Do filme, pois.
Não vou fazer nenhuma crítica ao filme.
É apenas um registo, que volta e meia, vem… e vai… e torna.
É apenas o registo… do maior desengano da minha vida.
Vi o filme, não sei… com 18, 19 anos… já não faço ideia.
Era romântica, demasiado romântica, e acreditava que entre o homem e a mulher existia uma espécie de engrenagem que punha tudo a mexer.
O exemplo do meu pai e da minha mãe, tinham contribuído para este conceito de quase perfeição. Não era sequer um conceito de família. Era mesmo o conceito de união. Inevitável. Uma espécie de metamorfose, só que entre dois seres.
Estava tão certa disso, que o final do filme me comoveu. O final feliz, quero dizer. Afinal, o rapaz tinha compreendido. Finalmente, tinha compreendido… a ideia da metamorfose. Rendeu-se. Voltou. E, metamorfoseou-se. Ela claro, mais esperta, já tinha percebido. Foi difícil convencê-lo. Fazê-lo acreditar. Mas, lá conseguiu. Por isso o final foi feliz. A música… ah!... a música… acho que me fazia acreditar em qualquer coisa.
Ao longo do tempo, ao longo dos anos… esse filme tem-me acompanhado. Volta e meia, levo com ele pela frente. Entra-me pela casa adentro, através da televisão… invade-me o pensamento, através do registo que deixou. Entretanto, um registo de mutação. De uma mutação terrivelmente triste, na qual não gosto habitualmente, de pensar.
Afinal, em que acreditava eu? Eu, enquanto mulher. Que existia algures um homem, que havia de ser meu, no sentido em que juntos, nos metamorfoseávamos dando origem a uma união colorida e plena de luz? Numa visão mágica, sim. Numa mais romântica, seria um homem que me deixasse simplesmente, ser. Finalmente, de regresso à realidade, seria um homem que compreendesse tão bem como eu a individualidade de cada um de nós. Que a compreendesse, a considerasse e fizesse como eu, uso dela.
Hoje. Justamente, hoje, não é assim que penso. Ou talvez seja, já não tenho é esperança de viver um amor assim. E não é sequer pela idade que tenho. É mesmo pela constatação da dificuldade no acerto. É como encontrar uma agulha num palheiro. Não é o homem. É mesmo a metamorfose. A incompatibilidade não dá origem à união. À tal união, que me pareceu ter encontrado no meu pai e na minha mãe. Sem esforço. Simplesmente, engrenável. Incondicional.
Hoje. Justamente, hoje, percebi finalmente, que é precisamente por não saber viver o amor de outra forma, que decidi não viver nenhum.
Mas preciso de aprender. Aprender como se vive o amor de uma forma mais leve, menos vitalícia. Tenho que ensinar as minhas filhas, o meu filho. Porque, colocada a fasquia muito alta, é difícil depois, dar a volta por cima. O desengano é muito doloroso.
Já vi “Oficial e cavalheiro” não sei quantas vezes. Confesso que não gosto de o ver. Parece-me desonesto, do tipo “publicidade enganosa”. Mas, fico sempre à espera do fim. E… quando começa a música, quando começo a ouvir Joe Cocker, quando o rapaz entra por ali adentro… as minhas pernas perdem força, o meu queixo treme, aos meus olhos chegam as lágrimas. Comovo-me sériamente. Mas, nunca deixo que ninguém se aperceba.
Hoje teve que sair.
Desculpem.
Dizer tudo como os malucos.
3 comentários:
Querida Amiga,
Essa metamorfose, existe. Tanto existe, que tu a conheces... Sabes, bem do que escreves... Por isso mesmo a descreves tão bem e não é pelo filme...
O filme acaba ali, naquele ponto em que ele a leva ao colo daquele lugar... Não mostra o resto... Aqueles momentos existem, existem sempre... ou não... E nós não decidimos, não acreditar neles, não decidimos não vivê-los, não decidimos aceitá-los... Nós decidimos muto pouco. É essa ilusão, que nos faz andar por aqui... se não fosse ela, nós não estavamos cá, aqui, por aqui...
Deixa os teus filhos sonharem, com esses momentos e comove-te com eles, que eles, são mesmo é lindos... E existem...
Publicidade enganosa...? Pois... ninguém diz, qual é o prazo de validade... Ou se poderia ser outro se o congelassemos??...
Chora, minha linda. Comove-te. Mas, não decidas não sonhar, nem Amar... Porque não vivemos, sem nenhum dos dois...
Beijos. É tão bom, poder ler-te novamente... :-)
A verdade é que não te vejo a desistir de amar ou sonhar. Verdadinha é que não te vejo a desistir do que quer que seja. Sei que partes, mas não dobras.
Sei também que há sempre outras vezes.
Como diz a Partilhas aí acima, o filme acaba ali, nós não vimos o resto...
Beijos, muitos. E o desejo de te voltar a ler em breve
Olá! Vim ter aqui por acaso. Procurava o filme "Oficial e cavalheiro" porque ando muito melancólica e este filme marcou-me muito. Vi-o na adolescência, marcou-me muito, mesmo. vi-o com a minha grande 1ª paixão que conheci numa festa de carnaval e ele estava fardado de oficial da marinha (tudo a ver),foi amor À 1ª vista e quando acabou doeu muiiiito! Mas a vida é mesmo assim. Minhas amigas, não deixem de sonhar. Sonhar faz parte da vida. "oficial e cavalheiro" é filme e sim acaba bem, mas muito provavelmente se agora se fizesse um filme com a continuação daquela linda história de amor, aquelas personagens estariam separadas. Ela cheia de filhos, com os rolos na cabeça, grávida, muito envelhecida, dona de casa e ele seria um bêbedo incorrigivel...ahahah qualquer coisa do género. Vivam cada momento como se fosse o último.
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