segunda-feira, junho 28, 2004

Arco-Íris

Se eu fosse uma gotinha d’água,
Andava sempre sozinha.
Era a mim que o sol beijava,
Era a mim que ele tinha.

E do beijo que me dava
Se espalhavam mil cores,
Como que uma prova dada,
Por mim se perdia d’amores.

Se eu pudesse ter o sol
Nem que fosse por um dia,
Uma gotinha d’água
Era mesmo o que eu seria.

Era uma vez...


Posted by Hello
aq/2003
aguarela

Uma gotinha d’água que queria o sol só para ela.
A gotinha d’água nem se misturava com as outras gotinhas d’água, na esperança que o sol reparasse nela.
Achava que se o sol a beijasse, conseguiria ter um arco-íris… e o sol. Nem que fosse só por um dia.
O sol reparou nela. E beijou-a. E a gotinha d’água, teve um arco-íris… e o sol. Por um dia.
Mas a gotinha d’água quis mais. E o sol não lhe fez a vontade.

Moral da história: O sol quando nasce é para todos.

sexta-feira, junho 25, 2004

Um, dois, três...

Deu 3 pulinhos no tempo... e já vai com 6 anos
(pois... cada pulinho são 2 anos).


Posted by Hello

aq/98
Retrato a carvão e aguarela.

quinta-feira, junho 24, 2004

Nissan Sunny

É estranho, eu, a perder algum tempo, para escrever sobre o meu Nissan. Sim, eu que nem gosto de conduzir. Nem parece meu. A minha amiga (a mesma, sim) com a sua formação em psicologia, se perdesse algum tempo para se debruçar sobre o assunto, diria que o que eu não quero é perder algum tempo a pensar naquilo que me apoquenta. Aí, o que eu fazia, era perder algum tempo para lhe tentar explicar, que já perdi tempo suficiente a pensar naquilo que me apoquenta e que não resolvi nada. Não resolver, por não resolver, prefiro perder tempo e escrever exactamente, sobre o meu Nissan. É claro, que a minha amiga, porque é minha amiga, iria perder imenso tempo a tentar desembaraçar as minhas apoquentações, para encontrar o fio certo. E depois de falarmos, frustrada por não encontrar a ponta do fio, continuaria a perder imenso tempo, às voltas na sua cama, a pensar na forma de me poder ajudar. Ora, como eu sou amiga dela, não quero que perca tempo. Quero que durma descansada. É portanto, só por isso, que nem vou perder tempo a telefonar-lhe. Vou antes, perder tempo, a escrever sobre o meu Nissan.

O meu Nissan é cinzento metalizado. Tem não sei quantos cavalos e anda bem como o caraças. Foi o último carro do meu pai. Depois, o meu irmão mais velho ficou com ele. A minha cunhada é que o conduzia. Conduz mal, a minha cunhada, a avaliar pelo estado do carro, quando me chegou às mãos (desculpa, sei que vais ler isto) oferecido pelo meu irmão. Pois, foi o meu irmão que me ofereceu o carro. Comprou um novo para a minha cunhada (coitado… do carro). Se eu não tivesse aceite a oferta do meu irmão, o meu Nissan, teria ido para a sucata (meu rico carrinho). Mas não, veio-me parar às mãos, todo amachucado, coitadinho. Até metia dó. O meu pai, nem podia olhar para ele. O meu marido, com os seus conhecimentos, gastou pouquíssimo dinheiro e mandou arranjar o carro. Ficou um mimo. É claro, já não é o mesmo Nissan. Levou uma data de chaparia nova, qual cirurgia estética. Mas não faz mal. A alma continua a mesma. O velho Nissan de sempre. Ao meu pai, até lhe vieram as lágrimas aos olhos, quando viu o seu Nissan, todo arranjadinho.

