O alarme da loja deu sinais de alterado funcionamento. Liguei para a empresa. Falei com o dono. Expliquei-lhe os sintomas.
- Não deve ser nada grave – concluiu.
Insisti. Não queria correr o risco do alarme disparar durante a noite. Dez minutos de viagem. Mais meia hora para conseguir acordar os miúdos e metê-los no carro (que em casa é que os não deixava, sozinhos). Quando finalmente chegasse à loja, já a vila inteira estava acordada.
Compreendeu o quadro. Voluntariou-se a confirmar os sintomas. Concordou comigo que seria alguma coisa com a bateria. O alarme só dispararia se faltasse a energia.
- Oh, diabo! – pensei – É a coisa mais fácil de acontecer. Basta que chova (aqui na província é assim).
Lá o consegui convencer que a resolução do problema não podia esperar até há manhã seguinte. Os dois técnicos responsáveis pela zona estavam longe. Havia um outro, mas…
Deduzi que algum motivo haveria, para não ser este Terceiro Técnico, preferencialmente enviado ao local. Afinal, era o que estava disponível. Contudo, não me quedei muito nesse assunto, já que apesar de alguma coisa, a decisão de o enviar foi tomada.
Tinha que esperar. Esperei. Esperei. Para trás e para a frente, na loja. Não sei quantos cigarros fumados. Pessoas à minha espera em casa. Resolvi ir até à porta. Não havia movimento, nem de carros, nem de pessoas. Estava quase na hora do jantar. E eu, queria ir embora.
Ao princípio da rua, avistei um carro branco. Aproximou-se a uma velocidade louca. Reconheci o logótipo da empresa. Como não dava sinal de afrouxamento, acenei. Ainda bem que não havia ninguém na rua. Juro que me envergonhei com a ensurdecedora travagem que o Terceiro Técnico obrigou o carro a fazer. Fez uma marcha-atrás tão rápida e tão indiscreta como a travagem. Estacionou à primeira, e saiu do carro como se nada se tivesse passado. Simpático, cumprimentou-me. Um aperto de mão frouxo. Surpreendeu-me. Um homem decidido não aperta assim a mão e ele, tinha-me parecido um homem decidido, ou pelo menos de reflexos rápidos.
Perguntei-lhe se sabia ao que vinha. Disse-me que não. Ok. Tive que explicar tudo de novo. Rematei com a suspeição de que seria um problema de bateria. Afinal, o sinal Bat, acendia, a par com o som intermitente.
- Bateria? Não – respondeu-me convicto.
- Não? – Perguntei, admirada. Se ainda nem tinha visto o sistema, como poderia estar tão certo?
Ficou a olhar para o aparelho o tempo suficiente, para me fazer começar a entender a renitência do envio deste Terceiro Técnico. Vociferava monossílabos imperceptíveis. E nada fazia. Eu estava pasmada.
Começou a palpar os bolsos todos. Tinha muitos. Quase parecia uma qualquer coreografia de dança, de um qualquer desses estilos musicais bem ritmados. Era o telemóvel que procurava. Lá o encontrou. As perguntas que fez ao colega, que segundo pareceu estava de férias, eram básicas. Dignas de serem feitas por mim própria, que não percebo patavina de sistemas de alarme. Juro que não conseguia tirar os olhos de cima do homem. Abismada.
As perguntas que fez, as respostas que obteve, de pouco adiantaram. Continuava sem saber o que fazer. Pareceu-me uma eternidade o tempo em que se deixou ficar à frente do equipamento, repetindo exactamente, que não sabia o que fazer.
Ao final de não sei quanto tempo, lá consegui eu, soltar algumas palavras. Insisti na bateria. E ele insistiu que não. Perguntou-me se podia desligar o quadro eléctrico.
- Faça favor – respondi.
- Faça alguma coisa – acrescentei, pensando.
Depois da experiência feita, explicou-me porque não podia ser da bateria. Atrevi-me a argumentar (tinha que me atrever a alguma coisa, senão não saíamos dali)
que podia, antes de descarregar completamente, dar sinal disso mesmo. Afinal, era o que vinha fazendo. Dava um sinal, periodicamente.
Imediatamente após o meu argumento, vejo novamente o Terceiro Técnico a palpar os bolsos. Todos. Mais um telefonema.
- Olha lá!... isto não pode dar sinal antes de descarregar completamente? – foi a pergunta que ele fez. Eu olhava para ele, boquiaberta.
Bom… lá resolveu que tinha que abrir o bloco. Finalmente. Foi ao carro buscar a caixa das ferramentas. Voltou e pousou-a no chão, entre as pernas, encostada à extremidade da montra, o que lhe aumentou consideravelmente a distância de acesso ao equipamento. As pernas abertas também não ajudavam muito ao equilíbrio. Não sei quantas vezes, deu um passo atrás, e baixou-se à procura da chave certa. De todas as vezes que o fez, permitiu-me que visse o fundo das suas costas… peludas. Invulgarmente peludas.
O espanto que aquele Terceiro Técnico me causava, não havia meio de cessar. Tive mesmo que me encostar ao balcão, depois de o ouvir dizer:
- Ah!... É a bateria.
Como se tivesse feito uma descoberta genial. Não disse, mas se o ouvisse a acrescentar, “só podia ser”, juro que já não me surpreendia.
Admiro o empregador deste Terceiro Técnico. Há pessoas bondosas. Merecem mesmo, o céu.
2 comentários:
Porra!... deseja-me melhor sorte, miúda! Chiça!... :) beijo.
Bom Dia Miuda,
É giro, imaginar-te... a andar de um lado para o outro a fumar e a fumar...
Imaginar-te a pensar, a insistir... se não te tivessem dado chá... imagino que acabasses ao estalo com esse terceiro técnico... Porque é que não te candidatas ao lugar????
Pareces-me, muito mais esperta... que o terceiro técnico.
Beijos
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