sábado, dezembro 30, 2006

Atestado de Ignorância

Este deve ter sido o último atestado de ignorância que me passaram este ano. Como até está documentado é digno de registo. Tem uma história por trás que me agrada menos. Não quero acabar o ano deprimida. Decidi por isso, ignorá-la.


Posto isto... FELIZ ANO NOVO a todos.


escrito pela minha filha de 9 anos

Nota: Este post só foi possível com o contributo de uma miúda de quem tenho o prazer de ser amiga (problemas de ordem prática e logistica que ela me solucionou). Parece pouco, eu sei... Mas para mim, foi de tal forma digno de registo neste caderno que voltei atrás para acrescentar esta nota.

sábado, dezembro 23, 2006

Natal 2006

Talvez, logo à noite eu me esqueça daqueles que contaram tostões antes de entrar no supermercado para aviar a Seia de Natal, e dos que substituíram a Barbie ou o super-herói, por uma pequeno peluche ou um carrinho vermelho, ou dos que estarão sozinhos e tristes, dos doentes e com dores e daqueles que embrulhados em mantas velhas e bocados de cartão esperam que lhes chegue uma sopa quente. Talvez, logo à noite, no aconchego da minha casa quente, da minha família reunida, dos meus filhos e sobrinhos a brincar, a olhar para a minha mesa farta, eu não me lembre deles. Daqueles para quem os sinos tocam assim:



AC DC - Hell's Bells

I'm a rolling thunder, a pouring rain
I'm comin' on like a hurricane
My lightning's flashing across the sky
You're only young but you're gonna die
I won't take no prisoners, won't spare no lives
Nobody's putting up a fight
I got my bell, I'm gonna take you to hell
I'm gonna get you, Satan get you
CHORUS:
Hell's Bells
Yeah, Hell's Bells
You got me ringing Hell's Bells
My temperature's high, Hell's Bells
I'll give you black sensations up and down your spine
If you're into evil you're a friend of mine
See my white light flashing as I split the night
'Cause if good's on the left, then I'm stickin' to the right
I won't take no prisoners, won't spare no lives
Nobody's puttin' up a fight
I got my bell, I'm gonna take you to hell
I'm gonna get you, Satan get you
CHORUS
yeow
Hell's Bells, Satan's comin' to you
Hell's Bells, he's ringing them now
Hell's Bells, the temperature's high
Hell's Bells, across the sky
Hell's Bells, they're takin' you down
Hell's Bells, they're draggin' you around
Hell's Bells, gonna split the night
Hell's Bells, there's no way to fight, yeah
Ow, ow, ow, ow
Hell's Bells

terça-feira, dezembro 19, 2006

Nobre forma de dizer

Confesso que não foi escrito por iniciativa própria. Foi a pedido. Mas, porque merecem de facto, a homenagem e eu ando sem tempo para actualizar o blog, ficam aqui umas palavras que alinhei assim, e que foram oferecidas ao maestro e professores desta banda filarmónica, no passado Domingo. A minha indisponibilidade, impediu-me de estar presente na cerimónia, mas parece que gostaram.

Nobre Forma de Dizer

A caminho do Solfejo
A indicar o sentido
Vai a Clave à frente
Em Fá sustenido.

Segue atrás o Dó, Ré, Mi…
O maior e o menor.
O ensaio só acaba
Quando já o souberem de cor.

Ao escuro Clarinete
Junta-se o Trompete dourado.
Abram alas, que vem também
A Tuba para o seu lado.

Vamos então começar.
Temos uma noite cheia.
Chega atrasada e trôpega
Sempre a mesma, colcheia

Toc, toc, toc…
À ordem do som da batuta.
Todos com muita atenção
E de ouvido à escuta.

Assim ensinam os mestres
Seus discípulos a fazer.
Porque a música é afinal
Nobre forma de dizer.


domingo, dezembro 17, 2006

Porque as mudanças não são fáceis

Porque há canções bonitas.
Vozes também.
E porque eu estou sem sono.



Wind Of Change - Scorpions

I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change
An August summer night
Soldiers passing by
Listening to the wind of change

The world is closing in
Did you ever think?
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
I can feel it everywhere
Blowing with the wind of change

[Chorus:]
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

Walking down the street
Distant memories
Are buried in the past forever

I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

The wind of change blows straight
Into the face of time
Like a stormwind that will ring
The freedom bell for peace of mind
Let your balalaika sing
What my guitar wants to say

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Cá vou eu de novo

Por um caminho que já conheço.
Por onde, estou certa, me vou perder.



Here I Go Again - Whitesnake

No I don't know I'm going
But I sure know I've been
Hanging on the promises in songs of yesterday
And I've made up my mind
I ain't wasting no more time

Though I keep searching for an answer
I never seem to find what I'm looking for
Oh Lord I pray you give me strength to carry on
'Cause I know what it means
To walk along the lonely street of dreams

And here I go again on my own
Going down the only road I've ever known
Like a drifter I was born to walk alone
But I've made up my mind
I ain't wasting no more time

Just another heart in need of rescue
Waiting on love's sweet charity
And I'm gonna hold on for the rest of my days
'Cause I know what it means
To walk along the lonely street of dreams

And here I go again on my own
Going down the only road I've ever known
Like a drifter I was born to walk alone
And I've made up my mind
I ain't wasting no more time
But here I go again
Here I go again
Here I go again
Oh baby, oh yeah

(guitar solo)

And I've made up my mind
Oh baby
And wasted no more time

And here I go again on my own
Going down the only road I've ever known
Like a drifter I was born to walk alone
'Cause I know what it means
To walk along the lonely street of
dreams

terça-feira, dezembro 12, 2006

A idade não perdoa

Dizia eu ontem, às minhas colegas, quebrando o gélido silêncio, enquanto tilintávamos os ossos todos do esqueleto, mais os dentes, em redor do aquecimento:

- …pensar eu que há uns anos atrás, nesta altura do ano, vestia saias curtas com meias de vidro e não tinha o frio que tenho hoje.

Responde uma delas em jeito de piada:

- Pois… tinha outras pernas que não tem hoje.

Encaixo eu:

- Pernas e não só. Nariz, também… que nessa altura não se me congelavam as narinas quando fazia o ar entrar por elas dentro.

Risota geral.

Remata sabiamente, a minha outra colega:

- A idade não perdoa.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Caramba

Caramba… estou impressionada com a verificação que fiz.

Em 5 minutos comi um prato razoavelmente abastecido de arroz de feijão preto com lulas fritas, bebi café e lavei os dentes (o cigarro já o fumei no carro a caminho do trabalho). Verifiquei por isso:

1 – Que a minha estrutura mastigadora é voraz e a minha capacidade de desembaraço, resoluta.

2 – Que para confortarmos o estômago é, para além de alimento, preciso tempo. É que estou como se não tivesse comido nada. O almoço que engoli ainda não deve ter chegado ao estômago.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Desculpa

Não me apetece.
Talvez tenha aprendido finalmente, a saber estar comigo própria. E aprendido tão bem, que frequentemente, me recuso a trocar a minha companhia por outra qualquer.
Ou talvez não me agradem os programas que me propões. Não tens culpa, claro… que eu me tenha individualizado desta forma.
Na verdade, o que me apetece é ir tratar de mim. E depois de tratar de mim, escrever qualquer coisa ao som da voz gritada de Amanda Marshall. Talvez, sentar-me por uns momentos, à frente da lareira com uma caneca de leite quente a aquecer-me as mãos e a garganta. E depois, sim… depois vou ver um filme que tenho aí há 2 dias e que já devia ter visto há muito tempo. Código Da Vinci. Depois, durmo. E amanhã, não sei o que me apetece fazer. Mas com certeza, farei aquilo que me apetece.
Porque há dias, em que na fila, primeiro, estou eu.
Desculpa.




Let It Rain - Amanda Marshall

I have given, I have given and got none
Still I'm driven by something I can't explain
It's not a cross, it is a choice
I cannot help but hear his voice
I only wish that I could listen without shame

Let it rain, let it rain on me
Let it rain, oh let it rain
Let it rain on me

I have been a witness to the perfect crime
I Wipe the grin off of my face to hide the blame
It isn't worth the tears you cry
To have a perfect alibi
Now I'm beaten at the hands of my own game

Let it rain, let it rain on me
Let it rain, oh let it rain
Let it rain on me

It isn't easy to be kind
With all these demons in my mind
I only hope one day I'll be free

I do my best not to complain
My face is dirty from the strain
I only hope one day I'll come clean

Rain, let it rain on me
Let it rain, oh let it rain
Let it rain on me

Come take my hand
We can walk to the light
And without fear
We can see through the darkest night

Rain, rain on me
Let it rain, oh let it rain
Let it rain on me

quarta-feira, dezembro 06, 2006

És

És, sim.
Dos meus amores
O mais certo.
Entranhado em mim própria
De mim mesma
O mais perto.

Nem a mulher que tens nos braços
Ou o homem que um dia
Eu vou amar
O tempo que nos fará velhos
Alguma vez
Conseguirá isso mudar.

Mas, meu amor
Tão magoado
Num espelho nos tornámos
E neles
Me leio triste
Nesta história que contámos

Por isso
Tens que me largar a mão
Tens que ser capaz
Fazer o caminho para a frente
Deixar de olhar para trás.

Vai!
Vai, por favor!
Juro que não consigo!
Juro que não consigo!
Querer
Este amor.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Na falta de palavras...