Pois, é cinzento metalizado, tem não sei quantos cavalos e anda bem como o caraças. O meu Nissan. Gosto muito dele. Porque veio do meu pai e depois do meu irmão. Porque o salvei de morte certa. Mas acima de tudo, porque é o mais obediente de todos os carros que tive. Pára quando eu quero. Anda quando eu quero. Os outros também, mas eram lentos a cumprir as ordens. A Peugeot (o meu autocarro) tinha que lhe dar pelo menos, 5 minutos de avanço, isto é, tinha que começar a ultrapassar o tractor que ia à minha frente, antes mesmo de o ver. O tractor, ou a bicicleta, que são os únicos veículos que normalmente, me atrevo a ultrapassar (os outros andam sempre mais depressa do que eu). Ou então, tinha que fazer um cálculo mental, que relacionasse proporcionalmente a distância que faltava e o tempo que demorava a ser percorrida, e então, começar a travar. Era cansativo. Cansativo e perigoso. Porque enquanto me concentrava no cálculo, desconcentrava-me na condução. A minha Peugeot. Ainda ontem a conduzi. Até tenho remorsos, por já não gostar tanto dela.

Havia também a Seat. O problema da Seat era outro. Cada vez que um carro me ultrapassava, tremia por todo o lado. E quando era um camião, ainda era mais perigoso. Primeiro porque ainda tremia mais (acho mesmo que às vezes, levantava as rodas do chão) e depois porque eu nunca resistia a olhar para a cara do condutor e distraía-me. Faziam sempre cara de gozo. Bem, a cara de gozo, ainda era como o outro, quando eles se lembravam de apitar enquanto me ultrapassavam, é que era pior. Até me encolhia toda. Por isso, às vezes, quando me apercebia que ia ser ultrapassada por um camião, fechava a janela antes. Sempre ouvia menos um bocadinho. Os piores eram os TIR. Esses são mauzinhos. E têm com cada buzina… perfeitamente aterradora. Até devia ser proibido. Por acaso, ainda não fui com o Nissan a Lisboa. Sempre queria ver se os camiões me ultrapassavam na auto-estrada, se buzinavam, ou se os condutores me continuavam a fazer cara de gozo.

Ainda houve a Opel, o Ford, mas desses já nem me lembro. Com o Nissan é diferente. É obediente, rápido e as rodas parece que não descolam do chão. Depois, tem alguns pormenores interessantes. Gosto de não ter que chegar com o pedal da embraiagem mesmo ao fundo para meter uma mudança. Assim não preciso de chegar o banco tão à frente e o volante fica quase a 1 metro de distância do meu corpo. Tal como eu gosto. Mesmo assim, vejo o capô do carro, o que é porreiro. Não tenho que me esticar toda, quando estou a estacionar o carro (para não bater no da frente). E de facto, gosto deste pormenor. Faz-me sentir superior às outras mulheres. É que conduzem todas, com as mamas a roçar no volante (pelo menos, aqui na zona). Não gosto. Pois… já que todas elas sabem sempre o caminho melhor que eu, andam sempre mais depressa do que eu e têm todas mamas maiores que as minhas, ao menos neste pormenor, eu tenho mais estilo.

Gosto também dos arranques do carro. Por vezes consigo arrancar mais depressa do que depois na marcha até chegar ao destino (principalmente se vou para sítios que não conheço). Também dá estilo. Porque quem me vê a arrancar, tão decidida, não imagina a otária que eu sou a conduzir. Este pormenor da velocidade é interessante. Porque na Peugeot estava sempre a olhar para o velocímetro a ver se já tinha chegado aos 80 km/h. No Nissan é ao contrário, estou sempre a olhar, mas é para ver se já passei dos 80. Mas o carro dá confiança. Ponho o pé no travão e aquilo trava logo. É porreiro.

O meu Nissan, é também o responsável pela minha evolução, no que diz respeito à apreciação dos automóveis. Para quem quis ter como primeiro carro, um 2 cavalos cor-de-rosa, com mantas bege, tecidas em tear artesanal, a cobrir os bancos, a distância é grande. Continuo é na mesma, em relação à identificação dos automóveis. Porque se tenho o azar de não me lembrar do nome da pessoa que cá veio, à procura do meu marido, ele pergunta-me sempre, em que carro é que veio. E eu, digo sempre que era um carro preto, ou branco, ou seja lá a cor que for. Que era grande ou pequeno. Novo ou velho. Na marca e no modelo, nunca consigo reparar. Também não sei é porque é que ele não me pede a descrição da pessoa, em vez da do carro (ao menos não tem marca). Nem tão pouco, porque me faz sempre uma pergunta, à qual nunca sei responder.

