviver a um malfeitor? Ah!... seguramente. Porque só é vítima, quem não tem força para lutar, nem forma de a encontrar. E fugir é por vezes, a única forma de vencer.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Abriu nova temporada

Eu tentei... a sério que tentei.

Mas afinal, sou mais permissiva do que pensava.
Por isso vou arrepiar caminho.

Abriu nova temporada. Comentários, sim (vamos ver por quanto tempo, eheh).
Porque... porra!... não sou de ferro.
Ele houve de tudo (vamos lá ver se me lembro disto por ordem cronológica).

A minha melhor amiga, com toda a paciência deste mundo, a tentar convencer-me a não tirar os comentários. "Diz antes, que vais deixar de responder", dizia-me ela, aflita.

Invasão à caixa do correio (de pessoas que me conhecem e que até nem comentavam) preocupadas, com o que se estava a passar aqui, com a rapariga.

Um post-comentário, do outro lado do oceano, embrião de formação, da organização (e outras coisas acabadas em "ão")... dizia eu, organização "As quatro mosqueteiras".

A minha agenda telefónica devidamente preenchida (lembram-se da agenda?).

Reconhecimento auditivo do rouxinar do pássaro divino (é delicioso).

Uma "ganda pedra" no sábado passado, que fez alguém levitar até à Segunda-feira a seguir (a ti, bateu-te bem... e não, não me refiro a drogas, poupem-se aos comentários).

A miúda da taxa arreganhada, que é como quem diz, sol aberto, a reclamar em directo, no blog dela e hoje, na minha caixa do correio (continuei sempre a ler-te, linda).

E hoje... dizem-me que eu tenho mau feitio. Porra!... mau feitio?... eu bem digo, que a ti, não te escapa nada. Chiça!...

Ainda hoje... a miúda que levita como uma pena, a reclamar outra vez...

Mas, meus amigos... a quem não resisti mesmo, foi à Bina. Leram bem, à Bina. Ando roidinha de inveja. A rapariga é uma animação. A sério. Também quero... quero-a aqui, no meu blog. Mas olha lá, oh Bina... filha!... se voltas a falar em galinhas, agarro nas minhas 3 Mosqueteiras, e nem o teu Zé te vale. Compreendes?

Pronto. Está decidido. Braços abertos. Continuarei a responder aos comentários. Desculpem lá, qualquer coisinha. Foi mesmo uma questão de protecção. Mas afinal, agora vendo bem... já não me parece que corra perigo algum.

Ah!... mais uma coisa... beijinho grande, Gasolim (só faltavas tu).