... tomo como minhas, as dos outros.
Estas são com toda a certeza, as que expressam melhor o contexto deste meu dia.
Não devia sequer, ser eu a escolhê-las (há gente ainda com menos habilidade do que eu no uso das palavras). Mas sou eu quem precisa delas para se arrumar.



Still Loving You - Scorpions

Time, it needs time
To win back your love again.
I will be there, I will be there.

Love, only love
Can bring back your love someday.
I will be there, I will be there.

Fight, babe, I'll fight
To win back your love again.
I will be there, I will be there.

Try, baby try
To trust in my love again.
I will be there, I will be there.

Love, our love
Just shouldn't be thrown away.
I will be there, I will be there.

If we'd go again
All the way from the start,
I would try to change
The things that killed our love.

Your pride has build a wall, so strong
That I can't get through.
Is there really no chance
To start once again?

If we'd go again
All the way from the start,
I would try to change
The things that killed our love.

Yes I've hurt your pride, and I know
What you've been through.
You should give me a chance
This can't be the end.

I'm still loving you.
I'm still loving you,
I need your love.
I'm still loving you.
Still loving you, baby...

sábado, dezembro 02, 2006

Longe de mim

Sinto as palavras sufocadas.
Interrompidas num voo frio que me aperta a garganta.
Observo distante, o meu mundo.
Vivo longe de mim.

E porque este blog não é só feito de palavras…
Lá me vou safando com o YouTube




So Far Away - Dire Straits

Now here I am again in this mean old town,
And you're so far away from me.
Now where are you when the sun goes down,
You're so far away from me.

You're so far away from me,
So far I just can't see.
You're so far away from me,
You're so far away from me.
Alright.

I'm tired of being in love and being all alone,
When you're so far away from me.
I'm tired of making out on the telephone,
Cos you're so far away from me.

You're so far away from me,
So far I just can't see.
You're so far away from me,
You're so far away from me.
Alright.

And I get so tired when I have to explain,
That you're so far away from me.
See you've been in the sun and I've been in the rain,
And you're so far away from me.

You're so far away from me,
So far I just can't see.
You're so far away from me,
You're so far away from me.
Take it down.

So far away.
You're so far away from me.
(You're so far.)
Alright.
(You're so far.)
Yes, you're so far away from me.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Moon River

(para um miúdo adoentado)



Moon River - Andy Williams

Moon river, wider than a mile
I'm crossin' you in style some day
Old dream maker, you heartbreaker
Wherever you're goin', I'm goin' your way
Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end, waitin' 'round the bend
My huckleberry friend, Moon River, and me
instrumental-first verse
Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end, waitin' 'round the bend
My huckleberry friend, Moon River, and me

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cheias 2006



















Junho


















Novembro
Fotos aq
Ribatejo

sábado, novembro 25, 2006

Peter Frampton II


foto daqui

Verão de 1979. Tinha acabado de fazer 17 anos. Eu e a minha prima de Queluz, apenas 1 ano mais nova que eu, consolidávamos laços próximos de amizade. Estávamos atrasadas, porque não tínhamos crescido juntas, já que eu tinha chegado a Portugal, apenas 4 anos antes. Fomos inseparáveis durante uma data de anos.

Passámos esse verão juntas, ora em casa dela, ora em minha casa. Tomámos como nossos os gira-discos de ambas as casas. E neles, fizemos residente o LP de Peter Frampton – Comes Alive. Estávamos nos primeiros anos de consumo musical seleccionado à nossa responsabilidade, ou seja, já não ouvíamos a música escolhida pelos nossos pais. Agora, eram eles, coitados, que tinham que levar pelos ouvidos adentro, com Peter Frampton em altos berros, acompanhado em coro, pelas vozes gritadas de 2 miúdas extasiadas. Foram muito pacientes.

Verão de 1979. Era este o meu cenário.

Peter Frampton I





Show Me The Way - Peter Frampton
Live in Detroit – 1999

I wonder how you're feeling
There's ringing in my ears
And no one to relate to 'cept the sea
Who can I believe in?
I'm kneeling on the floor
There has to be a force
Who do I phone?
The stars are out and shining
But all I really want to know...

Oh won't you show me the way
I want you to show me the way

Well, I can see no reason
You're living on your nerves
When someone drops a cup and I submerge
I'm swimming in a circle
I feel I'm going down
There has to be a fool to play my part
Someone thought of healing
But all I really want to know...

Oh won't you show me the way
I want you to show me the way
I want you day after day

I wonder if I'm dreaming
I feel so unashamed
I can't believe this is happening to me
I watch you when you're sleeping
And then I want to take your love

Oh won't you show me the way
I want you to show me the way
I want you day after day

sexta-feira, novembro 24, 2006

Lições de vida

foto daqui

De há uns 2 anos a esta parte, julgo que por alteração (in)voluntária dos meus objectivos de vida, tenho vindo a experimentar algumas sensações, de que antes, não tinha noção.

Contando que me encontre mais ou menos, a meio da vida que tenho para viver, não me sinto de todo, a descontar dias até que chegue ao fim. Obviamente, como a maior parte das pessoas, tenho planos para o futuro e “coisas” que anseio vir a possuir.

No entanto, parece que ficou para trás, aquela fase em que me sentia a construir um pequeno império, ou seja, a satisfação de somar aos bens que já tinha (ou julgava ter) outros que ia tendo. Refiro-me mesmo a bens, às “coisas” que se adquirem a troco de dinheiro. Merdices topo de gama (ou nem tanto).

Claro, que gostaria de ter uma casa maior, um escritório individualizado e apetrechado com mais e melhor equipamento, roupas mais giras para os meus filhos, até mesmo para mim. Ter dinheiro para o raio da Berg com que o meu filho sonha, ou os MP3 que as minhas filhas querem. Claro que gostaria de pagar melhor à senhora que toma conta dos meus filhos, trocar de lugar com as minhas clientes de estética… essas coisas todas.

Mas porra!... cada vez que ao final do dia, sento os meus filhos à mesa, lhes ponho à frente um prato de comida perfumada e quente acabada de fazer, os vejo a atacar o prato, todos limpinhos e quentes nos seus roupões macios e após a refeição os observo a aconchegarem-se ao quente da lareira, penso frequentemente:

- Temos uma sorte do caraças!

Ainda retenho essa sensação, quando antes de me deitar, vou aos quartos aconchegar-lhes as roupas da cama e confirmar que as pernas deles estão esticadas debaixo delas, sinal de que não têm frio.

Quando me recolho finalmente, levo muitas vezes no pensamento, as pessoas sem abrigo e aquelas que o têm, ainda mais débil que o meu. É sobretudo, nestes dias frios, chuvosos e ventosos que julgo não ter direito nenhum para me queixar da vida.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Taralhoquices II

Tinha acabado de mandar os miúdos para o pai. A azáfama dos preparativos, impediu-me de ir comprar tabaco mais cedo. O café onde habitualmente vou, mesmo ao lado da minha casa, costuma fechar às 9 da noite. Já eram 10, por isso, tinha que ir a outro, à mesma, na minha rua, mas em sentido contrário e mais distante.

Ainda no mesmo ritmo acelerado, agora desnecessário, já que estava liberta de compromissos, deitei mão ao primeiro casaco que encontrei, que mesmo não sendo meu, vesti apressadamente (uma das vantagens a que chegamos quando os nossos filhos começam a ter tanto corpo como nós – o casaco era do meu filho). Resolvi espreitar-me ao espelho antes de descer as escadas. Ainda bem. Estava com “o cabelo à bruxa do Harry Potter”, como dizem os meus filhos. Apressadamente teci uma trança que me baixasse o volume ao cabelo e desci as escadas, ainda sem consciência de que já não tinha pressa.

Fechei a porta atrás de mim e virei à direita (trajecto A). 2 ou 3 passos depois, apercebo-me ao longe, do vulto de 2 pessoas a sair e a fechar a porta do café onde pensava ir (costuma estar sempre aberta) – Olha!... já estão a fechar – pensei. Imobilizei-me no meio da rua e foquei os olhos na tentativa de reconhecer os vultos, contando que pudessem ser os donos do café e me fizessem sinal para avançar, que me valiam ainda. Em vão. Não reconheci os vultos. Mas, como não fizeram nenhum sinal, calculei que não seriam os donos, ou se fossem, não estavam para me aturar.

Por isso, virei costas e devolvi ao caminho os 2 ou 3 passos que tinha dado, voltando à porta de minha casa (trajecto B). A intenção era ir buscar as chaves do carro para ir a outro café, este ainda mais longe, comprar o raio do tabaco. Antes de meter a chave à porta lembrei-me que poderia ter a chave no bolso das calças. Verifiquei. Sim, tinha as chaves comigo. Por isso, tornei a arrepiar caminho, desta vez em sentido contrário, em direcção ao carro, do outro lado da rua (trajecto C). Já mesmo em cima do carro, vejo que não é o meu (já não é a primeira vez que confundo aquele carro com o meu... são da mesma cor). Tinha estacionado o meu, na rua travessa à minha. Voltei portanto, a mudar o rumo aos meus passos em direcção, agora sim, ao meu carro (trajecto D). Com tanta taralhoquice, foi assim que movimentei as minhas pernas. Fatal, para o que se veio a desenrolar depois.

Lá fui eu de carro ao café mais longe, buscar cigarros. De cabelo aprisionado numa trança e com o casaco acolchoado do meu filho (este pormenor é importante). Despachei-me num instantinho. Voltei. Estacionei o carro, agora, no lugar habitual, ou seja, atrás do outro carro da mesma cor que o meu, mesmo à frente da minha porta, do outro lado da rua. Entrei em casa.