Bom, é meia-noite. Já perdi o tempo que tinha a perder. Por isso vou-me deitar a pensar no meu Nissan, para não ter que pensar nos meus problemas irresolúveis.



quarta-feira, junho 23, 2004

O Bombeiro e a amiga

Ou melhor, o Bombeiro e a minha amiga (o pronome adjectivo possessivo, estragava-me a leitura do título).

Hoje, estava para ser outro post. Mas o que estava destinado, fica para outra altura. É que há coisas… coisas pequenas, que não podemos deixar passar. Isto é, deixar passar em branco, sem reagir. De maneira, que me deu para escrever sobre o Bombeiro e a minha amiga.

A começar pelo Bombeiro…

Possa!... estava a ver que não. Que ninguém me dava aqui uma ajudinha. Tão aflita que eu estava, a tentar eliminar as minhas entradas no contador do meu próprio blog. Mas apareceu-me aqui um Bombeiro simpático. E explicou-me, muito bem explicadinho, como é que eu devia fazer. Bombeiro simpático. Simpático e esperto. Porque para além de ter percebido o deficit no meu Q.I., também percebeu que me vejo à rasca com as línguas estrangeiras (ainda ninguém tinha percebido, pois não?). E chegou mesmo a ensinar-me como se diz “sim”, em inglês. Mais ainda, pareceu-lhe que eu estava confusa. Bombeiro esperto, hã?!

Ok, amigo Bombeiro. Lá me desenrasquei. A partir de agora, as entradas registadas no contador, são de todos, menos minhas. Isto é que vai ser um descalabro. Não sei se lhe devo agradecer. Devo, claro. Fez-me a vontade. Mil obrigados.

Agora vamos à minha amiga (a mesma de Nós e os gajos).

É bom ter amigas assim. Estava a minha amiga a ler qualquer coisa do Daniel Sampaio, digo eu, e aparecem-lhe 2 máximas, pela frente. Lembrou-se logo de mim. Mais, telefonou-me imediatamente, para m’as ler. Por outro lado, estava eu a acabar de fazer o jantar, toca o telefone. Atendi. Era a minha amiga. Ok, ok… cá vão as máximas:

Que eu possa ter capacidade
Para aceitar o que não se pode mudar,
Coragem para mudar o que é preciso
E sabedoria para reconhecer a diferença.


A outra. Esta é um bocado inconsciente. Mais ao meu gosto.

É que em qualquer aventura
O que importa é partir
Não é chegar.


Não são o máximo, estas máximas? Não é o máximo, a minha amiga? Ok. Mas eu também tenho uma. Velhinha, velhinha… … é a única que está memorizada. Há uma data de anos.

Sorri sempre,
Ainda que o teu sorriso seja triste.
Porque mais triste que o teu sorriso triste
É a tristeza de não saberes sorrir.





segunda-feira, junho 21, 2004

S.O.S.

Confesso que sou eu.

50 visitas ao meu blog. Quase todas minhas. Mais de metade, a tentar eliminar as minhas entradas no contador. Sei que as posso eliminar, mas não sei como fazê-lo. Que querem? O meu Q.I. não ajuda.

Alguém me pode ajudar?
Por favor?!

Foi-se embora

Um dos miúdos mais giros da aldeia. Tinha 24 anos. Não chegou a festejar o primeiro ano de casado. Foi-se embora. Não, sem antes agonizar 3 dias num hospital. Porra!

No Domingo passado

No Domingo passado acordei deprimida. Deprimida, não será bem a palavra certa. Relaciono-a sempre com falta de saúde, não sei porquê. E doente, eu não me sentia. Agora, que estou a pensar no assunto, acho que me sentia mais oprimida, que deprimida, porque me levantei com uma vontade de sair daqui, que não conseguia conter. Fugir. Sozinha. Era isso que me apetecia. Sair daqui, sozinha. Não ter que lidar com ninguém. Acho que estava cansada, isso sim. Sem energia. Sem saber ainda, a fuga ir-me-ia recarregar as baterias. Voltei como nova.

