terça-feira, julho 13, 2004

Mais eu que isto... é impossível

O meu nome é Ana Quinteiro.
Tenho 40 anos, quase, quase 41.
Sou mãe de 3 filhos, ainda pequenos.
Moro numa aldeia do Ribatejo.
Sou mais ou menos, casada.
Sou mais ou menos, bonita.
Tenho pouco mais que a escolaridade obrigatória.
Não tenho profissão definida.
Gosto de escrever, de desenhar e de ser mãe.
Gostava de ser um bocadinho mais conformada.

Mais eu que isto, neste contexto, é impossível.
Para alguns de vocês, não é novidade.
Para os restantes, admito que possa não interessar nada.
Fi-lo, por mim. Isto… de me identificar, dentro dos limites do possível.
É que me foi induzida uma questão que me deixou a pensar. Diria mais, que me chegou mesmo, a assustar. E esta, foi a forma que encontrei, de me fazer seguir por bom caminho. Isto é, por um caminho verdadeiro e transparente, vedado pelo meu próprio conceito disso mesmo e orientado exactamente, em jeito de percurso.

Ok. Eu explico.
A começar pelo princípio… a questão que me foi induzida (por uma pessoa que prezo muito) diz respeito a este universo virtual, onde parece que podemos ser o que queremos, ou melhor, aparecer como queremos. Escolher uma imagem. Criar uma personagem. Enfim, fazer um boneco e vesti-lo. Entrar e dizer: Olá! Sou eu. Se o boneco corresponde à verdade, pouco interessa. Ou melhor, cá para mim, o boneco deve corresponder sempre à verdade. À verdade do desejo. Daquilo que queríamos que fosse. Nalguns casos, será esta verdade, mais verdadeira que a própria verdade. Isto é, casos há, com certeza, em que se poderia verificar mais inocência (é mesmo esta, a palavra) na vontade de querer, do que no casulo de deixamos e ajudamos a tecer, à volta da nossa vivência, de nós próprios, daquilo que faz de nós o que somos, aos olhos de quem nos conhece de uma forma identificável. Nem sempre será assim, mas mesmo quando é, não há no meu ponto de vista, perca de legitimidade. Porque há casulos que demoram muitos anos a construir. E se os construímos, alguma razão haverá. Faz portanto sentido, que os defendamos.

No entanto, correndo o risco de cair na armadilha, de que “isso só acontece aos outros, a mim, não”, julgo que não será bem essa, a minha situação. Primeiro porque não tenho grande casulo para defender e depois porque sou péssima a fazer batota. Isto é, há regras (normalmente, as que tenho necessidade de criar) que dificilmente quebro, num modo consciente. Não é uma virtude, não… acho até, que só saio a perder com isto. Mas poderia quebrá-las de uma forma inconsciente, e é isso que não quero que aconteça.

Chamada à atenção, para esta questão da blogoesfera, da virtualidade, e do labirinto que as mesmas podem encerrar, assunto em que já tinha pensado, sim, mas por outras razões, tenho-me interrogado nestes últimos dias, porque me vejo eu, aqui presente. Sim, porque tenho eu um blog e para que o quero.

A primeira resposta que me ocorreu imediatamente (o que nem sempre acontece) foi exactamente, contrariar a ideia do boneco, por isso é que surgiu, rápida. Ou seja, não é seguramente, para vestir um boneco diferente do que visto aqui deste lado, onde é suposto, ter segura a minha âncora. Deste lado real, seja lá a definição de real, a que for. Uma das coisas que sempre me irritou ligeiramente, neste universo virtual, é a porra dos nick names. Eu sei que o nome não é tudo, ou não é nada. Não é o nome, uma forma de identificação total. Mas caramba, identifica-nos alguma coisa… é um bocado, aparecer de cara destapada. E eu aprecio isso. Além disso, gosto do meu nome, a sério que gosto.

Bom… mas para que quero eu o blog, volto à questão… Sinceramente, acho que foi a oportunidade. A única, que me surgiu nos últimos anos, de escrever para ser lida, de deixar de escrever para a gaveta. Eu sei, é humilhante admitir isto. Mas é assim. É mesmo isto. Gosto de escrever, sempre me lembro de gostar. Escrever é comunicar. Para haver comunicação tem que haver emissor e receptor (a mensagem, também convém que haja). Deixou de fazer sentido, escrever para ninguém. Não sou boa, o suficiente, para publicar. Não sou boa, o suficiente, para ganhar dinheiro a escrever. Não me conformava com as gavetas cheias. E confesso, que as gavetas me davam jeito para outras coisas. Por isso, a ideia do blog, agradou-me. O manifesto das reacções é gratificante. Significa que nos leram, que o objectivo, foi sem margem de dúvida, atingido. Se o manifesto é positivo, melhor ainda.

Este “significa que nos leram”, pode representar uma certa forma de solidão, sim. Não necessariamente, uma solidão de não ter ninguém. Muitas vezes, uma solidão de ideia ou sentimento, sem partilha, que não fluiu verbalmente, porque não fomos capazes ou porque desistimos de nos esforçar em vão. O período de reflexão que a escrita proporciona ajuda a definir coerentemente o meu discurso. A oportunidade de correcção dá-lhe confiança, no sentido da clareza. Temo cada vez mais, os mal-entendidos e os tentáculos que deles se levantam. Normalmente trazem um rótulo pegajoso, na ponta. Quase sempre fatal.

Dar destino às palavras que escrevo. Quererei eu, alguma coisa, mais que isto? Penso que não. Francamente, penso que não. Mas sei, digo eu, que por vezes, damos connosco a percorrer caminhos que não nos lembramos de ter escolhido. Por isso vou tentar ter sempre presente, o objectivo do meu blog e destas relações que se vão mantendo virtualmente. A hipótese de passar uma imagem, que não corresponde à minha, para o lado de lá das relações, não me agrada. Daí a identificação. Eu sei que o que deixei é pouco. Que demoramos anos a conhecer-nos a nós próprios e aos outros. Mas há sempre pilares, por baixo de tudo o que se constrói. Que os pilares sejam pelo menos, verdadeiros. Já que a construção se vai fazendo, quer queiramos, quer não.

3 comentários:

Anónimo disse...

Finalmente identificaste-te. Pobre osginha. Espera pelo troco....

S.P.O.I. *


* ( Sociedade Protectora das Osgas Indefesas )

Anónimo disse...

Venha o recheio das gavetas, então!

Manuel

Aq disse...

Ups!... já falei demais. É que aquela osga era de raça potencialmente perigoso. Chegou mesmo a ameaçar-me de morte. Era ela ou eu. Foi em legitima defesa.

Obrigado Manuel. És muito generoso.