Poucos minutos depois, toca-me o telefone de casa. Atendi. Era a minha vizinha do café mais perto (o tal que fecha às 9). Tão aflita que ela estava.

- Ó Ana!... você não se deu conta de movimentos suspeitos aí junto à sua porta? – perguntou-me.

- Movimentos suspeitos? Não. Entrei agora mesmo em casa e não dei conta de nada. Porquê? Roubaram-lhe outra vez as bilhas do gás? – foi a primeira coisa que me ocorreu.

- Não. Não. É mesmo, aí à sua porta. É que vieram aqui agora, 2 senhoras que viram um homem aí, a rondar a sua porta. Elas vinham do café do fundo e viram-no aí… para trás e para a frente… depois, subiu a travessa – explicava-se.

Ainda fui à janela da frente espreitar à rua, mas quando ela me descreveu pormonorizadamente, o movimento que o tal homem tinha feito e o casaco que trazia vestido, percebi logo o que se tinha passado. Disparei a rir.

O tal homem, de casaco acolchoado, que rondava em vaivém, a porta da minha casa, não era senão, eu própria. E os 2 vultos que eu tinha visto sair do café do fundo, eram afinal, as 2 senhoras que preocupadas, estavam em casa da minha vizinha do café, para todos juntos, me defenderem do malandro.

Nunca ninguém me tinha confundido com um homem. Se tivesse saído à rua com o cabelo solto, as tais senhoras tinham-me reconhecido, seguramente.

terça-feira, novembro 21, 2006

José Cid




10 da manhã de ontem. Já o tinha ouvido chamar-me em vão. Como não se aborreceu comigo, fui-me deixando ficar no calor da minha cama de menina, onde os lençóis têm um cheiro próprio e a almofada sabe-me melhor que outra qualquer (não sei porque não a trago de vez).

Confortavam-me os passos dele, de um lado para o outro, no corredor comprido. Entreabri os olhos, quando me pareceu ouvi-lo assobiar e fiquei atenta. Era mesmo. Tinha ouvido bem. Ele assobiava, de facto.

Ainda mal me tinha recomposto do assobio, esbugalharam-se-me as pálpebras. Música. ERA MÚSICA. José Cid, pois.

O meu pai tinha ligado o velho e potente gira-discos, em altos berros (ou para que eu acordasse de vez, ou porque já não ouve como ouvia).

Saltei da cama e procurei-o. Substituí o habitual beijo de bom dia por um abraço apertado. Ele perguntou-me:

- Quê?!... é por causa da música?

A alegria que me enchia o peito sufocou-me a resposta. Há mais de 8 anos, não ouvia música naquela casa.

domingo, novembro 19, 2006

Nonsense

- A mamã fazia anos hoje. É só para dar um beijinho.

Maria acaba de escrever o sms e envia-o. Primeiro, para o seu irmão João. Depois para o outro irmão, José.

Poisa o telemóvel no colo. Usa agora o telefone fixo e liga para o seu pai. Há 8 anos, neste dia, tem este procedimento.

O pai atende. Maria desenvolve conversa nada circunstancial. Propositadamente, em desencontro com a razão do telefonema. Qualquer tema serva, menos o verdadeiro. Enquanto o pai se queixa da falta de força nas pernas, resposta que ela própria lhe apontou quando resolveu perguntar “então, como é que isso vai?”, recebe a devolução do primeiro sms.

- Eu sei. Pus um lembrete no telemóvel para não me esquecer. Já telefonei ao papá. Um beijinho para ti, também.

Enquanto ouve o pai e vai acrescentando uma ou outra palavra que lhe mantenha o desenvolvimento das queixas, pergunta ao irmão:

- Ele lembrou-se?

Aguardando resposta, vai questionando o pai se tem ido a Lisboa. O pai responde que sim e torna a queixar-se das pernas, que mais dia, menos dia, não lhe permitirão tais deslocações. Entretanto, recebe resposta do outro irmão:

- Não me esqueci. Fui a casa do papá há bocado cortar o cabelo. Ele não se lembrou. Beijo.

Maria pergunta agora, pelos amigos do pai, aqueles com quem costuma ir a Lisboa. Um a um. Enquanto o pai corresponde às suas solicitações, recebe resposta à pergunta que tinha enviado ao seu irmão João:

- Acho que não. Eu não disse nada. Ele também não. Outro beijo.

Simultaneamente o pai observa:

- Tens para aí qualquer coisa a apitar.

- Estou a trocar sms com o João e o José - justifica-se.

- Olha… o João telefonou há bocado. Vem almoçar comigo no Sábado. E o José veio cá cortar o cabelo hoje. Mas eu já não posso, Maria. Vejo-me aflito com as minhas pernas… - Continua a queixar-se.

Pergunta-lhe depois pelos netos. Maria responde o mais sucintamente possível. Supõe que o telefonema está quase no fim. Esta é a pergunta que o pai costuma fazer, quando já não aguenta mais as pernas, depois de estar alguns minutos de pé, a falar ao telefone. Teimando. Teimando em não trocar aquele, por um telefone sem fios. Teimando. Teimando em não colocar ao menos, um cadeirão junto à mesinha do telefone.

- Ó filha!... eu tenho que desligar. Já estou aqui de pé, há muito tempo – ouve o pai dizer.

Maria sorriu, confirmando a sua suposição.

- Vá lá, papá… descansar. Um beijinho – despediu-se.

Até ao ano passado, não tinha, mas hoje tem, a certeza de que o pai já não se lembra de facto, do aniversário da sua mãe. Doem-lhe demasiado as pernas, para que o consiga fazer.

Melhor assim. Antes esta, que a outra dor. Porque a outra, quase lhe tirava a vida também.

Monumental













foto daqui

O Concerto dos U2, Vertigo from Chicago, com que a RTP 2 nos brindou hoje há noite. Estou longe de os conseguir imaginar ao vivo.

sábado, novembro 18, 2006

Não deixes de o fazer





















foto aq
Seixal 2006

Quando um dia te reflectes e não vês a imagem habitual, é apenas uma ilusão óptica. Não acredites nela. Compreende antes, o que te distorceu a visão. Compreende, amiga. Não deixes de o fazer.

quinta-feira, novembro 16, 2006

16 de Novembro



Be Tender With Me Baby - Tina Turner

Faz hoje anos que nasceu uma pessoa.
Se ela não tivesse nascido, eu não existia.
E se ela ainda existisse, eu era mais feliz.

Também faz hoje anos que nasceu outra pessoa.
Conforto-me porque esta, ainda existe.







foto daqui

quarta-feira, novembro 15, 2006

Segurança





















foto aq
Barragem de Magos - Ribatejo 2006

Taralhoquices I

Diz A para B:

- Ó B!... tens o número de telemóvel da C?

- Não sei, só vendo – responde B.

B encaminha-se para o carro para ir buscar o seu próprio telemóvel e consultar a agenda. De repente, ocorre-lhe que tinha deixado o telemóvel em casa a carregar. Volta para trás.

- Epá!... não trouxe o telemóvel. Mas a D tem, de certeza. Arranja-me aí um telefone que eu pergunto-lhe – Sugere B.

A dá o seu telemóvel a B que se prepara para marcar o número de D. Vacila na marcação e convence-se que não tem o número memorizado.

- Ai!... não me lembro agora do número da D. Porra! – diz B - Mas deixa estar que mal chegue a casa telefono-lhe e mando-te o número por sms – acrescenta.

Assim fez. Chegou a casa. Mandou o primeiro sms para D:

- Tens o número da C?

D responde também, por sms:

- Qual C?

B manda o 2º sms para D:

- A C do E, porra! (como se não houvesse mais nenhuma).

- Eu acho que é o 000000000, mas não tenho a certeza – responde D.

B reencaminha o sms para A. Como não sabe o número de A de cor, utiliza a agenda do telemóvel. Age rapidamente porque sabe haver urgência no contacto. Pelo caminho do dedo a correr os contactos da sua agenda, parece-lhe passar pelo nome B, mas não se detém. Após despachar o reencaminhamento do sms vai verificar a sua impressão e de facto, tem na agenda, afinal, o número de uma C.

- Porra! – pensou – afinal, tinha aqui o número.

Escreve outro sms a A:

- Afinal, tinha aqui o número. É o 000000001.

Assunto arrumado, pensou.
Dois dias depois, B encontra A na rua. A faz-lhe sinal mostrando intenção de lhe falar.

- Mandaste-me o número errado. Deste-me o da C sim, mas foi o da C.2 e não o da C.1. O primeiro número que mandaste é que estava certo.

…………………………………………………….

Análise:

Erro 1 - B devia ter confirmado se tinha ou não, o número de C, antes de perguntar a D.
Erro 2 – Não ocorreu a B
que podia conhecer mais do que uma C.
Erro 3B devia calcular que não sendo C.1 uma pessoa muito próxima, não seria suposto ter na sua agenda do telemóvel, o seu número.
Erro 4 – Sendo C.2 uma amiga chegada, nunca a deveria ter confundido com outra C.
Erro 5B já devia saber que asneira sempre de cada vez que é pressionada com a escassez de tempo, logo devia ter calculado uma margem de erro.

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Conclusão (simpática):

B é taralhoca até dizer chega.

Conclusão (menos simpática):

É muita asneira junta para uma merdice de nada.

.................................