Quando reconheci a vontade, nunca me passou pela cabeça que fosse possível. Sair daqui um dia. Deixar os miúdos entregues ao meu marido, sempre tão ocupado. Mas surpreendentemente, era possível. Nem queria acreditar. Depois da possibilidade verificada, instalou-se a questão: ir para onde. O meu marido sugeriu logo a esplanada nova do miradouro, a poucos kms daqui. Era pouco. Tinham que ser muitos kms. Além disso, fui logo invadida pela minha imagem sentada na esplanada, horas a fio, de livro debaixo dos olhos e nádegas rígidas. Não me agradou. Pensei também na hipótese de estar suficientemente exposta para as abordagens inoportunas dos homens: Desculpe, tem lume? Posso fazer-lhe companhia? Sabe onde fica isto ou aquilo? Ou pior ainda, se não fossem educados. Na!!! Pensei eu. Gajos, não. Afinal, actualizei-me. Já não se metem comigo, na rua. Na esplanada, não sei, mas na rua, não. E mesmo quando me dirigem a palavra, por motivos perfeitamente aceitáveis, dizem “minha senhora”. O respeitinho pelos cabelos brancos, digo eu. Bendita a hora que os deixei de pintar. Desta já eu me livrei e agrada-me, sinceramente.

Fui devagarinho, assaltada pela ideia de andar de comboio. No comboio ninguém se metia comigo. Até Lisboa eram 1,5 h para lá, mais 1,5 h para cá. 3 horas de sossego, a ler, seguramente. O meu marido tentava demover-me. Porque não ia eu de carro. Devagarinho por aí fora, até à esplanada. E ele a dar-lhe, pensei eu. Nem esplanada, nem carro. Vou mas é até Lisboa e de comboio. Ele foi um querido e concordou. Porreiro, pensei eu. Detestava ir-me embora e deixá-lo contrariado.

Vesti-me. Vesti os miúdos. Fui escolher um livro para levar. Estava indecisa entre 2. Como não encontrei um, a escolha foi facilitada. O Livro do Riso e do Esquecimento. Milan Kundera. Ofereceu-mo aquela que foi a minha melhor amiga durante anos. Agora já não sei se é a minha melhor amiga. Não a vejo, vai para 10 anos. Foi viver para os EUA. Telefona-me de vez em quando, sempre a lamentar-se da minha falta. Juro que acredito que ela, ainda me faz mais falta a mim. Minha querida amiga. Que saudades… até fazem doer. Trocamos mails de quando em quando. Desde Dezembro que não recebo nenhum. Continuo a mandar-lhe mensagens. Não sei mesmo o que se passa. Ofereceu-me o livro uns meses antes de se ir embora. Já me tinha oferecido A Insustentável Leveza do Ser. Como percebeu que eu tinha gostado do autor, bisou. Escolher um livro para ler. Lembrar-me da minha amiga. Comecei a ganhar cor e lá fui eu até à estação do comboio. O meu marido levou-me. Os miúdos acompanharam-nos. Quando parámos, a minha filha mais nova, começou a fazer uma birra, uma birra não, uma birrona. Queria a chucha e a fralda. Tinha-me esquecido. Meu Deus! Tinha-me esquecido da chucha e da fralda. Tentei fazer-lhe entender que se não estava ali, não a podia querer. Está bem, está. Ela continuava a querer a chucha e a fralda. Senti-me tão culpada. Como pude ter-me esquecido. Estava a começar a afundar-me na culpa, quando o meu marido me disse para sair do carro. A bem dizer, ele não disse, ordenou. Normalmente, era o suficiente para eu fazer logo o contrário, mas ainda bem que desta vez, fui obediente, senão lá se ia a minha ida a Lisboa. Sai do carro. Nem olhei para trás. Comprei o bilhete. Esperei pouco tempo. Entrei no comboio.

