terça-feira, outubro 31, 2006

Bancos de jardim II





















foto aq
Arripiado 2006

domingo, outubro 29, 2006

O culto da dança

Posted by Picasa foto daqui

Andava com esta atravessada. Aproveito hoje, que me apetece escrever e “mando para fora”. Tenho-a num cd que oiço pouco. Há uns dias atrás foi o cd que escolhi para ouvir. É a última música. E quando a ouvi, pareceu-me, sem grande certeza, reconhecê-la. À medida que a ouvia mais vezes foram desaparecendo as dúvidas e hoje estou mesmo, convencida que era uma delas. Tentei partilhá-la com alguém. Alguém que tivesse memória e interesse para a ouvir. Acudiste-me
tu (obrigada). Mesmo assim, a imensidão de recordações que ela arrasta, mereceu-me a sua reconversão para palavras. É a esta música que me refiro (a que eu tenho é uma versão de Michael Bolton, por isso, não a reconheci logo):

A Whiter Shade of Pale – Procol Harum
(link para ouvir)

Nasci e fui criada em Moçambique, num bairro dos arredores de Lourenço Marques, onde havia um clube, de seu nome, Clube Recreativo Bairristas de Mavalane (adoro verbalizar esta última palavra). Uma organização de carácter associativo com grande expressão na comunidade. Todos os fins-de-semana havia baile, animado com grupos musicais. Lembro-me particularmente, do Conjunto Feminino composto pois, por 4 raparigas. A vocalista tinha os cabelos compridos loiros e uma deficiência qualquer numa perna. Era nela que se perdiam os meus olhos, deslumbrada, quando não podia dançar.

Não falhava a um baile. Não falhava a um filme. Não falhava a uma festa. O meu pai fazia parte da direcção do clube e este, era a nossa segunda casa. O meu irmão mais novo livrou-se por pouco, de nascer no bar.

Ora, eu escrevi ali atrás “quando não podia dançar” e é aqui que torno a pegar. Adorava dançar. Quase sempre com meninas ou sozinha, raramente com meninos, mas desde que chegava até que saía, só não dançada músicas como esta. Esta e outras, igualmente serenas, eram as danças dos namorados. E era do decorrer delas, que eu me encostava à espera que acabassem para eu poder voltar a dançar. Era o momento da observação. Observava os pares de dançarinos, alguns perfeitamente engrenados, como se em vez de 4, tivessem apenas, 2 pernas. Observava os músicos. Tinha nessa altura, menos de 11 anos.

O culto da dança ficou-me desses tempos. Adoro dançar. Adoro dançar.

Vai longe, muito longe, a sensação de sintonia com um parceiro de dança. E é dessa que eu tenho saudades. É essa que eu queria ensaiar de novo, quase com carácter de urgência, de mais de 20 anos de atraso.

Já foi depois, em Portugal que encontrei parceiros à minha medida. Só me recordo de 2. O primeiro, encontrei-o num clube em Queluz, onde ia com a minha família. Um desconhecido qualquer (alguns anos mais velho que eu, que nessa altura, eu não devia ter mais de 13 ou 14 anos) que depois de me observar a dançar com os meus primos, resolveu experimentar-me. E fez muito bem, porque os nossos pés pareciam ter combinado à nossa revelia, o sítio certo para poisar no chão.

O segundo, o Zé Espanhol, dançava com ele num clube na Calçada do Galvão, em Lisboa. Solidó, assim se chamava o clube. Dançar com este era quase formar uma espécie de vórtice, porque se criava em nosso redor um espaço vazio circundado, que ninguém ousava invadir. Tínhamos os dois, menos de 17 anos.

É curioso observar agora, à distância do tempo, que quando nós, que gostamos muito de dançar, encontramos companheiros de dança à nossa medida, serenamos a procura e não queremos experimentar dançar com mais ninguém. É curioso observar agora, à distância do tempo, que com nenhum destes meus companheiros de dança mantive uma relação de afectividade. E com aqueles que mantive, nunca soube dançar.

Danço. Dancei sempre ao longo da minha vida. Depois da fase dos clubes, as discotecas. Intercaladas, as festas privadas, familiares. Hoje e sempre, na minha casa, sozinha ou com os meus filhos. Companheiros como o Rapaz de Queluz e o Zé Espanhol, nunca mais encontrei. Já lá vão, repito, quase 30 anos.