Nota da autora:

Hoje apetece-me “dizer mal”.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Às voltas com a minha memória

Acredito que nem toda nós reajamos assim, mas eu deixo-me perseguir por recordações ou imagens que surgem numa espécie de flash e me relampejam a memória. Muitas vezes este processo é desencadeado pela música. Outras vezes por impressões dejà vu. Ou ainda, por rostos. Refiro-me a perseguição, porque alguns destes flashes não me dão descanso, enquanto não os localizo aqui (algures, no meu cérebro). Quando finalmente, focalizo a memória, acaba a perseguição. E eu fico em paz. Enfim, suponho que sejam problemas que me trazem os anos somados.

Já lá vai o tempo em que me incomodava com isto. Hoje, resignada ao avanço na idade e ao recuo no controle da minha memória, opto por cumprimentar todas as caras que me pareçam familiares, mesmo que não me lembre de todo, de onde as conheço. Enfim… prefiro passar pela maluquinha que fala a toda a gente, do que passar por mal-educada.

Mas o motivo que me leva a escrever este texto não tem muito a ver com caras familiares. Tem antes, a ver com uma música. E há uma que me tem perseguido de há uns anos a esta parte. Uma que é diferente de todas as outra, que me trazem recordações.

Todas as músicas que estimulam a minha memória estão habitualmente, identificadas. Reconheço-as. Identifico-as. A elas, músicas e às recordações que me atiçam. É como se pertencendo ao meu passado, tivessem comigo, sido arrastadas enquanto caminhámos no tempo. Crescemos juntas.

Mas esta música que me perseguia é uma espécie de cara familiar que não consigo situar. Conheço-a mas não sei de onde. Pior ainda… uma cara familiar e íntima. Muito intima.

Apesar de identificar o título da música e da banda que a toca e canta, incomodava-me profundamente, não ser capaz de a situar no embaralho em que a minha memória se tornou. Com a agravante de ser uma música que me dá colo, era quase uma desconsideração, não me lembrar da primeira vez que a ouvi, do percurso que fiz com ela. Hoje, depois de a tornar a ouvir, desta vez, no rádio do meu carro, confrontei-me irritada, com o meu arquivo. Embrenhei-me por um matagal ressequido e de catana numa mão e um mapa na outra, desbravei terreno, segui as pistas e cheguei ao princípio. Consegui. Encontrámo-nos.

Trata-se de Everybody Hurts dos REM. Foi a primeira música que coloquei no blog (podem ouvi-la e vê-la no sidebar). Carregava, desarrumada, esta música. No ano passado, ao topo das minhas escadas, alheei-me da conversa que mantinha com uma pessoa, quando me entrou pelos ouvidos, vinda do rádio do carro parado à frente da minha casa. Já fartinha de a ouvir, tive o primeiro laivo de focalização na minha memória. Relacionei-a com um filme que tinha visto anos atrás - When a Man Loves a Woman , realizado em 1994. Um filme que me marcou profundamente, na altura em que o vi.

Demorei um ano a confirmar esta sensação. Foi hoje, de volta do Google
aqui e depois, aqui. Gastei tempo neste intento, mas confirmei de facto, que a proximidade a esta música e a forma como me toca, tem tudo a ver com a fase da minha vida em que vi o filme e calculo, a tenha ouvido pela primeira vez. A música é de 1992.

Às voltas com a minha memória a enfraquecer, concluo que esta melodia, seja talvez, a melodia da minha vida.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Bancos de Jardim III

















foto aq
Ribatejo 2006

quinta-feira, novembro 09, 2006

Aerosmith – Eat the Rich


foto aq

São quatro (já foram mais) e o telemóvel. Têm a mesma função que a minha mãe teve durante uma data de anos e o pai dos meus filhos, durante outros tantos. Ou seja, despertam-me de manhã, de dez em dez minutos. Na verdade, umas vezes despertam-me, outras… nem por isso.

Antes de ontem (anteriormente a ter perdido temporariamente, a vontade) vinha aqui queixar-me de mim. Como sou um bocado de ideias fixas, a determinação não passou e portanto, é hoje que o faço.

É que não acho isto nada normal. A sério que não. Não conheço ninguém com esta particularidade, senão, com alguma semelhança, o meu irmão mais novo.

Não é coisa recente. Foi, desde que me lembro, sempre assim. Piora naturalmente, se dormir poucas horas. Ou seja, quanto menos horas durmo, maior o sono anestésico, pior o despertar, chegando mesmo a ser necessário reanimar-me.

Claro, agora que o despertar ou a reanimação estão entregues a mim própria, vale tudo. Mesmo tudo. Assim me valha a criatividade. A minha e a dos outros, que todas as ideias são bem-vindas.

Ora, antes de ontem de manhã, foi um drama. Nenhum dos métodos de despertar funcionou. A reanimação não se deu. Vai daí, acordei com 2 (leram bem) 2 horas de atraso. Foi o caos. Nenhum de nós (que isto parece ser mal de família) desperta instantaneamente. Por isso, o acordar do nosso sono anestésico foi perfeitamente convulsivo. Parecíamos formigas estonteadas com algum insecticida a correr de um lado para o outro. Eu procurava coisas que tinha debaixo do nariz. Corria a acudir o que me parecia mais desperto. A camisola que a minha filha está farta de vestir, ontem, farpeava-a. À outra, parecia que lhe tinham crescido os pés, ou encolhido as meias. O meu filho lavava os dentes antes de comer. Todos tontos.

Vai daí, pensei: Problemas graves exigem medidas drásticas. E ocorreu-me mais uma ideia. Há 2 dias que funciona na perfeição e àquela horinha certa, mais rápido que um pestanejar, as minhas pálpebras escaqueiram-se determinadas.

Ora bem, aos 4 despertadores que tenho em acção, mais o telemóvel, juntei agora, mais um método de despertar. Programei o hi-fi para o fim. Se nenhum dos métodos funcionar até chegar à sua vez (e não têm funcionado) às 7.15 horas começo a ouvir Aerosmith – Eat the Rich a 22 db (podem ouvi-la no sidebar). Uma verdadeira bordoada na cabeça. O que vale é que não tenho vizinhos.



Nota
- Não tenho nada contra os ricos. Não é a letra que me reanima. É mesmo, a música.


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Aerosmith - Eat the Rich

Well I woke up this morning
On the wrong side of the bed
And how I got to thinkin'
About all those things you said
About ordinary people
And how they make you sick
And if callin names kicks back on you
Then I hope this does the trick

'Cause I'm sick of your complainin'
About how many bills
And I'm sick of all your bitchin'
'Bout your poodles and your pills
And I just can't see no humor
About your way of life
And I think I can do more for you
With this here fork and knife

chorus:
Eat the Rich: there's only one thing that they're good for
Eat the Rich: take one bite now - come back for more
Eat the Rich: I gotta get this off my chest
Eat the Rich: take one bite now, spit out the rest

So I called up my head shrinker
And told him what I done
He said you best go on a diet
Yeah I hope you have some fun
And a don't go burst a bubble
On rich folk who get rude
'Cause you won't get in no trouble
When you eats that kind of food
Now they're smoking up their junk bonds
And then they go get stiff
And they're dancing at the yacht club
With Muff and Uncle Biff
But there's one good thing that happens

When you toss your pearls to swine
Their attitudes may taste like shit
But go real good with wine

chorus

Believe in all the good things
That money just can't buy
Then you won't get no bellyache
From eatin' humble pie
I believe in rags to riches
Your inheritance won't last
So take your Grey Poupon my friend
And shove it up your ass!

chorus:
Eat the Rich: there's only one thing that they're good for
Eat the Rich: take one bite now - come back for more
Eat the Rich: don't stop me now I'm goin' crazy
Eat the Rich: that's my idea of a good time baby


quarta-feira, novembro 08, 2006

Nem tudo é mau

Eu hoje vinha aqui para "falar mal de mim". Até já tinha uma fotografia para a ocasião. Mas mudei de ideias. Agora, já não me apetece falar mal de mim. Talvez amanhã, se já me tiver passado a euforia.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Pessoas confiáveis

Percebi hoje que as pessoas que me inspiram confiança inquestionável me suscitam sobretudo, uma espécie de ternura. A novidade é que até agora, tinha uma percepção inversa, ou seja, tinha tendência em confiar nas pessoas que me suscitassem semelhante afeição. Mas nem sempre.

O que eu não consigo perceber de todo, foi o percurso que o meu pensamento fez até chegar a esta consciência. Perfeitamente ininteligível.

domingo, novembro 05, 2006

Farmácia de serviço

(Isto a mim sabe-me a mimos)

Ontem à noite deitei-me com uma dor de cabeça descomunal, depois de tomar a medicação habitual. Eram os últimos 2 comprimidos que tinha.

Hoje acordei com dor de cabeça. E agora?... faço o quê? – pensei. Não tinha nada para tomar. Nem nenhum adulto que se metesse num carro para ir a uma farmácia de serviço. Auxiliei-me dos recursos que tinha à disposição e vai de pegar no telefone ligando para os vizinhos do café aqui da rua. Atendeu o gravador de mensagens. Porra!... – pensei.

- Olá, meninos! Era só para ver se tinham para aí alguma coisa para as dores de cabeça. Vou ver se me desenrasco com a B. Beijinhos. – foi o recado que deixei.

Desesperada, não perdi tempo e liguei para a minha comadre. Ainda estava ao telefone com ela, quando tocaram à campainha da porta.

Era o meu vizinho do café com uma carteirinha de analgésicos.

