terça-feira, maio 23, 2006

A história era afinal, esta:

2ª Feira, dia calmo, já que só costumam aparecer cinco. Os cinco mais difíceis de aturar, mas apenas cinco. Todos com 7 e 8 anos. Consegui trabalhar com todos ao mesmo tempo, apesar de trazerem TPCs diferentes. Estavam reactivos às minhas solicitações. Um deles, até aceitou ler o texto 2 vezes. Eu esfregava as mãos de contente. Cheguei mesmo, a comentar (correndo o risco de estragar tudo):

- Epá!... vocês hoje, estão a portar-se tão bem, que até me apetece dar-vos beijinhos.

Risota geral.

- A mim, também? – Perguntou ele.

- A todos – respondi.

E continuámos impávidos e serenos com as nossas tarefas. Ele ficou para o fim porque trazia mais trabalhos. Os outros passaram ao recreio, ali mesmo, ao lado, debaixo do meu olhar. A dada altura desabafei.

- Vá lá, vamos lá despachar isto que eu estou cheia de fome.

- Vais ao café, Ana? Posso ir contigo? – Perguntou entusiasmado.

Reparei que os outros olharam todos para trás à espera da minha resposta. Costumo levar apenas um de cada vez. Normalmente o que pergunta primeiro. Decidi:

- Ok. Hoje vamos todos. Mas só depois de te despachares.

Ficaram entusiasmadíssimos. Surpreendentemente, acalmaram depressa e lá me despachei com ele. Levantámo-nos. Ele arrumou as coisas na mochila e pô-la ao cantinho sem ser preciso eu dizer nada. Enquanto eu arrumava as cadeiras, aproximou-se de mim e disse-me:

- Oh, Ana!... ‘tás-te a esquecer.

- Não estou, não. Vamos todos ao café – Respondi-lhe sem me fixar nele.

Os outros, agitados, prepararam-se logo para sair. Ele não parava de me rondar. Foi isso que me chamou a atenção. Não se chegar aos outros, a caminho da porta. Fixei-me nele, expectante. Com aqueles olhos e sorriso de sacana, repetia:

- ‘tás-te a esquecer… ‘tás-te a esquecer…

Convenceu-se que eu não o estava a entender e sem rodeios, esclareceu-me:

- Tu disseste que me davas beijinhos.

Dei-lhe todos. Todos os que consegui dar. Emocionada. Enternecida. Gratificada.

…………………………………

Era esta a história que eu tinha para contar. Ao invés de a contar, detive-me numa acesa discussão sobre tons de preto. Preto claro. Preto escuro (onde se lê preto, pode-se ler branco, ou verde, ou amarelo, ou até azul clarinho). É estúpido. Eu sei.

Ainda bem que tenho o blog. Conta-a aqui.



7 comentários:

aya disse...

Sei do que falas...

Bj

Keratina disse...

Uma das histórias mais meiguinhas que já li por aqui. Chego à conclusão de que o carinho é uma coisa que cura tudo, traquinices incluidas.
Já te disse hoje que gosto de ti?
Jokas.

Aq disse...

É, Aya. Às vezes dão-nos cabo da cabeça, mas é impossível resistir-lhes. Principalmente quando nos fixamos no olhar e no sorriso. Beijinho para ti.

:) Também gosto de ti, Keratina.

Vido disse...

Às vezes tiram-nos do sério, outras fazem-nos chorar. As crianças têm esse dom, o de ir directo ao nosso coração. Um bem-haja para ti e para esses pequenos.

Aq disse...

Muito obrigada, Vido, pelas palavras, pela visita. Sê benvindo.

Keratina disse...

Não tenho direito a beijo, pukê?
Explica-me como se fosse uma criança de 4 anos...

Aq disse...

Upss!... "dou-te todos. Todos os que conseguir dar. Emocionada. Enternecida. Gratificada." Chegam-te? :)