quinta-feira, novembro 22, 2007

Bacoradas

- Ò, mãe?! Sabias que o Wrestling em Espanha é falado em espanhol? – Pergunta-me o meu filho admirado.

- Falado, não. É dobrado, traduzido – Respondi-lhe.

- Ai é? Não são mesmo, as vozes deles, é? – Pergunta ainda mais, admirado.

- Não. Mas os espanhóis fazem assim, dobram os programas todos de língua estrangeira. – Respondi-lhe, muito segura.

- Eiah, g’anda pinta! – (dita a própria lei do menor esforço).

Demorou-se pensativo uns segundos e faz saltar da boca a pergunta que faltava: Porquê?

Lá se foi a minha segurança toda – Sei lá – Respondi-lhe – Deve ser porque têm um índice de analfabetismo muito grande, digo eu.

E pronto, lá vou eu ao Google ver se descubro porque é que os espanhóis dobram os programas de televisão e os filmes e tudo o que não é falado em espanhol, a ver se não mandei uma bacorada daquelas, porque é àquilo que me cheira.

sábado, novembro 10, 2007

Penitência

Hoje, há poucos minutos atrás, assumi pela primeira vez (que me lembre) que era cobarde, ou seja, que tinha agido de determinada maneira por uma questão de falta de coragem. Assim assumi, expressando-me por palavras ditas, a quem me pediu justificações. Óbviamente, já o tinha feito em consciência.

Soou-me tão mal, ouvir-me falar. Soou-me muito pior do que quando a minha consciência se revelou. Soou-me tão mal que me apetece penitenciar-me.

Estava longe de pensar que actualizava este blog com uma penitência. Assim como estava longe de pensar que tal penitência fosse tão relevante que justificasse a actualização de um blog.

Este blog não tem pretensões nenhumas, nem de opinião, nem de informação, nem outra qualquer. Nem sei se alguma vez, teve. Teimo em mantê-lo por duas razões: a primeira não interessa nada, a segunda é por uma questão de organização das minhas próprias ideias. É um desafio a que me obrigo com o propósito de manter a minha capacidade de expressão através da escrita.

Fico triste por me saber cobarde. No entanto, consolo-me que tal sentimento tenha dado origem a este post.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Liberdade


imagem daqui

Não é novidade nenhuma para mim. Aliás este blog nunca foi farto em novidades. É antes, mais um registo, daqueles que me são urgentes. E já fico muito satisfeita que alguma coisa seja urgente registar aqui ao final de 2 meses de inactividade. Tomo portanto este laivo de vida como um sinal positivo de reconciliação com a minha capacidade de expressão básica. É exactamente, sobre elementos básicos que se fundamenta a minha ideia e a vontade de a traduzir em palavras escritas.

Já tinha confessado aqui em tempos, que me emociono sempre com a cena de um filme que vejo e revejo com frequência por ordem dos meus filhos. O voo do hipogrifo sobre o lago no Harry Potter – O Prisioneiro de Azkaban. Quando digo emocionar, é emocionar mesmo, com pêlos dos braços a levantar, nariz a formigar e lágrimas a chegar aos olhos. Claro que é uma situação patética de que nem sequer me orgulho, mas é um facto por mim, pelos meus filhos e alguns amigos, comprovado. Curiosamente, ninguém aproveitou a situação até ao momento, para gracejar.

Ontem, ao telefone com uma amiga, numa daquelas conversas em que se gastam palavras até ao limite máximo da nossa capacidade de resistir ao sono, atento pela primeira vez a uma pergunta repetida seguramente, 3 ou 4 vezes consecutivas: Tas aí? Tinha-me alheado da conversa. Atrás do meu olhar, tinham ido todos os meus sentidos para o ecrã da televisão. Um grande plano de um voo de morcego num imenso céu que nem sequer era azul, tinha concorrido e ganho ao interesse nas palavras que se trocavam.

Ao longo deste tempo tenho descodificado este fascínio que me suscitam estas cenas de voo sempre com grandes asas e um céu imenso e cheguei a uma conclusão que em nada me surpreende e que tal como disse ao princípio, representa afinal, um elemento básico de espaço e fertilidade.

Liberdade.


domingo, junho 03, 2007

Gente Boa

Saltaram-me as lágrimas quando me deram a notícia, ontem, ao final do dia:

O Nelson morreu.

Eu sei que o sofrimento tinha que acabar. Eu sei. Mas, porra!... que tristeza tão grande!... tão difícil de canalizar, ordenar.

Não sou capaz de contribuir com coisa alguma para o consolo da sua família. Não sei sequer, se sou capaz de me aproximar.