Melhor que uma farmácia de serviço.

sábado, novembro 04, 2006

Correntes

Não tenho boa recordação destas mensagens, questionários (ou sei lá) que se passam em corrente, de umas, para outras pessoas. Lembro-me da primeira vez que fui alvo da escolha de alguém. Tinha menos de 11 anos, porque ainda foi em Moçambique. Apareceu-me um papel dobrado dentro da pasta da escola e eu levei-o muito a sério. É que a minha ingenuidade de menina, fez-me temer as promessas de azar alvejando quem quebrasse a corrente, expressas no papel. Para que nenhum mal me acontecesse, tinha que copiar as palavras todas que lá estavam (e eram muitas) 10 vezes e passá-las da mesma forma anónima, para outras tantas pessoas. Copiar aquilo tudo 10 vezes, ainda foi como o outro, mas encontrar 10 pastas desviadas do olhar de alguém, foi um verdadeiro suplício. Levei uma eternidade, o que me causou uma angústia imensa, porque havia prazo para concluir a operação.

Fiquei traumatizada com o acontecimento. De tal maneira isto é verdade, que nunca mais reagi positivamente, a nenhuma corrente. As que se seguiram à primeira, levaram-me a concluir: seja o que Deus quiser… ou, o que tiver que ser, será. Claro, o anonimato da coisa, ajudava. Nunca ninguém saberia, onde raio é que a corrente se tinha quebrado. Pensava eu.

Agora, é por mail que as recebo (recebemos todos). Já não são agoirentas (valha-nos isso). Já não são anónimas. Mas se eu ficar quietinha no meu cantinho, à mesma, ninguém sabe que fui eu (chiiiuuuuu!…) quem quebrou a corrente. Claro que hoje, já não sou uma menina e por isso, acredito que não sou a única a proceder assim. Consigo até crer que se calhar, a corrente não passará de um único anel.

Hoje, fazem-se em forma de questionário. Enfim… as pessoas são curiosas. Mas caramba, se consigo fazer de conta que não recebi nenhuma, quando mas enviam por mail, assim, já não dá para fingir coisa nenhuma. Obrigadinha, ó miúda!...

Por isso, é assim: Indelicada, não sou. (ainda por cima, gosto de ti). Não me importo de responder ao questionário. Agora, escolher cinco dos links que tenho no sidebar é que não. Mas não me acusem de quebrar a corrente, porque os links estão lá… eheheh…

E se tal coisa voltar a acontecer, fica o aviso, assim procederei. Espero é que, a tornar a suceder, o questionário-corrente, seja mais interessante.

……………………………………………………..

Olhos: Castanhos

Cabelos: A que está por baixo da tinta?

Altura: 1, 63m.

Destra ou canhota? Destra.

Peso: 50 kgs.

Ascendência: Portuguesa.

Signo e ascendência: Leão e Sagitário.

Sapatos que está a usar: Ainda não descalcei as botas.

Fraqueza: Sou fraquinha, pois… precisava de mais corpo.

Melhor qualidade: Assim, de repente…

Medo: OSGAS.

Objectivo que gostaria de alcançar: Criar os meus filhos.

Frase que mais uso no messenger: Hum!...

Melhor parte do corpo: Isso é pergunta que se faça?

Pepsi ou Cola: Não, obrigada.

MacDonalds ou Bobs: MacDonalds, conheço.

Café ou capuccino? Pode ser café. Normal, mesmo. Nem curto, nem alto, nem em chávena escaldada. O açúcar, ponho eu.

Fuma? Pois.

Palavrões: Às vezes, escapam-se.

Perfume: L’ Air du Temps – Nina Ricci

Canta? Só quando estou sozinha.

Toma banho todos os dias? Ora essa?!…

Gostava da escola? Sim.

Acredita em si mesmo? Lá no fundo.

Tem fixação com a saúde? Tenho fixações. Pela saúde, não.

Dá-se bem com os seus pais? Dou e dava.

Gosta de tempestades? Se estiver em casa.

Já lhe bateram? Ainda me lembro, sim.

Já bateu em alguém? Palmadas nas mãos e no rabo, conta?

Número de filhos: 3

Como gostaria de morrer? Talvez daqui a uns anos consiga responder a isso.

Piercings? Não.

Tatuagens: Uma, um dia destes.

Quantas vezes o seu nome apareceu nos jornais? Umas 3 ou 4, num só jornal.

Cicatrizes no corpo: Algumas. Pequenas.

De que se arrepende de ter feito: Voltava a fazer tudo igual.

Cor favorita? Branco

Disciplina favorita na Escola: Português

Um lugar onde nunca esteve e gostaria de estar: Só um?

Matutina ou nocturna: Aguento-me acordada até tarde.

Os astronautas pousaram mesmo na Lua ou foi tudo uma grande mentira? É verdade, é.

O que tem nos bolsos? A chave do carro.

Daqui a dez anos imagina-se: Com mais 10 vividos.

Falha a luz, o que faz para se manter aquecida, contente e entretida? Durmo. Eu lá sou capaz de funcionar sem electricidade…

O que jamais comeria? Jamais? E se me enganassem, como eu engano a minha filha mais nova? Pois… podiam sempre dizer-me para eu provar um pitéu qualquer e espetarem-me com túbaros à frente.

Qual seria a sua última refeição se você estivesse no corredor da morte? Não me parece que conseguisse comer alguma coisa, mas bebia. 1 ou 2 litros de um verde qualquer gelado, para ver se entrava num coma alcoólico antes da execução.

Qual sua lembrança mais antiga? A de um sonho, daqueles que sonhamos a dormir.

O que queria ser quando era criança? Mesmo, mesmo, mesmo, criança? Miss Portugal. Depois, quando me explicaram que não era profissão, comecei a querer ser arquitecta.

Se pudesse entrar num lugar onde não tivesse permissão e ninguém descobrisse, qual seria? No pensamento de algumas pessoas.

Quando era criança, quais eram o seu brinquedo, livro, programa de TV e personagem de desenho animado favorito? Dessas coisas todas, só me lembro de um rádio feito em madeira e caricas e dos livros da Anita e do Zé Carioca. Chega?

Primeira coisa que nota no sexo oposto? Tronco. Com os membros superiores incluídos. Deve ser para adivinhar um abraço.

Você consegue tocar seu nariz com sua língua? Alguém consegue?

Qual a primeira coisa em que você pensa quando acorda pela manhã? Estou atrasada.

Como é o seu wallpaper? O mais azul possível.

No último mês:

Bebeu álcool? Não.

Fumou? Sim

Usou drogas? Legais.

Fez compras? Lá teve que ser.

Comeu um pacote inteiro de bolachas? Não gosto de bolachas.

Comeu sushi? Também não

Chorou? Não

Fez biscoitos caseiros? Pensar fazê-los, foi o mais próximo que estive.

Pintou o cabelo? Não, mas já devia ter pintado.

Roubou? Nada.

...................................................

É que isto nem pontos dá. Sim, daqueles que nos balizam em conceitos normalizados :)

sexta-feira, novembro 03, 2006

7 anos

vera recortada.JPG
foto Rui

Teimosa como ninguém
Sozinha e determinada
Nasceu há 7 anos
Esta menina mimada.

Tem um feitio danado
Esta bebézona.
Tão depressa é um palhaço
Como uma velha rezingona.

Alta, esbelta, quase loira
Maneia-se, elegante.
Tal e qual uma princesa
No seu porte galante.

Dança, linda!

Dança!
Rodopia e ondula airosa!
És uma borboleta colorida.
Fantástica.
Encantada.
Vistosa.

quarta-feira, novembro 01, 2006

One

Já há uns tempos que queria colocar esta música no blog. Problemas com o alojamento que usava, me tinham impedido até agora. Hoje encontrei um novo alojamento e descobri nele mesmo, o código Html para os videoclips. Vai daí, não é só a música que coloco, é também a imagem.

Eu sei a quem esta música vai agradar. Não é
miúda?
E julgo saber também, que o meu impulsionador nestas andanças da blogosfera, esboçará um sorriso quando vir o videoclip.

A propósito, e ainda por meio do novo alojamento, troquei a música de Shakira que tem estado aqui colocada, pela que realmente queria, ou seja, a mesma (Underneath Your Clothes) mas em versão ao vivo.

Tudo arrumadinho, portanto.

..................................