Dei logo o primeiro fiasco. Não. Estou a brincar. Realmente foi fiasco, mas foi o único. Prometam que não se riem. Não dei com o número dos lugares. A sério. Entrei na carruagem certa, na classe certa e depois não dei com o número do lugar. Fiz a carruagem para lá. Voltei… e nada. Não via os números. Até levantei discretamente a película de protecção de cabeça, num dos bancos, para ver se estariam escondidos, mas não. Pensei: Porra! Não vou perguntar a ninguém onde estão o raio dos números. Não vou não. E não perguntei mesmo. Se não me tivesse apercebido de uma rapariga a olhar para mim, ainda fazia o corredor outra vez. Assim, embiquei logo para o bar. É que de repente, surgiu-me uma vontade incontrolável de beber um café. Tirem-me daqui!!!

Entrei no bar a cambalear (por causa dos solavancos do comboio). Um gajo, no banco junto à janela. Olhou insistentemente para mim. Rosnei logo, mas ele não ouviu. Numa das duas mesas, um casalinho. Pedi o café ao empregado e comecei logo a rezar baixinho para ele se despachar com a merda do café, antes que viesse alguém e se sentasse na mesa vazia. Não me apetecia nada ter que ir beber o café para os bancos, junto à janela. Despachou-se. Fui-me sentar na mesa. Ainda estava a mexer o café, entrou o revisor. Quando se aproximou de mim e me pediu o bilhete, aproveitei logo para lhe perguntar, o mais baixinho que consegui, onde estavam fixados afinal, os números dos lugares. Felizmente o homem ouvia bem e respondeu-me que estavam na parede, junto às cortinas. Se é lá sítio para se porem o números, sinceramente. Como o café estava quente, resolvi tirar o livro da mochila. Rapidamente, tal qual uma nódoa, me infiltrei nas suas páginas. Só voltei a levantar os olhos, quando uma senhora, uns 10 anos mais velha que eu, magra e muito bem apresentada, se aproximou de mim e me perguntou, num português estrangeirado: Desculpe, sabe como é que isto se abre? Era uma sandes mista, dentro de uma daquelas embalagens triangulares de plástico. Abria-se como todas as outras, só que aquela estava selada com um autocolante. Foi canja. Desenrasquei-me logo. Desfiz-me em simpatia com a senhora. Para ser mais prestável do que fui, só faltava comer a sandes, por ela. Lá lhe disse qualquer coisa que a fizesse pensar que aquilo acontecia a qualquer um. Quando me agradeceu, pensei que quem devia agradecer era eu. Mal sabia ela que tinha acabado de apagar completamente, a minha frustração de há bocado com os números. Afinal, entre não saber abrir uma embalagem de sandes e não conseguir ver os números dos lugares de um comboio, venha o diabo e escolha.

Acabei por fazer a viagem toda, no bar. Cheguei a Lisboa. Desci no Cais do Oriente. Acendi um cigarro. Pus a mochila às costas e lá fui eu. Sentia-me um bocado incomodada. Parecia que me faltava alguma coisa. De repente percebi o que era. Não sabia o que fazer com as mãos. Faltavam-me as miúdas. Uma de cada lado. Lá interiorizei que estava sozinha, esqueci que tinha mãos e, passados 10 ou 15 minutos, já estava como peixe na água. Que feliz que me sentia. A sério. Parecia eu que estava a conhecer uma cidade nova. E estava. Há mais de 8 anos, pelo menos, que não fazia isto. Já fui uma data de vezes ao Parque das Nações, mas sempre com os miúdos. Percebi, no Domingo passado, que me toldam a vista. Reparei em coisas que nunca tinha reparado. Parecia uma esponja. Observava tudo e andava. Fui onde me apeteceu. Comi quando me apeteceu. Vi montras até me fartar e demorei o tempo que quis à frente delas. Entrei em lojas, mexi nas coisas. Estive dentro duma livraria, o tempo que quis. Meu Deus! Já nem me lembrava do cheiro das livrarias. E, andava, andava… Só parei para comer 2 fatias de pizza, beber uma coca-cola e encontrar-me novamente com Milan Kundera.