Só sei que perdemos todos, um homem bom.


domingo, maio 13, 2007

Ausência, mais uma

Às vezes, quando me detenho a observá-los nos seus movimentos ou quietude, tenho a nítida sensação que retenho registos na memória que me acompanharão daí para a frente, tal como da primeira vez em que os observei a dormir nesta casa. Estes momentos têm sido a minha principal fonte de vida.

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Não me consigo arrepender de nada que tenha feito ou deixado de fazer, de nenhuma opção que tomei. Contudo, encontro-me numa fase de vida que me impele para uma espécie de isolamento, uma absoluta concentração. Este blog vai continuar inactivo como tem estado. Sei que decepciono os meus leitores habituais. Tento redimir-me com a garantia de que voltarei um dia, mais activa. Beijinhos a todos.

domingo, março 25, 2007

Uma lição de humildade

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foto aq (editada)

Não tens que pedir desculpa por ter sido a melhor. Não foste sequer tu, quem promoveu a competição. Apenas estás inserida por iniciativa alheia, no grupo. E, mais importante do que teres ganho as melhores posições, foi a humildade com que o fizeste.

É sobretudo, disso que me orgulho.

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Há contextos da nossa vida, períodos, fases, em que nos sentimos, mais ou menos satisfeitos, integrados, confortáveis. Dou-me conta que atravesso uma fase de desconforto, sobretudo, no que diz respeito à minha rede de relacionamentos, os relacionamentos do dia-a-dia. Está longe de mim, à distância de muitos km(s), a família e alguns amigos, daqueles amigos de uma vida inteira.

O desconforto a que me refiro é causado por uma abismal diferença de valores, de princípios, em suma, de referências orientadoras do nosso comportamento. É uma diferença tão grande, que me faz sentir isolada, individualizada, inadaptada. Esta sensação abana a minha própria estrutura, faz-me sentir diferente, quase anormal. Não são poucas as vezes que questiono se fui eu que estive mal, em determinada situação.

Para continuar a sentir-me integra, tem sido necessário muita perseverança e a procura da minha identificação junto daqueles que há muito são meus semelhantes, na família e nos amigos de longa data.

Ontem os meus filhos participaram num campeonato regional de Karate. Nenhum deles, estava muito entusiasmado. A escolha desta modalidade desportiva, foi iniciativa do pai e desde os 5 anos que os três a praticam. Nunca me opus, muito pelo contrário, sempre os encorajei a continuar, quando se desmotivam. Ontem a minha filha do meio ganhou o primeiro lugar da classe dela numa competição, e o segundo lugar, noutra.

Na competição em que ela ganhou o primeiro lugar, até chegar à final, houve 5 eliminatórias. Numa das últimas eliminatórias, competiu com uma menina visivelmente enervada. A determinada altura do exercício, a menina enganou-se nos movimentos de defesa e bloqueou, sem saber o que fazer. Vieram-me as lágrimas aos olhos com a reacção da minha filha: Abrandou o ritmo dos movimentos de ataque, esperando que a adversária correspondesse com os movimentos de defesa e como tal, não aconteceu, indicou-lhe por voz e por gesto como se deveria defender. Valeu-lhe um forte aplauso do público antes mesmo, do júri levantar a bandeirinha da vitória.

No meio da plateia, sozinha, sem que ninguém soubesse que aquela menina era minha filha, parecia que o meu peito rebentava de orgulho. Experimentei a mesma sensação, quando na final da outra competição foi eliminada, e no momento em que o júri deu a decisão, ela aplaudiu a adversária, atitude pouco frequente até mesmo nos atletas mais velhos. Quando tudo acabou e nos juntámos todos eram já 22.30h, sentia-se constrangida por os irmãos não terem ganho nenhuma taça.

Esta minha filha tem 9 anos de idade. A esta, não costumo ensinar a “dar o seu melhor”. Tenho-me preocupado sempre mais, a ensiná-la a ser humilde, face aos bons resultados que consegue em tudo o que faz. Contudo, nunca lhe disse como devia proceder em campeonatos de Karate. O seu comportamento de ontem foi da sua inteira responsabilidade.

Para mim foi sobretudo, uma lufada de ar fresco neste desconforto que tenho sentido ultimamente.

quinta-feira, março 22, 2007

Imaginário

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Vila Nova da Barquinha 2007

quarta-feira, março 21, 2007

Relacionamentos

Pergunto-me se sou eu que ando mal relacionada, se sou eu que sou uma inadaptada.

Seja a interrogação uma ou outra, o pronome pessoal na primeira pessoa do singular é a constante, o que faz de mim o sujeito em questão, a pessoa responsável.

Responsabilidade é sinónima de culpa e lá estou eu de novo, carregando a culpa às costas.

Vira esta questão uma pescadinha de rabo na boca, quando me lembro que para haver relacionamentos, são precisas mais do que uma pessoa.