One - U2 and Mary J Blidge

Is it getting better?
Or do you feel the same?
Will it make it easier on you now?
You got someone to blame
You say

One love
One life
When it's one need
In the night
One love
We get to share it
Leaves you baby if you
Don't care for it

Did I disappoint you?
Or leave a bad taste in your mouth?
You act like you never had love
And you want me to go without
Well it's

Too late
Tonight
To drag the past out into the light
We're one, but we're not the same
We get to
Carry each other
Carry each other
One

Have you come here for forgiveness?
Have you come to raise the dead?
Have you come here to play Jesus?
To the lepers in your head

Did I ask too much?
More than a lot.
You gave me nothing,
Now it's all I got
We're one
But we're not the same
Well we
Hurt each other
Then we do it again
You say
Love is a temple
Love a higher law
Love is a temple
Love the higher law
You ask me to enter
But then you make me crawl
And I can't be holding on
To what you got
When all you got is hurt

One love
One blood
One life
You got to do what you should
One life
With each other
Sisters
Brothers
One life
But we're not the same
We get to
Carry each other
Carry each other

One

terça-feira, outubro 31, 2006

Bancos de jardim II





















foto aq
Arripiado 2006

domingo, outubro 29, 2006

O culto da dança

Posted by Picasa foto daqui

Andava com esta atravessada. Aproveito hoje, que me apetece escrever e “mando para fora”. Tenho-a num cd que oiço pouco. Há uns dias atrás foi o cd que escolhi para ouvir. É a última música. E quando a ouvi, pareceu-me, sem grande certeza, reconhecê-la. À medida que a ouvia mais vezes foram desaparecendo as dúvidas e hoje estou mesmo, convencida que era uma delas. Tentei partilhá-la com alguém. Alguém que tivesse memória e interesse para a ouvir. Acudiste-me
tu (obrigada). Mesmo assim, a imensidão de recordações que ela arrasta, mereceu-me a sua reconversão para palavras. É a esta música que me refiro (a que eu tenho é uma versão de Michael Bolton, por isso, não a reconheci logo):

A Whiter Shade of Pale – Procol Harum
(link para ouvir)

Nasci e fui criada em Moçambique, num bairro dos arredores de Lourenço Marques, onde havia um clube, de seu nome, Clube Recreativo Bairristas de Mavalane (adoro verbalizar esta última palavra). Uma organização de carácter associativo com grande expressão na comunidade. Todos os fins-de-semana havia baile, animado com grupos musicais. Lembro-me particularmente, do Conjunto Feminino composto pois, por 4 raparigas. A vocalista tinha os cabelos compridos loiros e uma deficiência qualquer numa perna. Era nela que se perdiam os meus olhos, deslumbrada, quando não podia dançar.

Não falhava a um baile. Não falhava a um filme. Não falhava a uma festa. O meu pai fazia parte da direcção do clube e este, era a nossa segunda casa. O meu irmão mais novo livrou-se por pouco, de nascer no bar.

Ora, eu escrevi ali atrás “quando não podia dançar” e é aqui que torno a pegar. Adorava dançar. Quase sempre com meninas ou sozinha, raramente com meninos, mas desde que chegava até que saía, só não dançada músicas como esta. Esta e outras, igualmente serenas, eram as danças dos namorados. E era do decorrer delas, que eu me encostava à espera que acabassem para eu poder voltar a dançar. Era o momento da observação. Observava os pares de dançarinos, alguns perfeitamente engrenados, como se em vez de 4, tivessem apenas, 2 pernas. Observava os músicos. Tinha nessa altura, menos de 11 anos.

O culto da dança ficou-me desses tempos. Adoro dançar. Adoro dançar.

Vai longe, muito longe, a sensação de sintonia com um parceiro de dança. E é dessa que eu tenho saudades. É essa que eu queria ensaiar de novo, quase com carácter de urgência, de mais de 20 anos de atraso.

Já foi depois, em Portugal que encontrei parceiros à minha medida. Só me recordo de 2. O primeiro, encontrei-o num clube em Queluz, onde ia com a minha família. Um desconhecido qualquer (alguns anos mais velho que eu, que nessa altura, eu não devia ter mais de 13 ou 14 anos) que depois de me observar a dançar com os meus primos, resolveu experimentar-me. E fez muito bem, porque os nossos pés pareciam ter combinado à nossa revelia, o sítio certo para poisar no chão.

O segundo, o Zé Espanhol, dançava com ele num clube na Calçada do Galvão, em Lisboa. Solidó, assim se chamava o clube. Dançar com este era quase formar uma espécie de vórtice, porque se criava em nosso redor um espaço vazio circundado, que ninguém ousava invadir. Tínhamos os dois, menos de 17 anos.

É curioso observar agora, à distância do tempo, que quando nós, que gostamos muito de dançar, encontramos companheiros de dança à nossa medida, serenamos a procura e não queremos experimentar dançar com mais ninguém. É curioso observar agora, à distância do tempo, que com nenhum destes meus companheiros de dança mantive uma relação de afectividade. E com aqueles que mantive, nunca soube dançar.

Danço. Dancei sempre ao longo da minha vida. Depois da fase dos clubes, as discotecas. Intercaladas, as festas privadas, familiares. Hoje e sempre, na minha casa, sozinha ou com os meus filhos. Companheiros como o Rapaz de Queluz e o Zé Espanhol, nunca mais encontrei. Já lá vão, repito, quase 30 anos.

Essa espécie de cumplicidade quase inata, pela ausência de esforço que a caracterizava, consigo recordá-la frequentemente. Consigo revivê-la quando danço com os meus filhos pequenos, de pernas enlaçadas na minha cintura. E é a expressão de felicidade que lhes encontro no rosto, enquanto rodopiamos, que me faz entender porque é que eu não me esqueci ainda, do Rapaz de Queluz e do Zé Espanhol. A partilha, a cumplicidade, a um nível quase sublime, de um momento feliz.

Definitivamente, há coisas que nos sabem mil vezes melhor, quando as vivemos no reino da cumplicidade. Esse reino, onde nem sempre, temos o privilégio de estar.

sábado, outubro 28, 2006

Tancos



















foto aq
Tancos 2006

segunda-feira, outubro 23, 2006

Sonho

Não me lembro bem, há quanto tempo não a via. Talvez, mais de 7 anos.
Vi-a esta noite. Toda desembaraçada.
Adorei.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Bancos de Jardim




























Foto aq
Ribatejo 2006

segunda-feira, outubro 16, 2006

9 anos

Posted by Picasa





















foto aq (editada)

Plantei há uns tempos
À frente da minha janela
Uma flor delicada
Pequena, frágil e bela

Em celestial culto
Todos os dias, abri a janela
E com afecto inquantificável
Todos os dias, cuidei dela

A minha pequena flor cresceu
Hoje é uma linda menina
E do lado de cá da janela
Se tornou minha amiguinha

De olhar diferente
Que tudo consegue ver
Esta invulgar menina
Ensina-me a viver

Não há palavras nem rimas
Nem poesia ou prosa
Que consigam expressar
Esta estima, tão poderosa.

Apenas, uma tentativa
Um registo assente
Do amor que te tenho
Sempre, sempre e… sempre.

domingo, outubro 15, 2006

Iluminação





















foto aq
Seixal 2006

quinta-feira, outubro 12, 2006

Por isso vamos ficando




















foto aq
Ribatejo 2006

Entre outras coisas:
Anda de bicicleta na rua, até anoitecer.
Os amigos vêm cá a casa, quando querem.
Toda a gente o conhece e estima.
Vê o pai diáriamente.
Entre a nossa casa e a dele (do pai) detém-se com os cavalos.
Por isso, vamos ficando pelo Ribatejo.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Escrever sobre pregos

(continuo nas provocações)

Era uma vez uma caixa de ferramentas, praticamente abandonada, numa despensa de uma casa onde vivia só uma mulher (por isso mesmo, “praticamente abandonada”).

Pregos, parafusos, porcas, chaves de fendas, martelos e outras ferramentas, conviviam harmoniosamente, dentro da caixa de ferramentas, praticamente abandonada. Os meses a fio, uns atrás dos outros, em que não viam a luz do dia, ou mesmo das lâmpadas, não interferiam no estado de alma deles (sim, porque os pregos, parafusos, chaves de fendas e afins, também têm alma, nós é que não sabemos) que são imunes à claridade e à escuridão.

Bom… são imunes, não é bem assim. Quase todos, são imunes, porque até no mundo das caixas de ferramentas, o conceito de “todos iguais, todos diferentes”, existe. Havia um prego já usado (na verdade, uma prega… que os pregos e parafusos também têm sexo, nós é que não sabemos) meio torto, com a cabeça achatada, que só dava sinal de vida, quando a caixa de ferramentas era aberta. Com efeito, a prega ficava imóvel durante todo o tempo em que a caixa de ferramentas não se abria. Todos os seus outros colegas concordavam numa teoria sobre o comportamento da prega: Entendiam que como já tinha sido usada, não se conformava com aquela espécie de inutilidade que encontrava dentro da caixa de ferramentas.

De cada vez que a caixa de ferramentas era aberta, normalmente para ser acrescida de mais pregos, parafusos, porcas ou chaves de fendas (que as mulheres nunca sabem o que têm dentro das caixas de ferramentas e por isso de cada vez que precisam de alguma coisa, compram mais)… de cada vez que a caixa de ferramentas era aberta, dizia eu, a prega saltava como se de uma mola se tratasse e esbracejava (que os pregos também têm braços, nós é que não os vemos) ridiculamente, na esperança de dar nas vistas e por isso mesmo, ser usada. Nada. Voltava por isso, à imobilidade total, enquanto todos os seus colegas, afáveis e cordiais, davam as boas vindas aos novos pregos, parafusos… fosse o que fosse.

Da última vez que a caixa de ferramentas tinha sido aberta, fora para albergar um prego sem cabeça galvanizado. Grande, belo e espadaúdo, o prego galvanizado, fez furor entre as pregas, chegando mesmo a enciumar o martelo mais velho, líder da caixa de ferramentas. Com um jogo de cintura do caraças, sedutor até dizer chega, depressa deu a volta ao martelo e ficaram grandes amigos. Aliás, não foi só ao martelo velho, foi mesmo, a todos quantos estavam dentro da caixa de ferramentas e, verdade se diga, até mesmo à caixa.

(Desilude-te miúda, que não vai haver romance nenhum entre o prego galvanizado e a prega de cabeça achatada, mas, afinal, uma história de encorajamento e solidariedade).