Quando me começaram a doer os pés, achei que estava na hora de vir embora. Eram quase 6 h da tarde. Já tinha comprado lembranças para os miúdos. Estava tudo feito. Com uma paz de espírito imensa, aproximei-me da estação. Veio o comboio. Entrei. Sim!!! Dei com os números dos lugares. Desta vez, estavam onde deviam estar. Acomodei-me novamente nas páginas do meu livro. Quando cheguei, esperava-me o festival do costume. Mas soube-me bem. Já estava com saudades. E as favas que o meu marido tinha preparado para o jantar, pareceram-me deliciosas.

Que dia tão bom. Foi a única coisa que tive tempo para pensar antes de adormecer.


domingo, junho 20, 2004

Mimos

Rir? Pensamos alguma vez em rir? Quero dizer, rir verdadeiramente, além da brincadeira, da troça, do ridículo. Rir, gozo imenso e delicioso, gozo completo…
… … anda, vamos brincar a rir? Estendíamo-nos lado a lado sobre uma cama, e começávamos. A fingir, claro. Risos forçados. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos faziam rir. Então chegava o verdadeiro riso, o riso inteiro, que nos transportava no seu imenso rebentar. Risos desatados, retomados, empurrados, estalados, risos magníficos, sumptuosos e loucos… E ríamos até ao infinito do riso dos nossos risos… Oh riso! Riso do gozo, gozo do riso; rir é tão profundamente viver.

(texto escrito por Santa Annie Leclerc, em 1974. Citado por Milan Kundera, em O Livro do Riso e do Esquecimento, publicado em 1979)


É curioso, este exercício sobre o riso e a gargalhada, de que nos fala Milan Kundera. Curioso, divertido e eficaz. Salutar, também. Faz bem à alma. Diria eu, que faz mesmo bem, a tudo. Escolhemos um parceiro e jogamos à gargalhada. Vamos lá ver, quem ri mais. Vamos lá ver, quem pára primeiro de rir. Ninguém quer perder. Por isso rimos, rimos, rimos… cada vez mais. A dada altura (quando nos começa a doer o estômago e os músculos da face) já nem nos importamos de perder. Mas também já não conseguimos parar de rir. E continuamos a rir. Escorrem-nos as lágrimas pelo rosto abaixo, mas rimos… cada vez mais. É giro. É fácil. A escolha do parceiro, não é de todo, importante. Podemos jogar com crianças, adultos, homens, mulheres, amigos, etc. Ninguém se compromete. Ninguém se torna dependente. Ninguém quer desistir. E, nunca queremos mais. Quando acabamos o jogo, estamos satisfeitos. Retomamos a nossa vida, com alegria e boa disposição.

Com os mimos, também devia ser assim. Escolhíamos um parceiro, e jogávamos aos mimos. Vamos lá ver quem mima mais. Vamos lá ver quem pára de mimar primeiro. Ninguém quer perder. Por isso, mimamos, mimamos, mimamos… cada vez mais. Mimos de ternura. Mimos de gozo. Gozo dos mimos. Mimar é tão profundamente viver.

Mas… a diferença, está no “mas”. No jogo dos mimos, há muitos “mas”. “Mas” que nos lixam, que nos amarram. “Mas” que nos fazem desistir do jogo. Parar de viver. Parar de rir. No jogo dos mimos, não podemos querer mais. Não podemos ser ridículos nem verdadeiros. Ou só podemos ser ridículos e verdadeiros, se tivermos menos de 10 anos. Quando a inocência justifica a vontade de mimar. Quando justifica a verdade e o ridículo. Quando se admite que sejamos honestos e palermas. O jogo dos mimos é condicionado pela vida que todos admitem para nós. Condicionado pelas regras que aceitamos serem criadas para as nossas próprias vidas. Por isso, nos mimamos pouco, uns aos outros. Por isso, desistimos de mimar, de ser mimados. Por isso morremos. Fechamos casas e vamos embora. Vamos embora de mansinho, na esperança de voltar um dia. Menos palermas. Menos honestos. Mais crescidos. Ficam os mimos por dar. Contidos no nosso corpo. Registados na nossa alma. Na nossa memória. Como se tivessem sido dados.