Onde está afinal, a culpa e a responsabilidade dos outros? Quem a encontra?

quinta-feira, março 15, 2007

Sapos grandes

Maria dos Anjos apercebe-se que a sua colega de trabalho age incorrectamente. Como não chefia a colega e não são amigas chegadas, entende que não deve opinar sobre o seu comportamento.

Maria dos Anjos é chamada a uma reunião de direcção. A sua colega, também. São ambas alertadas, não a propósito do comportamento da colega, mas no geral, a propósito de atitudes assim tipificadas, no sentido de serem evitadas.

Se Maria dos Anjos reagisse à chamada de atenção, denunciava a colega, por isso, resolveu engolir um sapo. Duas horas depois, ainda o sapo não tinha chegado ao estômago. Coaxava que se fartava, queixando-se.

Maria dos Anjos já conseguiu aprendeu que é sinal de maturidade e racionalidade, em determinados contextos, usar da palavra apenas e estritamente quando é necessário, por isso conseguiu calar-se.

Mas, Maria dos Anjos tem dificuldades de aprendizagem. Sobretudo, não consegue aprender a calar-se sem que isso lhe faça doer o estômago. Literalmente, doer.

Não sei se haverá plano individual de aprendizagem que lhe valha.

segunda-feira, março 12, 2007

Recantos

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Ribatejo 2007

domingo, março 04, 2007

Actualização

Na observação que consigo fazer sobre mim própria, no meu dia-a-dia, constato que há dois estados de espírito que são dominantes:

1 - Um excesso de ideias e de emoções que se atropelam à saída e que exigem da minha parte uma constante imposição de ordem, tão difícil de executar que tenho por vezes, que recorrer a ajuda, sob pena de se instalar a anarquia total. É nestes períodos que escrevo compulsivamente se a disponibilidade for coincidente com o estado de alma (o que nem sempre acontece) porque estão criadas as condições a partir das quais, me saem pelas pontas dos dedos as tais histórias que me satisfaz tanto escrever. Nestes períodos leio muito pouco. Nestes períodos muita coisa me passa ao lado, sem que me dê conta de nada.

2 - Um vazio. Um buraco sem nada, donde coisa alguma pode nascer, senão com alguma dificuldade, reacções, que as ideias e emoções das outras pessoas me podem suscitar. É nestes períodos que leio mais. É nestes períodos que estou mais atenta a tudo o que me rodeia.

Segundo me tenho apercebido, nem um, nem outro estado de espírito, altera o rumo da minha vida, os meus objectivos, ou qualquer situação mais decisória.

A grande diferença é que no primeiro estado em suo palavras por todos os poros. No segundo, não há palavras para suar. Emudeço o mais possível.


É assim que consigo actualizar este blog. Hoje.


quinta-feira, março 01, 2007

Bento

Já todos quantos aqui vêm se aperceberam, não ando com a palavra solta. Gostaria de ser capaz de legendar devidamente, esta foto. Não sou.
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domingo, fevereiro 25, 2007

Bancos de Jardim IV

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Vila Nova da Barquinha - 2007

sábado, fevereiro 24, 2007

Inércia

Sentou-se na cadeira e permaneceu quieta como se o mundo tivesse combinado 1 minuto de silêncio. Decorrido esse minuto, permaneceu na mesma posição à espera de fazer o que supunha, ter decidido. E as pernas não obedeciam. E o corpo não obedecia. Pensou: vou contar os minutos que decorrem entre a decisão que tomei, até ao início da sua execução. Ao final dos primeiros segundos, distraiu-se com o pensamento. Recomeçou. Ao final dos primeiros segundos, distraiu-se novamente, com o pensamento. Voltou ao princípio. Distraiu-se de novo. Rendeu-se. Reduziu o corpo à inércia. Que se lixe tudo.

Vila Nova da Barquinha

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Vila Nova da Barquinha 2007

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Óbidos

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Óbidos 1998

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Meio Rural

À porta da pastelaria. Tive que fazer para conseguir entrar.

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Ribatejo 2007

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Tomar

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Tomar 2006

Carnaval

com lápis, pincéis, alguma cor e imaginação

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sábado, fevereiro 17, 2007

Baile de Máscaras

Maria dos Anjos foi ao baile.

Começou a pensar no assunto com 15 dias de antecedência, por insistência da mãe, “que tem que se divertir, conviver com raparigas e rapazes da sua idade, que a vida não é só casa-trabalho, trabalho-casa” enfim, preocupações de mãe já com muitos anos subtraídos à vida que não vê a sua única filha, quase quarentona contudo, bonita, inteligente, com curso superior, um bom emprego, casa e carro próprios, a promover o encontro com um homem bom, amigo dela e da família.

