Descobri que não moro numa aldeia só por causa dos meus filhos.
Descobri também que sou muito preguiçosa.
…
Saí do trabalho ao final da tarde. E antes de regressar à minha casa que sabia vazia e silenciosa, resolvi parar no celeiro da lenha. Carreguei a quantidade habitual. Fiz a conversa da praxe e segui o meu caminho, durante o qual tomei algumas decisões.
Decidi: Chego a casa e descarrego a lenha. Telefono à minha amiga a dizer que afinal, não me apetece ir às compras. Tomo um duche bem quente. Mudo de roupa. Acendo a lareira. Faço jantar só para mim e bebo o João Pires que sobrou do jantar de ontem. É isso que vou fazer.
Parei o carro à porta da minha casa. Hoje, vazia e silenciosa. Subi as escadas e tornei a descer com o cesto da lenha. Voltei a subir a custo. Deixei 3/4 da lenha dentro do carro. Tomei o meu duche de água bem quente. Mudei de roupa. Acendi a lareira. Não fiz jantar para mim, nem bebi o João Pires que sobrou do jantar de ontem. Mas foi só, porque me entretive tempo demais, ao telefone com a minha amiga.
Enganei o estômago bem enganado, com uma sopa de feijão verde, bem quente e perfumada. Puxei o cadeirão para a frente da lareira e ouvi as notícias como quem finalmente se pode presentear com algo que há muito tempo, deseja. Depois, abandonei-me às chamas que hoje, dançam só para mim. E deixei-me estar, com os olhos ora abertos ora fechados, sobre elas. Não sei quanto tempo.
Quando me fartei, vim ler. Li. Ofereci mais lenha à lareira e li. E continuei a ler e a oferecer mais lenha à lareira. E depois… já não tinha mais lenha para a lareira. Mas ainda tinha coisas para ler.
…
Vou? Não vou? Ainda cheguei a vacilar.
Vou. Desci as escadas e fui buscar mais lenha. Ao carro. Pois.
Concluí: se eu morasse em Lisboa, era preguiçosa à mesma. Por certo, teria preguiça de descarregar a lenha toda do carro. Como hoje tive. Mas mais seguro ainda, é que se eu morasse em Lisboa, junto da minha família, eu não tinha lareira. Tão-pouco estacionaria o carro mesmo à porta de casa. E muito menos… iria ao carro descarregar fosse o que fosse, há 1 da manhã.
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