Essa espécie de cumplicidade quase inata, pela ausência de esforço que a caracterizava, consigo recordá-la frequentemente. Consigo revivê-la quando danço com os meus filhos pequenos, de pernas enlaçadas na minha cintura. E é a expressão de felicidade que lhes encontro no rosto, enquanto rodopiamos, que me faz entender porque é que eu não me esqueci ainda, do Rapaz de Queluz e do Zé Espanhol. A partilha, a cumplicidade, a um nível quase sublime, de um momento feliz.

Definitivamente, há coisas que nos sabem mil vezes melhor, quando as vivemos no reino da cumplicidade. Esse reino, onde nem sempre, temos o privilégio de estar.

sábado, outubro 28, 2006

Tancos



















foto aq
Tancos 2006

segunda-feira, outubro 23, 2006

Sonho

Não me lembro bem, há quanto tempo não a via. Talvez, mais de 7 anos.
Vi-a esta noite. Toda desembaraçada.
Adorei.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Bancos de Jardim




























Foto aq
Ribatejo 2006

segunda-feira, outubro 16, 2006

9 anos

Posted by Picasa





















foto aq (editada)

Plantei há uns tempos
À frente da minha janela
Uma flor delicada
Pequena, frágil e bela

Em celestial culto
Todos os dias, abri a janela
E com afecto inquantificável
Todos os dias, cuidei dela

A minha pequena flor cresceu
Hoje é uma linda menina
E do lado de cá da janela
Se tornou minha amiguinha

De olhar diferente
Que tudo consegue ver
Esta invulgar menina
Ensina-me a viver

Não há palavras nem rimas
Nem poesia ou prosa
Que consigam expressar
Esta estima, tão poderosa.

Apenas, uma tentativa
Um registo assente
Do amor que te tenho
Sempre, sempre e… sempre.

domingo, outubro 15, 2006

Iluminação





















foto aq
Seixal 2006

quinta-feira, outubro 12, 2006

Por isso vamos ficando




















foto aq
Ribatejo 2006

Entre outras coisas:
Anda de bicicleta na rua, até anoitecer.
Os amigos vêm cá a casa, quando querem.
Toda a gente o conhece e estima.
Vê o pai diáriamente.
Entre a nossa casa e a dele (do pai) detém-se com os cavalos.
Por isso, vamos ficando pelo Ribatejo.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Escrever sobre pregos

(continuo nas provocações)

Era uma vez uma caixa de ferramentas, praticamente abandonada, numa despensa de uma casa onde vivia só uma mulher (por isso mesmo, “praticamente abandonada”).

Pregos, parafusos, porcas, chaves de fendas, martelos e outras ferramentas, conviviam harmoniosamente, dentro da caixa de ferramentas, praticamente abandonada. Os meses a fio, uns atrás dos outros, em que não viam a luz do dia, ou mesmo das lâmpadas, não interferiam no estado de alma deles (sim, porque os pregos, parafusos, chaves de fendas e afins, também têm alma, nós é que não sabemos) que são imunes à claridade e à escuridão.

Bom… são imunes, não é bem assim. Quase todos, são imunes, porque até no mundo das caixas de ferramentas, o conceito de “todos iguais, todos diferentes”, existe. Havia um prego já usado (na verdade, uma prega… que os pregos e parafusos também têm sexo, nós é que não sabemos) meio torto, com a cabeça achatada, que só dava sinal de vida, quando a caixa de ferramentas era aberta. Com efeito, a prega ficava imóvel durante todo o tempo em que a caixa de ferramentas não se abria. Todos os seus outros colegas concordavam numa teoria sobre o comportamento da prega: Entendiam que como já tinha sido usada, não se conformava com aquela espécie de inutilidade que encontrava dentro da caixa de ferramentas.

De cada vez que a caixa de ferramentas era aberta, normalmente para ser acrescida de mais pregos, parafusos, porcas ou chaves de fendas (que as mulheres nunca sabem o que têm dentro das caixas de ferramentas e por isso de cada vez que precisam de alguma coisa, compram mais)… de cada vez que a caixa de ferramentas era aberta, dizia eu, a prega saltava como se de uma mola se tratasse e esbracejava (que os pregos também têm braços, nós é que não os vemos) ridiculamente, na esperança de dar nas vistas e por isso mesmo, ser usada. Nada. Voltava por isso, à imobilidade total, enquanto todos os seus colegas, afáveis e cordiais, davam as boas vindas aos novos pregos, parafusos… fosse o que fosse.