Maria dos Anjos até gosta de dançar. Consolidou esse gosto ainda menina, no rancho lá da aldeia e nos frequentes bailes que se realizavam, nos quais participou até quase à idade adulta. Conhecia bem o ambiente. O salão grande com chão de madeira, encerado a preceito para a festa. Alinhadas junto às paredes, as cadeiras disputadas pelas alcoviteiras que vazam a bexiga no fim do baile com medo de perderem a cadeira, se o fizerem antes. No palco, o animador da festa que canta e toca quando o quadro da electricidade colabora e conta umas piadas forçadas com a voz mais alta que consegue fazer, quando o mesmo quadro vai abaixo porque a mulher do bar se esqueceu que não podia ligar a torradeira e o microondas ao mesmo tempo. As crianças a correrem por um caminho vazio, aos encontrões leves com os dançarinos, como uma bola das máquinas de pinball antes de descer até ao fim. As mães a ralharem com os filhos pequenos que “não senhor, não há mais dinheiro para guloseimas” e com as filhas que descobriram interesse nos rapazes que “não senhor, não sais daqui para lado nenhum”. Os rapazes, homens novos, quietos a um canto a observar à distância as raparigas namoradeiras, esperando o melhor momento para num salto, tentar a sua sorte. As mulheres a dançarem com outras mulheres, porque os maridos que em tempos faziam o jeito, agora já se lembraram que nunca gostaram de dançar.

Só no próprio dia, Maria dos Anjos decidiu que vai ao baile. Decidiu que vai mascarada, porque só as alcoviteiras é que não se mascaram e ela não quer ser confundida com uma alcoviteira. Decidiu que vai mascarada de hippie porque não providenciou atempadamente uma fantasia, porque o cabelo dela se presta a isso, porque guardou umas calças de ganga que se rasgaram no joelho, porque tem algures uns óculos de sol redondos e porque sim.

À noite, já muito tarde, para não ter que lá estar tanto tempo, Maria dos Anjos entrou pela porta do salão de baile, mascarada de hippie, a par com a sua mãe. Providenciou uma cadeira de alcoviteira para a mãe, junto a outra alcoviteira vizinha. “Foi uma sorte” pensou, não ter que disputar a cadeira. Acolheu-se depois, no grupo das meninas que já não são muito pequeninas, mas ainda não vêm interesse nos meninos, quase todas suas discípulas na catequese que ensinou até há pouco tempo. Seria aquele o lugar mais seguro, para não ser alvo dos comentários das alcoviteiras, nem das investidas dos rapazes que esperam quietos a um canto antes de dar um salto. Animadas, dançaram de mãos dadas e alinharam nos comboios que volta e meia se fazem pelo salão. Correspondeu às piadas que lhe dirigiam as pessoas conhecidas como se estivesse muito à vontade, mas contou-os a todos pelos dedos, os rapazes quietos a um canto à espera de dar um salto e as alcoviteiras de bexiga cheia sentadas nas cadeiras junto às paredes.

Quando pensava que já não havia perigo porque as alcoviteiras estavam reduzidas a uma dezena e os rapazes quietos a um canto não eram mais do que três, atreveu-se a obedecer às pernas e sentou-se numa das dezenas de cadeiras agora, vazias. Em menos de nada, um dos rapazes que estavam quietos a um canto aproximou-se e as alcoviteiras espetaram-lhes os olhos em cima. Queria dançar. O rapaz queria dançar. A dois passos dela, girou o indicador apontado para baixo, com o sorriso mais tímido que alguma vez ela tinha visto numa pessoa adulta. Numa fracção de segundos que lhe pareceu uma eternidade teve que decidir se sim, se voltava a dançar com um rapaz agarrado à sua cintura, ou se não, não o queria fazer debaixo do olhar das alcoviteiras. Decidiu que não.

Maria dos Anjos nunca mais se esqueceu da expressão que os músculos daquele rapaz lhe desenharam no rosto. Queria que ele tivesse sabido que só não tinha dançado com ele por causa das alcoviteiras. E que sim, tinha saudades de sentir a mão de um homem na sua, o seu corpo seguro ao dele, guiado num rodopio equilibrado de passos de dança. Já lá vão 2 anos.

Hoje, é dia de baile de máscaras, outra vez. A sua mãe insiste em ir. Maria dos Anjos já decidiu que vai. Mascarada de alcoviteira. Leva duas cadeiras de casa.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Ribatejo


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Chamusca - Rio Tejo

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Trave Mestra

Bamboleias desamparado ao sabor do vento, das vontades, de tudo o que te rodeia, de ti próprio. Falta-te a trave mestra.
Eu sei. Não me esqueci.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

"Muito mais vivo que morto"

Já lhe conhecia a índole e o mediatismo nas letras de algumas músicas. Nada mais que isso.