… …

Mais vale brincar ao jogo do riso. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos fazem rir. Vamos lá ver quem ri mais. Vamos lá ver quem pára primeiro de rir. Recompomo-nos depressa. Prontos para retomar a nossa vida, com alegria e satisfação. Viver com alegria. Muitas vezes cantamos. Cantamos mesmo em voz alta. Que se lixem os vizinhos. Que se lixe se não temos boa voz. Que se lixem as regras, desta vez. Cantamos a gritar. A gritar “O homem do leme”, dos Xutos e Pontapés (desculpem-me, é a que eu gosto mais de gritar). Caramba, desforro-me bem com esta canção. Hei-de conseguir ser feliz a gritá-la. Ridícula, palerma e feliz.


sábado, junho 19, 2004

Penitência

(conversa entre amigas II)

Pois é, amiga... imediatamente após ter escrito Nós e os gajos, recebi 3 mensagens da minha consciência. A malvada não me deixa dar um passo em falso.

A primeira mensagem, foi um texto que li algures, escrito por um gajo, quero dizer, um homem. Hora do chá, era o título. Mais doce que uma carta de amor. Consegues imaginar? Acredita que não.

A segunda mensagem, foi um postal que recebi do meu filho de 9 anos. Ok, ainda não é um homem, mas vai ser, a avaliar pelo conteúdo do postal. Porra, até me vieram as lágrimas aos olhos. Foi por um triz, que não mutilei os dedos das mãos (para não voltar a teclar, percebes?)

A terceira mensagem, foi dela própria. Da minha consciência. Clara e directa. Em forma de penitência, compreendes? Disse-me ela:
- Menina! Venha ao quadro e escreva 500 vezes, não voltarei a falar (escrever) mal dos homens.

Ainda bem que não me disse para escrever no blog. Já viste o que era? Bom... fui para o quadro e comecei a escrever. Não consegui, pá! Desesperei a meio. Tive que negociar a penitência. Pedi-lhe por tudo, para que não me obrigasse a continuar. Ela concordou, com uma condição: pedir desculpa, públicamente, aos homens. Por isso, lá terá que ser.

Peço desculpa aos ga... homens, por ter falado (escrito) mal a respeito deles. Já agora... especialmente, ao homem que escreveu Hora do chá (não me perguntes quem é, que eu não sei) e ao meu filho.

A partir de agora, escreverei, sei lá... ... sobre mimos, água, carros, Domingos, osgas e outras coisas pequenas.

domingo, junho 13, 2004

Nós e os gajos

(conversa entre amigas)


Ai, que bem que me soube escrever “gajos”. Agora compreendo a minha filha de 6 anos, quando me pergunta pela quinquagésima vez, se “merda” é uma asneira. Dou-lhe sempre resposta, mas ela, esperta como é, lá conseguiu encontrar forma de dizer “merda”, sem que eu me zangue. E delicia-se com isso. Assim estou eu. Hei-de experimentar dizer, em vez de escrever, a ver se me sabe tão bem.

Pois é amiga, hoje apeteceu-me escrever sobre gajos (eheheh). E escrever para ti. O assunto não é novidade, não é? Mas hoje vai ser abordado de forma diferente. Só eu é que falo, ou melhor, escrevo. E tu, tens que ouvir tudo até ao fim, ou melhor, ler. Bom, é só para ver se tu não gastas tanto dinheiro em telefonemas. Só por isso, mais nada.

Pois, os gajos… … o que é que posso dizer sobre os gajos. Para começar, que são seguramente, uma raça diferente. Seguramente. Só pode ser. Até na linguagem. Já reparaste no sentido da expressão “és boa como o milho”? Faz algum sentido? O que é que eles verão no milho? Estarão eles a comparar-nos às galinhas? Eles são os galos? Comem milho, que é saboroso? Sinceramente… … É porque é suposto ser um elogio, não? Felizmente, já não oiço disso há muito tempo. Mas marcou-me. Nunca mais me esqueci dessa.

