segunda-feira, novembro 13, 2006

Às voltas com a minha memória

Acredito que nem toda nós reajamos assim, mas eu deixo-me perseguir por recordações ou imagens que surgem numa espécie de flash e me relampejam a memória. Muitas vezes este processo é desencadeado pela música. Outras vezes por impressões dejà vu. Ou ainda, por rostos. Refiro-me a perseguição, porque alguns destes flashes não me dão descanso, enquanto não os localizo aqui (algures, no meu cérebro). Quando finalmente, focalizo a memória, acaba a perseguição. E eu fico em paz. Enfim, suponho que sejam problemas que me trazem os anos somados.

Já lá vai o tempo em que me incomodava com isto. Hoje, resignada ao avanço na idade e ao recuo no controle da minha memória, opto por cumprimentar todas as caras que me pareçam familiares, mesmo que não me lembre de todo, de onde as conheço. Enfim… prefiro passar pela maluquinha que fala a toda a gente, do que passar por mal-educada.

Mas o motivo que me leva a escrever este texto não tem muito a ver com caras familiares. Tem antes, a ver com uma música. E há uma que me tem perseguido de há uns anos a esta parte. Uma que é diferente de todas as outra, que me trazem recordações.

Todas as músicas que estimulam a minha memória estão habitualmente, identificadas. Reconheço-as. Identifico-as. A elas, músicas e às recordações que me atiçam. É como se pertencendo ao meu passado, tivessem comigo, sido arrastadas enquanto caminhámos no tempo. Crescemos juntas.

Mas esta música que me perseguia é uma espécie de cara familiar que não consigo situar. Conheço-a mas não sei de onde. Pior ainda… uma cara familiar e íntima. Muito intima.

Apesar de identificar o título da música e da banda que a toca e canta, incomodava-me profundamente, não ser capaz de a situar no embaralho em que a minha memória se tornou. Com a agravante de ser uma música que me dá colo, era quase uma desconsideração, não me lembrar da primeira vez que a ouvi, do percurso que fiz com ela. Hoje, depois de a tornar a ouvir, desta vez, no rádio do meu carro, confrontei-me irritada, com o meu arquivo. Embrenhei-me por um matagal ressequido e de catana numa mão e um mapa na outra, desbravei terreno, segui as pistas e cheguei ao princípio. Consegui. Encontrámo-nos.

Trata-se de Everybody Hurts dos REM. Foi a primeira música que coloquei no blog (podem ouvi-la e vê-la no sidebar). Carregava, desarrumada, esta música. No ano passado, ao topo das minhas escadas, alheei-me da conversa que mantinha com uma pessoa, quando me entrou pelos ouvidos, vinda do rádio do carro parado à frente da minha casa. Já fartinha de a ouvir, tive o primeiro laivo de focalização na minha memória. Relacionei-a com um filme que tinha visto anos atrás - When a Man Loves a Woman , realizado em 1994. Um filme que me marcou profundamente, na altura em que o vi.

Demorei um ano a confirmar esta sensação. Foi hoje, de volta do Google
aqui e depois, aqui. Gastei tempo neste intento, mas confirmei de facto, que a proximidade a esta música e a forma como me toca, tem tudo a ver com a fase da minha vida em que vi o filme e calculo, a tenha ouvido pela primeira vez. A música é de 1992.

Às voltas com a minha memória a enfraquecer, concluo que esta melodia, seja talvez, a melodia da minha vida.

3 comentários:

Keratina disse...

Tamos bués de fatalistas hoje e nostálgicas...
Uma garrafa de Sedinhas tinto 2003 e tudo parece mais claro.
Beijinhu gande.

riacho disse...

Agora já podes "passar por ela e cumprimentá-la" com a plena consciência e leveza de pensamento de que encontraste o lugar certo para ela.

Encontraste?

Espero sinceramente que sim :-)

Aq disse...

Achas? Que uma garrafa de vinho (ainda por cima tinto) me aclarava a memória? Dava era cabo do que sobrou :) Beijo Grande, Keratina.

Encontrei, sim. Está arrumadinha :)
Abraço apertado, linda.