segunda-feira, agosto 23, 2004

José Matias

Isto do amor, tem muito que se lhe diga. E pode-se dizer tudo (como os malucos). Das mais variadíssimas formas. Todas questionáveis, se nos quisermos dar a esse trabalho. Ou aceitáveis, se não estivermos para aí virados. Refiro-me ao Amor, propriamente dito. Aquele que realmente existe, ou devia existir. Não exactamente ao conceito de propriedade ou compromisso, que muitos confundem com amor. A mim parece-me mais uma questão de ética. E refiro-me também ao amor sem laços de sangue. Porque o que temos aos nossos filhos e eles a nós, (irmãos, enfim)…é regra geral, incondicional, logo inquestionável. A esse, passo à frente. Hoje.

Cada vez que me ponho a pensar nisto do amor, que nos faz tanto bem e tanto mal, lembro-me sempre dos Estados de Kubbler Ross: Raiva. Negação. Negociação. Depressão. Aceitação. Ok! Eu sei que foi aplicável a doentes terminais. O que à partida, não terá nada a ver com amor (ou terá?). Mas parecem-me nitidamente, as várias etapas de um amor que se vive. Em maior ou menor espaço de tempo. Com ou sem final feliz. Aqui, a única diferença é o estado de depressão. No final infeliz, depressão, tem o sentido de crise, conflito. No final feliz, tem o sentido de concavo, ninho. Nos outros estados, o sentido é igual, para os dois finais.

Raiva – Estou apaixonada. Porra!... Ok! É bom, quando vivemos momentos de envolvente magia. Cumplicidade. Olhamos nos olhos e sabemos… Ouvimos a voz e dulcificamos. Mimos. É bom, sim. Mas não é bom quando somos privados da companhia. Quando aparecem as dúvidas e nos fazem fragilizar as certezas. Por isso, a raiva. Muitas vezes, não queremos estar apaixonados.

Negação – É para este estado que passamos, a seguir. E lá permanecemos, durante algum tempo. Não interessa nada se os momentos de magia são em maior quantidade que os de incertezas. Pois… eu sei que devia interessar, mas a verdade, é que não interessa. Passamos sempre à fase da negociação. Ok!... pronto!... se os momentos de incertezas são em maior número, passamos mais depressa ao estado da negociação, que é para ver se acabamos com o suplício depressa. Se não, andamos ali mais tempo a bater com a cabeça nas paredes.

Negociação – É a fase que eu gosto mais. A sério. Tornamo-nos muito imaginativos. Se formos espertos e percebermos em que fase é que estamos, saímos a ganhar. Caso contrário, nem nos apercebemos que passámos por esta fase. É nesta fase que se define qual dos dois é o sofredor. Qual dos dois é que dá menos (ou não dá nada). É neste estado que se definem os papeis. Ok! Por mim, só fazes isto… o resto, continuo eu a fazer. Melhor ainda… não faças nada por mim, ama-me apenas. Protege-me só quando eu pedir. Dá-me espaço. Eu sou eu. Tu és tu. Não confundamos as coisas. Mas, porra!... não ensurdeças. Este é o melhor acordo. Garanto-vos eu.

Depressão – Já falei dela. Pode ser a melhor. Pode ser a pior. Se for a melhor, passamos ao estado da aceitação, sem dar por ela. Se for a pior… mais cedo ou mais tarde percebemos o que é que temos que aceitar.

Aceitação – Ou sim… ou sopas. Ou vivemos felizes até que a morte nos separe. Ou vivemos felizes até que a morte nos separe, mas cada um para seu lado. É tão simples como isso. E é preciso aceitar. Porque viver infeliz até que a morte nos separe, é que não dá.

Só há aqui um pormenor que me escapa à compreensão. Que faz com que esta ideia, não passe de uma teoria, porque não a consigo comprovar. Porra!... detesto que isto me aconteça. Abana-me a pose toda. Refiro-me ao José Matias. Sim, o do Eça de Queirós. O amor platónico. Esse não se encaixa aqui. Assim, à primeira… parece quase perfeito, não fosse a ausência do contacto pele com pele, indispensável, digo eu. Sempre pensei no José Matias como um gaaanda tanso. Um homem livre e descomprometido… pff!... vá-se lá perceber…Mas, não sei… começo a ter as minhas dúvidas. Na volta o homem até era esperto, se me esquecer do final de vida que teve. Amou a Elisa até ao fim, sem passar por nenhuma fase Kubbler Ross. Isto é, entrou directamente na aceitação. Mas coitado… se não penou com os estados anteriores, este arruinou-lhe a vida. Esperto? Talvez. Se a intenção dele era viver para amar.

Não sei. Agora, assim de repente… acho que espertos são os que confundem o amor com o conceito de propriedade e compromisso. Será que confundem de propósito? Pois… claro… só pode ser.

4 comentários:

VdeAlmeida disse...

Se clahar, confundem. (também não acredito nada em amores platónicos. Ou cada vez menos. Concordo que sem o contacto pele com pele, o amor nem sequer está completo, sem hipóteses de sobreviver)

Aq disse...

Essa do amor platónico, confunde-se com outro. Mas este, ainda não sou capaz de verbalizar. Ganas de tocar, sim... é uma merda quando não se toca. Beijinho.

Anónimo disse...

Alguns de nós acham que essas coisas não passam dos ditames de átomos, de moléculas, etc....
Manuel

Aq disse...

Tu e a tua sabedoria, oh Manuel!... hás-de-me explicar essa dos átomos e das moléculas. Tou feita ò bife contigo!... Então andamos aqui todos a filosofar e vens-me tu com os átomos e as moléculas?!... Beijinho.