É verdade, o sedutor prego galvanizado, alto e espadaúdo, como já disse, seduzindo tudo e todos, dentro daquela caixa, tentou claro, também, cativar a prega de cabeça achatada. Inteligente, que também era (que eles também têm raciocínio, nós é que não sabemos) avançou a matar. A prega de cabeça achatada seria a única que poderia ter histórias interessantes para contar, visto que já tinha sido usada. Nada como pôr uma fêmea (mesmo que prega) a contar histórias sobre si própria. Nunca mais se calam. Mas, não. A prega de cabeça achatada, não abria a boca (que eles também comunicam, nós é que não percebemos) nem se mexia. Sem reacção, absolutamente nenhuma. Claro, que para qualquer um de nós, humanos, este tipo de inércia, aliás qualquer tipo de inércia, chega a ser enervante. Mas, no mundo das ferramentas é diferente. Todos se preocupavam com a prega de cabeça achatada. Todos se esforçavam por compreendê-la.

O prego galvanizado, alto e espadaúdo (já disse?) consolidou a ideia que de facto, aquela prega torta e de cabeça achatada, tinha mesmo que apanhar a luz do dia ou das lâmpadas e sair urgentemente daquela caixa, até mesmo, porque estava a estragar (só um bocadinho) o ambiente harmonioso de que todos se orgulhavam. E caramba, se tanto queria sair, vontade lhe fosse feita. Mais provido de neurónios, quiçá por ser um prego de última geração, depressa arquitectou um plano para ajudar a prega de cabeça achatada a ser feliz fora da caixa.

Da vez seguinte que a caixa de abriu, não foi apanhado desprevenido, e instantaneamente (que se lixe o plano de fuga, que eu na verdade, não tinha ainda pensado em nenhum, que esta merda de escrever sobre pregos, é difícil como o caraças) agarrou no pé da prega de cabeça achatada (que os pregos só têm um pé, mas isso, já a gente sabe) e carago!... com toda a força, mandou-a cá para fora, que a prega, até atirou um grito.

- Fonix!... (que as senhoras, mesmo pregas, não dizem “foda-se”).

Todos, dentro da caixa de ferramentas, ficaram expectantes e em silêncio, à espera de perceber o que se passava a seguir. Mas, tal como os humanos não entendem a linguagem dos pregos e afins, estes também não percebem a linguagem dos primeiros. Lá ouvir sons (é claro que também ouvem… senão, como se entendiam uns aos outros?... nós é que não sabemos, pois…) ouviram, não entenderam foi, nada. O melhor que tinham a fazer, após se ter fechado a caixa de ferramentas, era concluir, que a prega torta, de cabeça achatada estava mais feliz que nunca. De consciência tranquila, o prego galvanizado belo, alto e espadaúdo (eu sei que já disse) e os seus companheiros, voltaram à sua convivência harmoniosa, agora sem a prega de cabeça achatada, de quem afinal, até sentiram falta.

(E agora... como é que eu termino isto?)

Bom, a mulher que vivia na casa que tinha uma despensa, onde guardava a caixa de ferramentas (lembram-se dela?) ao ver a prega torta, de cabeça achatada a saltar da caixa de ferramentas, apanhou um cagaço do caraças, claro. Fechou imediatamente a caixa, não fossem de lá saltar mais ferramentas e outras coisas. Pegou na prega e exclamou:

- Ah!... afinal, estavas aqui.

Dirigiu-se ao corredor, enfiou a prega num buraco que existia na parede, descalçou um sapato e deu-lhe com o salto. Depois, tirou de trás de uma porta, um pequeno quadro, soprou algum pó que nele houvesse e pendurou-o na prega. Deu 2 passos atrás e observou:

- Porreiro!

Foi exactamente, a exclamação que a prega, fez também (digo eu).

Bom… a história podia ter um fim mais entusiasmante, mas eu tenho que ir buscar o meu filho à escola. E o que interessa é que consegui escrever sobre pregos, que era uma curiosidade que tinha por satisfazer.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Sem título

Porque não sei o que dizer. Tão-pouco o que pensar.
Só sei o que sinto.


foto daqui

Damien Rice - Amie
(para ouvir)

Nothing unusual, nothing strange
Close to nothing at all
The same old scenario, the same old rain
And there’s no explosions here
Then something unusual, something strange
Comes from nothing at all
I saw a spaceship fly by your window
Did you see it disappear?

Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me
Nothing unusual, nothing’s changed
Just a little older that’s all
You know when you’ve found it,
There’s something I’ve learned
‘Cause you feel it when they take it away

Something unusual, something strange
Comes from nothing at all
But I’m not a miracle
And you’re not a saint
Just another soldier
On the road to nowhere

Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me

And Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me

quarta-feira, setembro 27, 2006

Coisas diferentes


Foto aq

Com uma expressão inocente e intrigada, questiona-me:

“Oh, mãe!... quando eu pergunto ao p. assim:

- Gostas mais de bolo de chocolate ou de bolo de laranja?

Ou então, assim:

- Gostas mais de carne ou de peixe?

Ele responde sempre que são duas coisas diferentes.
Então?!... mas, por serem duas coisas diferentes, é que se pode escolher, não achas?”

Soltou-se-me uma gargalhada inesperada e sonora. E, claro, tive que lhe dar toda a razão, depois de lhe explicar que há coisas que não são comparáveis. Ao que ela argumentou que sabia, mas que estas, eram. São.

Definitivamente, este p. menospreza a cabecinha desta menina.

domingo, setembro 24, 2006

Dúvidas

Haverá homem ou mulher, exceptuando eu (e outra mulher que provavelmente, vai responder a esta pergunta) que considere, ser possível uma mulher encontrar um território seu, debaixo das roupas de um homem, sem conectar directa e exclusivamente, esse território a sexo?

A pergunta ocorre-me depois de uma conversa justamente, com um homem, a propósito da letra da música que tenho neste momento, no blog. Shakira, pois. Underneath Your Clothes.

sábado, setembro 23, 2006

O melhor mundo


foto Vera

Abria a porta e recuava, deixando-os entrar a todos, à minha frente. Nunca fui de muitas regras; uma meia dúzia no máximo, é quanto basta. Fechava a porta atrás de mim e depois dos primeiros preparativos, sempre os mesmos, sentava-me de um lado da sala e observava-os demoradamente. Todos os dias. Eram os meus melhores momentos. Com um sentido patrimonial, semelhante aos primeiros minutos imediatamente, após os meus filhos adormecerem ou os últimos, imediatamente, antes de eles acordarem.

Porta dentro, determinados, procuravam o que lhes interessava, principalmente, a companhia. Formavam-se logo, grupinhos. Animadamente, trocavam as primeiras impressões. As meninas, sempre mais eloquentes, expressavam-se em abraços, mãos tocadas, segredinhos, sorrisos e risos abertos. Os meninos, menos fogosos, reuniam-se também, sobretudo à volta dos computadores e dos jogos.

Eu, verificava que os meninos que ontem, se tinham zangado, hoje, continuavam amigos. E que ninguém se tinha esquecido de trazer um qualquer objecto que tinha de véspera, garantido levar. Que os acordos estabelecidos entre eles, se mantinham de pé. E que as poucas regras que eu tinha estabelecido de princípio, eram cumpridas escrupulosamente.

Depois, começavam devagarinho, a misturar-se. Primeiro, os sapatos, atirados para o mesmo canto, a seguir, meninos e meninas, vozes, gargalhadas, interesses e vontades. Até braços e pernas. Era quando davam por mim e eu tinha que me levantar e organiza-los de novo. Acabava o meu tempo.

O melhor mundo. O melhor mundo é mesmo, o das crianças. Onde olhamos e vemos tudo, porque tudo está à nossa vista.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Tudo a condizer

Num dia em que reinou o amarelado, os Pastéis de Belém e no final, os Jerónimos com esta cor.
Destoou a esplanada, luminosa e fresca. Ou talvez, não.


foto aq
Mosteiro dos Jerónimos 2006

segunda-feira, setembro 18, 2006

À procura da cabine de som

A ela, encontrei-a... no meio de destroços.








fotos aq
Feira Popular de Lisboa 2006

sexta-feira, setembro 15, 2006

De regresso

Com menos dúvidas e mais cor.

Foto aq
Seixal 2006

segunda-feira, agosto 21, 2006

Plano B

- Epá!... acho que estamos perdidas.

- Humhum!...

- É que não se vê viv’alma a quem perguntar o caminho.

- Humhum!...

- Acho que temos que passar ao plano B.

- Temos algum, é?

- Temos que ter, não?

- E é qual?

- Sei lá!... vamos andando em frente.

- Ok. Parece-me bem... termos caminho pela frente.

terça-feira, agosto 15, 2006

Memorando I

Sem música.
Sem televisão.
Sem família.
Sem amigos.
Sem MSN.
Num mundo surdo e mudo.
Só assim, é possível encontrar-me comigo própria.
Estamos juntas, finalmente.

Memorando I

Quando se tem filhos pequenos a cargo, não se podem fazer experiências de vida. Tentar desta maneira e… falhando, tentar de outra.
Prioritário, urgente, é mesmo, perceber o que é melhor para eles. Ter coragem e sabedoria para executar. E não falhar.
Não é isto que eu tenho feito.

Continuamos juntas.

…………………………………………….