Da última vez que a caixa de ferramentas tinha sido aberta, fora para albergar um prego sem cabeça galvanizado. Grande, belo e espadaúdo, o prego galvanizado, fez furor entre as pregas, chegando mesmo a enciumar o martelo mais velho, líder da caixa de ferramentas. Com um jogo de cintura do caraças, sedutor até dizer chega, depressa deu a volta ao martelo e ficaram grandes amigos. Aliás, não foi só ao martelo velho, foi mesmo, a todos quantos estavam dentro da caixa de ferramentas e, verdade se diga, até mesmo à caixa.

(Desilude-te miúda, que não vai haver romance nenhum entre o prego galvanizado e a prega de cabeça achatada, mas, afinal, uma história de encorajamento e solidariedade).

É verdade, o sedutor prego galvanizado, alto e espadaúdo, como já disse, seduzindo tudo e todos, dentro daquela caixa, tentou claro, também, cativar a prega de cabeça achatada. Inteligente, que também era (que eles também têm raciocínio, nós é que não sabemos) avançou a matar. A prega de cabeça achatada seria a única que poderia ter histórias interessantes para contar, visto que já tinha sido usada. Nada como pôr uma fêmea (mesmo que prega) a contar histórias sobre si própria. Nunca mais se calam. Mas, não. A prega de cabeça achatada, não abria a boca (que eles também comunicam, nós é que não percebemos) nem se mexia. Sem reacção, absolutamente nenhuma. Claro, que para qualquer um de nós, humanos, este tipo de inércia, aliás qualquer tipo de inércia, chega a ser enervante. Mas, no mundo das ferramentas é diferente. Todos se preocupavam com a prega de cabeça achatada. Todos se esforçavam por compreendê-la.

O prego galvanizado, alto e espadaúdo (já disse?) consolidou a ideia que de facto, aquela prega torta e de cabeça achatada, tinha mesmo que apanhar a luz do dia ou das lâmpadas e sair urgentemente daquela caixa, até mesmo, porque estava a estragar (só um bocadinho) o ambiente harmonioso de que todos se orgulhavam. E caramba, se tanto queria sair, vontade lhe fosse feita. Mais provido de neurónios, quiçá por ser um prego de última geração, depressa arquitectou um plano para ajudar a prega de cabeça achatada a ser feliz fora da caixa.

Da vez seguinte que a caixa de abriu, não foi apanhado desprevenido, e instantaneamente (que se lixe o plano de fuga, que eu na verdade, não tinha ainda pensado em nenhum, que esta merda de escrever sobre pregos, é difícil como o caraças) agarrou no pé da prega de cabeça achatada (que os pregos só têm um pé, mas isso, já a gente sabe) e carago!... com toda a força, mandou-a cá para fora, que a prega, até atirou um grito.

- Fonix!... (que as senhoras, mesmo pregas, não dizem “foda-se”).

Todos, dentro da caixa de ferramentas, ficaram expectantes e em silêncio, à espera de perceber o que se passava a seguir. Mas, tal como os humanos não entendem a linguagem dos pregos e afins, estes também não percebem a linguagem dos primeiros. Lá ouvir sons (é claro que também ouvem… senão, como se entendiam uns aos outros?... nós é que não sabemos, pois…) ouviram, não entenderam foi, nada. O melhor que tinham a fazer, após se ter fechado a caixa de ferramentas, era concluir, que a prega torta, de cabeça achatada estava mais feliz que nunca. De consciência tranquila, o prego galvanizado belo, alto e espadaúdo (eu sei que já disse) e os seus companheiros, voltaram à sua convivência harmoniosa, agora sem a prega de cabeça achatada, de quem afinal, até sentiram falta.

(E agora... como é que eu termino isto?)

Bom, a mulher que vivia na casa que tinha uma despensa, onde guardava a caixa de ferramentas (lembram-se dela?) ao ver a prega torta, de cabeça achatada a saltar da caixa de ferramentas, apanhou um cagaço do caraças, claro. Fechou imediatamente a caixa, não fossem de lá saltar mais ferramentas e outras coisas. Pegou na prega e exclamou:

- Ah!... afinal, estavas aqui.

Dirigiu-se ao corredor, enfiou a prega num buraco que existia na parede, descalçou um sapato e deu-lhe com o salto. Depois, tirou de trás de uma porta, um pequeno quadro, soprou algum pó que nele houvesse e pendurou-o na prega. Deu 2 passos atrás e observou:

- Porreiro!

Foi exactamente, a exclamação que a prega, fez também (digo eu).

Bom… a história podia ter um fim mais entusiasmante, mas eu tenho que ir buscar o meu filho à escola. E o que interessa é que consegui escrever sobre pregos, que era uma curiosidade que tinha por satisfazer.