Aos 43 anos de idade literalmente descobri (porque foi por mero acaso) na arte e no talento, a força e o poder do ser humano, nas palavras e na voz de José Mário Branco.

Alerta máximo dos meus sentidos e emoções com sintomatologia evidente em todos os poros da minha pele, quando ouvi estas palavras, da primeira à última, sem descurar a respiração. Parece-me inacreditável um homem ser capaz de dizer este texto sem se engasgar uma única vez.

(25 minutos numa viagem de carrossel, para aqueles que dispõem deste tempo)

José Mario Branco


FMI - José Mario B...



Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!

FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

domingo, janeiro 28, 2007

Illegal

Deixo-vos mais uma vez, com Shakira, que conheci e gostei por causa do meu filho de 12 anos. A letra e o videoclip são fraquinhos (na minha opinião, claro) já a melodia e a voz agradam-me o suficiente, para as fazer reproduzir no meu blog.



Illegal - Shakira
Composição: Shakira Mebarak R.

Who would have thought that you could hurt me
The way you've done it
So deliberate, so determined

Since you have been gone
I bite my nails for days and hours
And question my own questions on and on

Tell me now, tell me now
Why you're so far away
When I'm still so close

Refrão:
You don't even know the meaning of the words I'm sorry
You said you would love me until you die
As far as I know you're still alive
Baby
You don't even know the meaning of the words I'm sorry
I'm starting to believe it should be illegal to deceive a woman's heart

I tried so hard to be attentive
To all you wanted always supportive always patient
What did I do wrong?
I'm wondering for days and hours
it's here, it isn't here where you belong

Anyhow, Anyhow
I wish you both all the best
I hope you get along

You don't even know the meaning of the words I'm sorry
You said you would love me until you die
As far as I know you're still alive
Baby
You don't even know the meaning of the words I'm sorry
I'm starting to believe it should be illegal to deceive a woman's heart

You don't even know the meaning of the words I'm sorry
You said you would love me until you die
As far as I know you're still alive
Baby
You don't even know the meaning of the words I'm sorry
I'm starting to believe it should be illegal to deceive a woman's heart
Open Heart
Open Heart

To be illegal to decive a woman's heart

Open Heart
Open Heart

To be illegal to decive a woman's heart

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Almourol


foto aq
Almourol 2006

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O cowboy ribatejano

Saído de um daqueles filmes de cowboys em tela pincelada a tons quentes e soalheiros onde os personagens masculinos sugerem barba de 3 dias, carregam um tom de pele curtida pelo Sol apesar do enorme chapéu e vestem roupas puídas e enegrecidas, assim parece ele.

Vi-o pela primeira vez, pouco depois de ter vindo morar para aqui, há mais de 16 anos. Julgo que não me atraiçoa a memória, quando me lembro dele exactamente com o mesmo aspecto que tem hoje. Sempre sozinho. Homem grande. Tom de pele muito moreno, cabelo comprido e negro, sempre com botas calçado e raramente sem o colete vestido. Apesar do seu aspecto desleixado, sempre me fez deduzir considerado cuidado em não fugir daquele estilo.

Pertence a uma família desconceituada cá no meio, da qual se maldiz muito e deve ser dos mais velhos de 5 ou 6 irmãos. Adivinho-lhe uma idade semelhante à minha, talvez um pouco mais velho. Quase sempre, quando o vejo, caminha à beira estrada. Mas já o vi também, mesmo que poucas vezes, parado junto a um café. Nunca falei com ele, tão-pouco nos cruzamos próximo. Agora que costumo permanecer algum tempo num edifício na estrada em que ele caminha, frequentemente pela porta aberta para a rua, o vejo passar, ora para cima, ora para baixo. Sempre sozinho. Quatro ou cinco vezes por dia.

Confesso que me desperta a atenção. Pelo agrado que me provoca a forma do seu corpo, o estilo com que se apresenta, a tranquilidade que demonstra mas sobretudo, pela curiosidade no percurso que terá feito até hoje. Claro que não me surpreenderia um qualquer desgosto mal superado, uma desistência dos valores dito normalizados ou até mesmo uma falta de adaptação aos mesmos, o que me surpreendia era que o estímulo que me causasse uma proximidade correspondesse àquele que me causa este distanciamento.

Porque uma aldeia pequena é o contexto deste testemunho, cruzámo-nos a pouquíssimos centímetros de distância, há meia-hora atrás e cumprimentámo-nos verbalmente pela primeira vez. Tem uma voz forte e rouca e os olhos tão negros como o cabelo.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Icewoman

Com a idade, tornei-me uma mulher cada vez, mais fria. Mesmo, gelada. É verdade. É triste, mas uma realidade.