Ainda em relação ao piropos. O melhor que ouvi até hoje foi… … foi esse, exactamente. Uma vez só. Quer dizer, ouvi-o várias vezes, mas uma das vezes foi a melhor. Não por aquilo que ele disse, mas pela forma como o fez, arriscando a própria vida. Pois. Gostei dessa parte, do risco pela própria vida. Vou-te contar, que foi giro. Em Belém, junto à passagem de nível, havia lá uma paragem de autocarro. Eu ia quase a chegar à paragem, para apanhar o autocarro. Já tinha atravessado a rua e no mesmo sentido que eu, passou um carro. Um carocha branco. Pela janela, saiu um gajo (eheheh) até à cintura, que me gritou: Ah carago!... és boa como o milho! Eu acho que foi “carago”, que ele disse. Dei mais 3 ou 4 passos e estava na paragem. Cheia de gente, a olhar para mim. Por acaso não me lembro de ter corado. Acho que foi por causa do esforço que ia a fazer para conter o riso histérico que me queria saltar pela boca. Limitei-me a sorrir.

Ok, mas voltando aos gajos… pois… eu acho que é uma raça só, mas com variantes. Não as conheço todas, seguramente; nem quero porra, que as que conheço já dão pano para mangas (malditos 40 anos) mas dentro das tais variantes, há alguns pontos em comum, por isso é que são todos da mesma raça, ‘tás a ver?!

Os pontos em comum, ficam para depois. Agora vamos às variantes. Pois agora vendo bem, eu até acho que são só duas: Os que respeitam as mulheres e os que não respeitam. Depois, dentro dos que respeitam as mulheres, temos os que respeitam todas as mulheres, menos as deles. Depois temos ainda aqueles que só respeitam as mães, as deles, claro. Conheces estes? Portanto isto é tudo uma questão de falta de respeito. E eles sabem isso. Por isso é que amigos, amigos, só têm homens. E nós, mulheres. Porra, esta conclusão é deprimente. Devo estar a ver isto mal. Vamos lá ver de outra maneira.

Ora bem… temos os gajos (eheheh – é bom, hás-de experimentar) que acham que as mulheres são seres inferiores. Simplesmente isso. Normalmente são casados, mas nem se dá por isso. Portanto, estes devem ser os que não respeitam as mulheres, certo?

Depois, temos aqueles super queridos. Amigos. Meiguinhos. Compreensivos. Enfim, melosos até dizer chega. Estes também costumam casar. E casam cedo. Mas o casamento dura sempre pouco. Portanto estes devem ser os que respeitam todas as mulheres, menos as deles. Concordas?

Depois temos ainda os que acham que as mulheres são todas iguais e iguais aos homens. É tudo a mesma coisa. Pois. Estes nem sequer costumam ser muito inteligentes. Nem dão pela diferença, ‘tás a ver? De maneira que dá-lhes para tratar mal as mulheres. Todas, menos a mãe. Tenho impressão que alguns, até a mãe tratam mal. Logo estes devem pertencer à penúltima categoria.

Só falta uma. Os que respeitam mesmo, todas as mulheres. Costumam ter p’ra mais de 60 anos. Que é para teres a certeza que trataram sempre bem, as mulheres. Com respeito ‘tás a ver? Mas até estes, pá! Se as suas mulheres têm o azar de fazer um AVC antes deles, espetam logo com elas num lar.

Pois é amiga! Estás a ver a qual variante pertence o teu? Estás com dificuldade? Parece-te que pertence a todas? Epá, esquece. Aprende mas é a gostar dele como é. Não tentes mudar nada, a sério. Tenta ler nas entrelinhas e ver o lado positivo da coisa. Os tais pontos comuns por exemplo. Todos eles precisam imenso de nós. E para montes de coisas. Precisam de nós para dar uma queca. Precisam de nós para … … precisam … … pronto, agora não me lembro assim de mais nada, mas precisam, de certeza absoluta. E há outra coisa, que também é sempre comum, neles: Todos, nos sabem desarmar. Até os menos inteligentes. Esta é que nos lixa, não é, amiga?

Por isso... esquece tudo o que te disse. Faz apenas o que o teu coração mandar. E olha, não me oiças só a mim. A sério. Muitas vezes, não sei o que digo.