Eu torno a pedir desculpa aos meus leitores.
Este blog tornou-se o único espaço onde me sinto organizada.
A ele recorro sim, para conservar registos que me organizem o quotidiano.
Raramente, tenho escrito para ser lida.
No entanto, os comentários aqui deixados, as visitas de que me dou conta, fazem-me saber acompanhada.
E isso é bom.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Encontro

Não me lembro de alguma vez, ter sentido tanta dificuldade a marcar um encontro...

comigo própria.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Perto

Muito perto.
Más lembranças. E uma sensação de aperto.

Começou assim. Antes das 14.00 horas.



Às 18.30 horas, ainda o aparato era este, em pleno centro da aldeia.

fotos aq

quinta-feira, agosto 10, 2006

Pessoas estragadas


foto sombra

Uma das coisas mais bonitas de se ver há-de ser a recuperação de uma pessoa.
Digo eu, que ainda não acompanhei de perto, nenhuma recuperação.
Mas que as há, há.

terça-feira, agosto 08, 2006

Shakira

Shakira? - perguntei, contrariada.

O cd foi comprado a muito custo. Por vontade do meu filho.
Eu deitava o olho para outro.
Vacilei sériamente. Mas, acabei por lhe fazer a vontade.
E... surpresas das surpresas... adorei o raio do cd.

Live & off the record

Underneath Your Clothes

You're a song
Written by the hands of God
Don't get me wrong 'cuz
This might sound to you a bit odd
But you own the place
Where all my thoughts go hiding
And right under your clothes
Is where I find them

Underneath your clothes
There's an endless story
There's the man I chose
There's my territory
And all the things I deserve
For being such a good girl honey

Because of you
I forgot the smart ways to lie
Because of you
I'm running out of reasons to cry
When the friends are gone
When the parties' over
We will still belong to each other

Underneath your clothes
There's an endless story
There's the man I chose
There's my territory
And all the things I deserve
For being such a good girl honey

Underneath your clothes
There's an endless story
There's the man I chose
There's my territory
And all the things I deserve
For being such a good girl honey

I love you more than all that's on the planet
Movin' talkin' walkin' breathing
You know it's true
Oh baby it's so funny
You almost don't believe it
As every voice is hanging from the silence
Lamps are hanging from the ceiling
Like an old lady tied to her manners
I'm tied up to this feeling

Underneath your clothes
There's an endless story
There's the man I chose
There's my territory
And all the things I deserve
For being such a good girl honey

domingo, agosto 06, 2006

Pesadelo


foto aq

Transparências

Até onde nos podem levar.
Muito longe daquilo que habitualmente, somos.
Ou julgamos ser.
(desculpa, miúda)


foto aq

terça-feira, agosto 01, 2006

Iniciação

(confesso que me descabelo toda)


foto aq

foto riacho

segunda-feira, julho 31, 2006

sexta-feira, julho 28, 2006

27 de Julho

Depois de um dia quase frenético.
Repleto de quase surpresas. Boas. Menos boas.
Dos contactos vitalícios. Esperados. Sem ilusões...
O encontro comigo. Em final de jornada.
Sozinha. Tranquila. Introspectiva.
É dela que me lembro.
A mulher com maior sentido de justiça que alguma vez conheci.
A minha mãe.
De pouco lhe valeu.
Mas é o exemplo dela que tento seguir. Que tento ensinar.
Obstinadamente.
Afinal, a minha fé.

segunda-feira, julho 24, 2006

Riacho

Doce e transparente. Confiável, portanto.
Mais de 2 anos depois, foi afinal, aqui que a encontrei.



fotos aq
Praia da Areia Branca - Lourinhã

quinta-feira, julho 06, 2006

Vai



Em gesto repetido
Em mil estilhaços
Te soprei da minha mão aberta
Vezes sem conta.
E como se meus dedos, fosses
Ficavas.
Teimavas.

Reconheço-te o cheiro.
O olhar angustiado.
O tom de respiração.
A urgência de pele tocada.
Num último grito por socorro
Desesperadas
As palavras.

Quase te deito a mão.
A cerro, novamente
Resignada.
Valha-me o vento
De quem fiz meu aliado.
Valha-me tudo
Ou quase nada.

Esta vontade inconfessável
De quase te querer
De não poder
Rouba-me a paz.
Vacila-me o gesto.

Encolho-me.

Sussurro:
Vai!
Vai!

Repito:
Não sou capaz!


sábado, julho 01, 2006

Saltar a fogueira


foto aq

Apenas, porque me quero lembrar destes momentos.

quarta-feira, junho 21, 2006

Mais vale cair em graça do que ser engraçado

Não consigo convencer um miúdo inteligente de 13 anos, que não é possível tirar algum proveito, da tanta porcaria que faz, nem do seu comportamento tão rebelde. Na verdade, não me tem sequer, permitido abordar o assunto, quanto mais convencê-lo do que quer que seja.

Não sou mais inteligente que ele. Sou apenas, mais experiente. Valha-me essa experiência, para tornar possível demolir o muro que acabou de se construir entre nós. Valha-me o carinho que lhe tenho. Valha-me a paciência.

...............................................

13 anos. Os meus filhos ainda nem chegaram lá. Oxalá, não se construam grandes muros. Não sou nada boa a trepar. Tão-pouco a demolir.

sábado, junho 17, 2006

Prioridades


Caramba!... que prioridades se podem estabelecer, quando num leque de tarefas a realizar, todas têm carácter de urgência? Oriento-me por que ordem? Valor? Prazo? Interesse?

Que jeito me dava nos últimos tempos, um programa onde pudesse introduzir os dados das tarefas, suas características e no fim, reduzir tudo à tecla “enter”.

Isto de pensar, demora muito tempo. Acabo sempre por resolver as coisas da mesma maneira: vai tudo à frente.

Lá precisar de me organizar, preciso. Falta-me é tempo e o tal programa… por carência de melhor capacidade.

quarta-feira, junho 07, 2006

Pontapé certeiro

Quando numa situação de conflito de interesses, quer sejam próprios ou relativos a terceiros, uma das partes consegue apenas “espernear”, das duas, uma:

- Ou a outra parte é imbatível.
- Ou a parte que apenas esperneia é permanente ou temporariamente, burra.

Opto pela hipótese de “temporariamente burra”, na esperança de haver ainda, oportunidade e lugar para um pontapé certeiro.

Sempre a aprender.

…………………..

Eu sei que alguns dos textos que aqui coloco, não traduzem coisa alguma a quem os lê. São apenas registos que expresso, com o propósito de me organizar… organizar mesmo, no sentido prático da palavra.

quarta-feira, maio 31, 2006

Pesadelo, premeditação, coincidência ou termo de garantia


Esta manhã acordei com o som da minha voz arrastada: tentava expulsar de minha casa uma pessoa que nunca cá deixei entrar. Não estranhei o disparate de sonho. O que estranhei foi lembrar-me dele.

Esta tarde, expulsei de facto, uma pessoa. Não, de minha casa. E não o mesmo protagonista. Mas, expulsei.

Esta noite, agorinha mesmo, relacionei as duas coisas e não me agradou nada.

Abalou-me a ideia que tenho vindo a formar ao longo da vida, em relação aos meus sonhos (agradáveis ou não): Nunca aconteceu nada que tivesse previamente sonhado, logo, podia estar descansada, podia sonhar descansada. Mais… era uma espécie de garantia e alívio, sonhar com alguma coisa desagradável ou estranha: seria sempre inconsequente.

Devia ter adormecido antes de “agorinha mesmo”, antes de relacionar as duas coisas. Certamente, amanhã já não me lembrava nem de uma, nem de outra.

segunda-feira, maio 29, 2006

Toca o sino


Não estou certa, mas há perto de 1 ano que na igreja começaram as obras. Começaram, pararam, recomeçaram, tornaram a parar… Aquele que era um dos pontos de maior movimento nesta aldeia que me acolheu, tornou-se um local moribundo, apagado. Até o sino deixou de me fazer companhia.

No princípio da semana passada, tomei conhecimento que ia reinaugurar no dia de ontem. Havia quase tudo por fazer. Parecia impossível preparar aquela igreja para o dia de ontem. E muitos eram aqueles que se faziam ouvir com essa opinião.

A azáfama foi grande, ao longo de toda a semana, principalmente na 5ª Feira, que foi feriado. Era ver os homens a acartar baldes de cimento para as traseiras da igreja, as mulheres equipadas de vassoura e balde, as carpetes a apanhar sol, as árvores a serem plantadas à última hora, enfim… um corre-corre fora do comum.

Mas no dia de ontem, a igreja reinaugurou mesmo. Com direito a procissão e tudo. E o sino, já toca de novo.



fotos aq

Calha-me agora dizer que me dei conta da capacidade do padre ao conseguir mobilizar tanta gente e da mesma gente que com este tórrido calor ribatejano (que a mim só me deixa reagir o corpo, à custa de banhos de água fria) foi capaz de se tornar imparável, incansável. Essa gente a que me refiro eram homens (uns 5 ou 6) que estavam a ser pagos pelo seu trabalho, e eram sobretudo, mulheres (muitas) que não receberam dinheiro algum pelo seu préstimo.

Da casa do Senhor, me desviei há muito tempo. Hoje acredito na generosidade dos homens (e na falta dela). E sim, encontro mais facilmente essa característica, nas mulheres.

Comovi-me quando ouvi o sino tocar e sobretudo, senti-me orgulhosa por se ter conseguido reinaugurar a igreja no dia de ontem (apesar de eu não ter dado o mínimo contributo). Calaram-se pois, os que desconfiaram ser possível. Os que não acreditaram na força excepcional da convicção, da bondade. Mas mesmo assim, dificilmente, admitirão o poder da generosidade.