Estávamos os 4 à mesa. Servi o primeiro prato. Na verdade, não foi em prato, foi mesmo em tigela, quase alguidar. Sopa quente e perfumada. Quente, não. A escaldar. Por isso, não podemos comer logo. De maneira que ficámos um bocadito à espera. Uns mexiam a sopa com a colher, outros simplesmente, não faziam nada. Eu resolvi aquecer as mãos na tigela. Todos a olhar para a televisão, caladinhos. Às tantas, provei a sopa. Estava comestível. Comi-a toda e os meus filhos ainda nem tinham tocado nas deles. Comecei a ralhar, que assim não podia ser, que se despachassem para comer a sopa ainda quente, que desligava a televisão, que ainda faltava o segundo e tínhamos coisas para fazer a seguir ao jantar… essas coisas. Argumentaram que a sopa estava quente, que não queriam queimar a língua, que eu devia ter a língua calejada para aguentar comida àquela temperatura, desconsideraram os meus 43 anos... enfim. Ok! Pensei. Agarrei na sopa da pequenita e mexi-a com a colher, decidida a dar-lha à boca. Provei-a antes de lha dar. Estava de facto, muito quente. Primeiro ainda concluí que se calhar, tinha mesmo a língua calejada.

Mas depois lembrei-me: Eu não tinha só aquecido as mãos na tigela quente. Tinha mesmo, arrefecido a sopa nas mãos geladas.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Rostos amigáveis



imagem daqui

Tornou-se invisível e começou a caminhar. Só assim conseguia evitar gente conhecida. Procurava entre todos, rostos desconhecidos e amigáveis. Entre todos, uma mulher de cabelo curto e óculos dourados; um homem grande de tronco largo; uma jovem de cabelo negro. Mais alguns. Rostos de traço pacato e ligeiro sorriso. Rostos amigáveis. Encontrou-os. Não disse nada.

Confiança

Não consigo articular palavras audíveis, legíveis, neste caso (nem sequer responder a comentários, desculpem).

Valho-me mais uma vez, do YouTube para actualizar este blog que teimo em manter. Alguém se lembrou de combinar este clássico com esta melodia. Podia ter-me parecido um disparate, ou ser-me simplesmente indiferente, não fosse o estímulo que me causou a combinação de dois versos da letra da música com uma determinada parte das imagens do video.



Só Tu Podes Alcançar - 4Taste

Composição: 4Taste

Trocamos muito mais que um olhar
Tanto que achei que podia dar
Aos segredos que dizias guardar

E por momentos acreditei que
Isto não era um sonho que pintei
Mais um dos tantos que criei

Sei que pode dar
Só tens de tentar
Dá-me a mão e...

(Refrão)

Deixa-te levar por mim
Deixa-me dar-te o mundo assim
Sei que pode resultar!!!
Deixa-me mostrar quem sou
Deixa-te ir com o que dou
Só tu podes alcançar!

Vivemos um dia de cada vez
Sei que podemos viver sem porquês
Afinal só depende de nós dois

Sabemos que tudo pode mudar
Não sabemos o que pode dar
Este olhar que agora é amor

Sei que pode dar
Só tens de tentar
Da-me a mão e...

(Refrão)

Deixa-te levar por mim
Deixa-me dar-te o mundo assim
Sei que pode resultar!
Deixa-me mostrar quem sou
Deixa-te ir com o que dou
Só tu podes alcançar!

(Instrumental)

Só tu podes alcançar

Só tu podes
Talvez
Nunca consigamos dar
Porquês
São barreiras p'ra avançar
Desta vez
Faz um esforço p'ra alcançar

(Instrumental)

(Refrão)

Deixa-te levar por mim
Deixa-me dar-te o mundo assim
Sei que pode resultar!
Deixa-te levar por mim
Deixa-me dar-te o mundo assim
Só tu podes alcançar!
Só tu podes alcançar!


Trocámos muito mais que um olhar
Tanto que achei que podia dar
Aos segredos que dizias guardar...


domingo, janeiro 14, 2007

Ainda às voltas com a minhas indefinições...

