É estranho, eu, a perder algum tempo, para escrever sobre o meu Nissan. Sim, eu que nem gosto de conduzir. Nem parece meu. A minha amiga (a mesma, sim) com a sua formação em psicologia, se perdesse algum tempo para se debruçar sobre o assunto, diria que o que eu não quero é perder algum tempo a pensar naquilo que me apoquenta. Aí, o que eu fazia, era perder algum tempo para lhe tentar explicar, que já perdi tempo suficiente a pensar naquilo que me apoquenta e que não resolvi nada. Não resolver, por não resolver, prefiro perder tempo e escrever exactamente, sobre o meu Nissan. É claro, que a minha amiga, porque é minha amiga, iria perder imenso tempo a tentar desembaraçar as minhas apoquentações, para encontrar o fio certo. E depois de falarmos, frustrada por não encontrar a ponta do fio, continuaria a perder imenso tempo, às voltas na sua cama, a pensar na forma de me poder ajudar. Ora, como eu sou amiga dela, não quero que perca tempo. Quero que durma descansada. É portanto, só por isso, que nem vou perder tempo a telefonar-lhe. Vou antes, perder tempo, a escrever sobre o meu Nissan.
O meu Nissan é cinzento metalizado. Tem não sei quantos cavalos e anda bem como o caraças. Foi o último carro do meu pai. Depois, o meu irmão mais velho ficou com ele. A minha cunhada é que o conduzia. Conduz mal, a minha cunhada, a avaliar pelo estado do carro, quando me chegou às mãos (desculpa, sei que vais ler isto) oferecido pelo meu irmão. Pois, foi o meu irmão que me ofereceu o carro. Comprou um novo para a minha cunhada (coitado… do carro). Se eu não tivesse aceite a oferta do meu irmão, o meu Nissan, teria ido para a sucata (meu rico carrinho). Mas não, veio-me parar às mãos, todo amachucado, coitadinho. Até metia dó. O meu pai, nem podia olhar para ele. O meu marido, com os seus conhecimentos, gastou pouquíssimo dinheiro e mandou arranjar o carro. Ficou um mimo. É claro, já não é o mesmo Nissan. Levou uma data de chaparia nova, qual cirurgia estética. Mas não faz mal. A alma continua a mesma. O velho Nissan de sempre. Ao meu pai, até lhe vieram as lágrimas aos olhos, quando viu o seu Nissan, todo arranjadinho.
Pois, é cinzento metalizado, tem não sei quantos cavalos e anda bem como o caraças. O meu Nissan. Gosto muito dele. Porque veio do meu pai e depois do meu irmão. Porque o salvei de morte certa. Mas acima de tudo, porque é o mais obediente de todos os carros que tive. Pára quando eu quero. Anda quando eu quero. Os outros também, mas eram lentos a cumprir as ordens. A Peugeot (o meu autocarro) tinha que lhe dar pelo menos, 5 minutos de avanço, isto é, tinha que começar a ultrapassar o tractor que ia à minha frente, antes mesmo de o ver. O tractor, ou a bicicleta, que são os únicos veículos que normalmente, me atrevo a ultrapassar (os outros andam sempre mais depressa do que eu). Ou então, tinha que fazer um cálculo mental, que relacionasse proporcionalmente a distância que faltava e o tempo que demorava a ser percorrida, e então, começar a travar. Era cansativo. Cansativo e perigoso. Porque enquanto me concentrava no cálculo, desconcentrava-me na condução. A minha Peugeot. Ainda ontem a conduzi. Até tenho remorsos, por já não gostar tanto dela.
Havia também a Seat. O problema da Seat era outro. Cada vez que um carro me ultrapassava, tremia por todo o lado. E quando era um camião, ainda era mais perigoso. Primeiro porque ainda tremia mais (acho mesmo que às vezes, levantava as rodas do chão) e depois porque eu nunca resistia a olhar para a cara do condutor e distraía-me. Faziam sempre cara de gozo. Bem, a cara de gozo, ainda era como o outro, quando eles se lembravam de apitar enquanto me ultrapassavam, é que era pior. Até me encolhia toda. Por isso, às vezes, quando me apercebia que ia ser ultrapassada por um camião, fechava a janela antes. Sempre ouvia menos um bocadinho. Os piores eram os TIR. Esses são mauzinhos. E têm com cada buzina… perfeitamente aterradora. Até devia ser proibido. Por acaso, ainda não fui com o Nissan a Lisboa. Sempre queria ver se os camiões me ultrapassavam na auto-estrada, se buzinavam, ou se os condutores me continuavam a fazer cara de gozo.
Ainda houve a Opel, o Ford, mas desses já nem me lembro. Com o Nissan é diferente. É obediente, rápido e as rodas parece que não descolam do chão. Depois, tem alguns pormenores interessantes. Gosto de não ter que chegar com o pedal da embraiagem mesmo ao fundo para meter uma mudança. Assim não preciso de chegar o banco tão à frente e o volante fica quase a 1 metro de distância do meu corpo. Tal como eu gosto. Mesmo assim, vejo o capô do carro, o que é porreiro. Não tenho que me esticar toda, quando estou a estacionar o carro (para não bater no da frente). E de facto, gosto deste pormenor. Faz-me sentir superior às outras mulheres. É que conduzem todas, com as mamas a roçar no volante (pelo menos, aqui na zona). Não gosto. Pois… já que todas elas sabem sempre o caminho melhor que eu, andam sempre mais depressa do que eu e têm todas mamas maiores que as minhas, ao menos neste pormenor, eu tenho mais estilo.
Gosto também dos arranques do carro. Por vezes consigo arrancar mais depressa do que depois na marcha até chegar ao destino (principalmente se vou para sítios que não conheço). Também dá estilo. Porque quem me vê a arrancar, tão decidida, não imagina a otária que eu sou a conduzir. Este pormenor da velocidade é interessante. Porque na Peugeot estava sempre a olhar para o velocímetro a ver se já tinha chegado aos 80 km/h. No Nissan é ao contrário, estou sempre a olhar, mas é para ver se já passei dos 80. Mas o carro dá confiança. Ponho o pé no travão e aquilo trava logo. É porreiro.
O meu Nissan, é também o responsável pela minha evolução, no que diz respeito à apreciação dos automóveis. Para quem quis ter como primeiro carro, um 2 cavalos cor-de-rosa, com mantas bege, tecidas em tear artesanal, a cobrir os bancos, a distância é grande. Continuo é na mesma, em relação à identificação dos automóveis. Porque se tenho o azar de não me lembrar do nome da pessoa que cá veio, à procura do meu marido, ele pergunta-me sempre, em que carro é que veio. E eu, digo sempre que era um carro preto, ou branco, ou seja lá a cor que for. Que era grande ou pequeno. Novo ou velho. Na marca e no modelo, nunca consigo reparar. Também não sei é porque é que ele não me pede a descrição da pessoa, em vez da do carro (ao menos não tem marca). Nem tão pouco, porque me faz sempre uma pergunta, à qual nunca sei responder.
Bom, é meia-noite. Já perdi o tempo que tinha a perder. Por isso vou-me deitar a pensar no meu Nissan, para não ter que pensar nos meus problemas irresolúveis.
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