quinta-feira, agosto 19, 2004

Crescer demais


Razão, é a verdade
Não é discurso.
Amor, não se anuncia
Cultiva-se. Faz-se sentir.
Respeito, não é autoridade
É conquista.
Tolerância é generosidade
E arrogância, a falta dela.
Por isso,
"O melhor do mundo são as crianças".
É pena… todos nós crescermos tanto.


Este texto foi escrito em Julho de 2002.
Escrevi-o para o oferecer. Se é que um texto, concretamente um texto deste teor, pode ser considerado uma oferta… principalmente para quem o recebe. Mas, na verdade, fiz dele uma oferta (e deliciei-me com isso) entregando-o em mãos, à primeira Educadora da minha filha mais nova, exactamente no final do ano lectivo, ao invés do comum “tive muito prazer em conhecê-la” que era suposto ter verbalizado. Não. O raio da mulher, não o leu à minha frente. Anteviu que dali não podia vir boa coisa. Sim, porque a senhora era desprezível, mas de estúpida não tinha nada. E lá deve ter feito o tempo correr para trás, naquela fracção de segundos, lembrando-se dos dissabores que lhe causei ao longo de todo o ano. Adivinhou por isso, que era mais um.

Na verdade, também não tinha grandes esperanças que a senhora lesse o texto à minha frente e imediatamente após a leitura, desse com a cabeça nas paredes. Era bom demais. A bem dizer, não tinha esperança de coisa nenhuma, exceptuando a de não voltar a saber daquela Educadora, colocada nos anos seguintes, no Jardim da minha filha. Talvez a pudesse desencorajar a concorrer àquela escola. Mas nem foi por isso que lhe ofereci o texto. Fi-lo por mim. Era suposto, ser o golpe final. Enfim, um registo para a posteridade que não a fizesse duvidar do desagrado que me causou enquanto profissional de educação. E não… nunca considerei a hipótese de ela não ter lido o texto. Gosto até de a adivinhar a precipitar-se para o envelope, mal eu virei as costas.

Ok. Vocês são todos espertos e já perceberam que este texto, ou a ideia que nele é manifestada, não tem só a ver com o universo escolar. Perceberam isso pela quantidade de palavras que usei no seu comentário. Perceberam isso porque não entrei em pormenores. Afinal, que raio fez a mulher? Perguntarão alguns. A mulher… fez muita coisa mal feita, mas já lá vai mais de um ano e se a visse agora, acho que nem rosnava.

A verdade é que este texto, que até tenho memorizado integralmente, tem surgido à superfície vezes sem conta, como um lembrete daqueles bem persistentes que teimam em não nos fazer esquecer de algo muito importante. Algumas vezes como uma espécie de máxima proferida por um qualquer sábio, ou como uma teoria que entretanto foi estudada e experimentada vezes sem conta, tornando-se num dado provado e adquirido.
Outras vezes… como a imagem que se vê ao espelho.

4 comentários:

inconformada disse...

Antes de ler o comentário, ou explicação, pensei que aquelas palavras se podiam aplicar a muita coisa. Razão, Amor, Respeito e Tolerância são valores que, e eu nem sou nada pessimista, cada vez mais sinto que se perderam. Vou guardar este teu texto :-)

VdeAlmeida disse...

E achas que ela acabou por ler? Quanto ao ano que passou...é assim mesmo, o tempo vai apagando tudo, especialmente as coisas más. Ou pelo menos suaviza-as :)

Aq disse...

Sabes, Inconformada?!... Razão, Amor, Respeito e Tolerância, são de facto valores. Mas também são conceitos. É uma porra, quando damos com pessoas convencidas desses valores, cujo conceito difere do nosso. Ficamos num impasse.Quem conceitua melhor?...

Aq disse...

Ah! sim, Yardbird. Leu, seguramente. Mal virei costas. Até lhe adivinho uma expressão enjoada, após a leitura, do género "quem se julga esta". Quanto às coisas más que ficaram para trás... deixam sempre cicatriz. Maior ou pior.