... lembrei-me desta música:

The Who - Behind Blue Eyes



Agora, também numa versão mais açucarada:

Limp Bizkit - Behind Blue Eyes



Composição: Pete Townshend (The Who)

No one knows what it’s like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes

And no one knows what it’s like
To be hated
To be fated
To telling only lies

But my dreams, they aren't as empty
As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That’s never free

No one knows what it’s like
To feel these feelings
Like I do
And I blame you

No one bites back as hard
On their anger
None of my pain an’ woes
Can show through

But my dreams, they aren't as empty
As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That’s never free

Discover L.I.M.P. say it (x4)

No one knows what its like
To be mistreated
To be defeated
Behind blue eyes


No one knows how to say
That they’re sorry
And don’t worry
I’m not telling lies

But my dreams, they aren't as empty
As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That’s never free

No one knows what it’s like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes.

sábado, janeiro 13, 2007

Talvez eu soubesse o que isto é

Ah!... quem me dera ser capaz de dizertudocomoosmalucos. Ter habilidade para o fazer, arte e graça. Avizinhar as minhas letra e alma. Torná-las próximas, amigas. Dar-lhes igual cor, igual forma. Geminá-las.

Talvez, depois ao ler-me, eu soubesse o que isto é. Este balancé de sensações em cujo eixo estás tu. Revoltas-me as entranhas, essas mesmas, onde tu queres entrar. Turbilhonam-me enfurecidas. Quando as tuas narinas sem pudor, procuram o odor do meu pescoço. Esse mesmo, que tu reconheces teu e não encontras na pele de outra mulher. E logo a seguir, quando as minhas entranhas vão acalmando em sintonia com os ponteiros de um relógio, comove-me esse desencontro. Comove-me o teu olfacto à minha procura. Comovo-me eu, connosco.

Ah!... tenho tanto pena. Tanta pena de não sermos capazes de fazer bem um ao outro. Tanta pena de não ser capaz de manter pacíficas as minhas tripas, o meu estômago, coração, sangue, tudo o que de mais elementar eu tenho debaixo da pele. Pensar, ordenando ao meu cérebro: Quieto! Não pensa! Não mexe! Não sente! Não faz nada!

Até eu perceber que raio de merda é esta. Porque nenhum dos meus sentidos, órgãos, nadinha de mim, compreende o que se passa aqui.

Serei eu a fugir ao inevitável, procurando todos os artifícios, todas as estratégias, intimada pelo meu sistema de defesa, pela minha memória mais viva, responsáveis pelo envio constante de sinais de alerta?

Serás tu, na tua qualidade de grande predador, dominado pelo olfacto, pela textura da minha pele, pelo tamanho do meu corpo, pelo hálito da minha boca?

Será que eu nasci para ti? Que tu nasceste para mim? E que nenhum de nós sabe como construir em cima dessa terra?

Será, porra!... que nunca hei-de perceber o que se passa aqui?
E será... que isto, seja lá o que for, tem que causar tamanho sofrimento?

Transparências II

(registo recolhido directamente do meu pensamento - não editado)

Se tiver que ser.
Se tiver que decidir.
Não tenho dúvidas.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

O enjeitado

Rosto queimado pelo sol. Olhos fundos, negros, baços. Franzino nos seus 16 anos. Cabelo ondulado, empastado em gordura por dias e dias sem lavagem. É frequente vê-lo com sapatilhas rotas, ou sapatos com 2 ou 3 cm a mais do que deviam. É este o aspecto rápido de ver, do jovem mais delinquente lá da pequena aldeia.

Passou pelo infeliz momento, na aldeia, mais alcoviteira de todas as aldeias, logo a seguir à infância, que é quando nos começam a responsabilizar pelos nossos actos, tendendo a não desculpabilizar os menos bons… passou pelo infeliz momento, foi assolado pela infeliz ideia, de tentar o seu primeiro roubo. Teve sorte. Apenas teve sorte, a avaliar pela ausência do plano do roubo. Safou-se. Confundiu sorte com habilidade e tentou de novo.

Curiosamente, desta vez planeou, foi menos desajeitado mas, falhou a sorte. Num particular dia, em específica ocasião, um alarme sempre desligado, foi ligado à hora do almoço. Lixou-se. Bastou que tivesse saído do buraco onde se escondeu antes da loja fechar, para fazer accionar o alarme. Ficou preso lá dentro até a polícia chegar. Dizem, dizem as más-línguas, que quando abriram a porta estava pacientemente, encostado aos sacos da ração, com as mãos nos bolsos. Digo, digo eu, adivinhando-o e cedendo à vontade de romantizar esta história, este protagonista, que sorriu à primeira pessoa que apareceu à porta.

Ficou marcado, como se marcam animais com ferros quentes, o pequeno jovem. Hoje, não há módico crime que aconteça na mais alcoviteira de todas as aldeias, a que não lhe seja atribuída autoria.

Desvio os olhos desta folha e reparo nele sem que perceba, já que se encontra de costas voltadas para mim. Claro que não faz uma pequena ideia de que o meu pensamento neste instante, nos que antecederam e nos que ainda faltam, é exclusivamente, dele. Reparo na mão direita sobre o rato, nas unhas contornadas a sujidade. Sigo o movimento do rato no monitor do pc: Arruma imagens que foi buscar à Internet na pasta que acabou de se criar para ele. Junta-as uma a uma. São dele. Conforme juntou ontem, escritos num pedaço de cartão, endereços de correio electrónico que adicionou hoje, mal chegou, à conta que lhe criei. São dele. Vai proteger atentamente, escrupulosamente, as imagens e os endereços. Tão atentamente e tão escrupulosamente como quem estima o último carro que comprou, ou os sofás em pele, o home cinema, o telemóvel topo de gama ou as sapatilhas de marca.

Temos uma história, eu e ele, muito cúmplice, vivida no último verão, que não vou contar agora. Foi com base nessa história que ontem, o convidei para se sentar ao pé de mim depois de ter aceite o meu convite para conversarmos um bocadinho. Afinal, não conversámos. Fui só eu que falei. Ele esteve sempre calado, com os olhos postos em mim. Nunca os baixou. Por isso, os vi brilhar. Brilhar muito. Brilhar até ao limite das lágrimas que ele conseguiu travar. Eu, consegui travar o abraço que se imponha naquele momento.

Uma das maiores surpresas da minha vida, seria este miúdo desiludir-me.

A primeira interrogação de 2007

(feita no dia 1, pouco tempo depois de acordar - eu sei que estou atrasada)

Que é aquilo ali ao longe?



Hum!... Cilos?!

É porreiro, quando se obtêm respostas assim, tão rápidamente.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Tempo

Consigo finalmente libertar-me do Tempo que avança velozmente a passos largos e me arrasta, porque não lhe consigo acompanhar a passada, nem vontade tenho de o seguir, segura não sei por que parte do meu corpo. Provavelmente pelo estômago que tal como um motor cansado, fumega quente, no seu limite. Penso: O meu cérebro deve ter delegado ao meu estômago, o esforço da motricidade. Estúpido, que não lhe percebe a ilicitude da função. E o estômago coitado, que aceitou tarefa que não lhe competia.

Livre, olho-o a afastar-se, nem mais nem menos ligeiro, como se não tivesse dado conta que me deixou para trás. Sorrio quase convencida que o enganei. Escapei-lhe agora, neste preciso momento, para conseguir vasculhar na minha memória 4 datas, neste mês de Janeiro, que preservo como especiais e do resultado da cata que farei, pretendo deixar registo. Pretendo, mas não é o que farei. Porque sei, não tarda nada, o Tempo dá-se conta que me deixou escapar e voltará atrás. Enquanto vai e volta, descansa-me o estômago e somo linhas nesta folha branca.

Faz hoje 31 anos, ao descer as escadas do avião que me tinha trazido de Moçambique, senti na pele o frio mais frio que alguma vez tinha experimentado. Vestia uma mini-saia e uma blusa em voile. A minha mãe já não se devia lembrar como era o clima da metrópole, em Janeiro. Lembro-me que a caminho de casa, no táxi onde fui transportada com o meu irmão, agitava o corpo sentado no banco, olhando tudo em meu redor. Fascinei-me particularmente, com os eléctricos e com o chão calcetado, duas novidades na minha vida de menina com 11 anos.

Fez ontem 48 anos um homem que me deixou julgar minhas, todas as cores, num período em que predominavam os tons cinzentos. Um homem com quem me perco a “discutir conversas” e que não permite que o meu cérebro delegue funções a outro órgão, porque sem se dar conta, me consegue resgatar ao Tempo.

Faz amanhã 44 anos o homem que escolhi para juntos, termos filhos. Foi uma escolha acertada… essa, de ter filhos com ele. Não gosta deles, menos do que eu. Vivi com ele 19, dos 43 anos que já somei.

Faz no próximo Domingo, 12 anos que nasceu o meu primeiro filho e que dividiu a minha vida em 2 partes: Antes e depois. Com ele vivenciei todas as “primeira vez” da minha condição de mãe. Muita coisa me passou ao lado, tão ansiosa estava no meu papel, mas aquelas de que consegui ter percepção, foram vividas extasiadamente. Hoje, mais tranquila, mais quieta, sei no entanto, que voltaria a fazer tudo igual, porque na mesma e ainda, a cada situação nova, vacilo na tomada de decisões, se a elas houver lugar. A diferença é que agora, me são devolvidos todos os resultados, por ele mesmo.

Preocupam-me, é verdade, as marcas que as pressões de várias ordens, deixam na minha vida, na dos meus filhos, no meu carácter e no deles. A falta de disponibilidade faz-me sentir sobretudo, muito desorganizada. Mas também me faz sentir em falta.

domingo, janeiro 07, 2007

Candeeiro I


foto aq
Ribatejo 2007