sábado, março 19, 2005

Mais uma viagem

(desta vez, mais curta... leve... esvoaçante...)


Desci a escadas apressadamente, como de costume, com a mochila e a pasta. Abri a porta do carro, do lado oposto ao do condutor e atirei com as duas lá para dentro. Deixei a porta aberta e voltei a correr. Subo as escadas. Pego no cpu que já tinha previamente colocado no topo das escadas e desço novamente, desta vez com o cuidado necessário, para não me espetar ao comprido.

Encafuei o cpu aos pés do banco. Fecho a porta e dou a volta ao carro. Procuro a chave no bolso das calças e quando vou a abrir a porta… lá estava ele, 5 cm acima da fechadura, imóvel, contudo assustador. Era verde… ou seria castanho? Imenso. Olhos grandes. Pernas compridas. Acho que lhe vi uma língua bifurcada a espreitar. Fumo a sair pelas narinas. Mas… estava imóvel.

Porra!... pensei. O que é que eu faço?

Não tinha muito tempo para pensar, devido ao atraso de 10 minutos com que já estava, de maneira que agi inconscientemente (às vezes é a forma mais eficaz de agir). Devagarinho, meti a chave na fechadura e retirei imediatamente a mão. Não se mexeu.

Porreiro!... voltei a pensar. Vamos à segunda parte do plano inconsciente. Rodar a chave e abrir a porta.

Assim fiz, mantendo o corpo, o mais distante possível da porta. Entrei. Bati a porta rapidamente e olhei. Mantinha-se imóvel, sem pestanejar. Apenas me parecia ver a língua bifurcada e o fumo a sair pelas narinas, como único sinal de vida.

Caraças!... é obstinado. E agora? Não posso abrir a janela. Logo, não posso fumar. Filho-da-mãe. Bom!... nada de mais. Acendo o cigarro mais tarde, quando ele resolver sair… soltar-se… cair?!... sei lá…

Sigo viagem. Curta. Apenas 7 a 10 minutos. Faço a primeira curva. Faço a segunda curva. Olho pelo retrovisor. Continuava lá.

Chiça!... teimoso do caraças. Espera lá que eu já te digo. Vou entrar na recta.

Apanho a recta. 90 km/h.
Olho para o retrovisor. Ainda lá estava.
100 Km/h. Continua.
Vou empurrando o pedal com firmeza.
110 Km/h. Porra!... Ainda aí estás?!...

Tento observá-lo pelo retrovisor, atentamente, tanto quanto me é possível. Já só ia preso pelas patas da frente. As de trás estavam soltas, bem como o corpo todo. A boca parecia um saco cheio de ar, aberta até mais não. Os olhos… completamente alucinados. O sacana estava a gostar daquilo, só podia. Ou estaria com as patas dianteiras entaladas na porta?

Seja como for… 120 Km/h. Acho que ouvi um grito de satisfação. Só podia ter sido dele. Eu… continuava de janela fechada, apesar de já nem me lembrar do cigarro.

Acabou a recta. Tive que reduzir. Sempre de olhos postos no retrovisor continuei a viagem. Apanhei o sinal vermelho. Paro o carro. Olho pelo espelho. Continuava lá. Volto a olhar. Já não estava. Abro a porta imediatamente e espreito para o chão. O gajo estava vivo. É incrível. Olhou para trás, acho que sorriu e foi-se embora em altíssimos pulos.

As buzinas dos carros trouxeram-me a outra realidade. O sinal tinha mudado. Fechei a porta. Arranquei.

Juro que nunca tinha visto um gafanhoto tão grande, medonho e obstinado como aquele. Parecia um dragão, a sério. Pergunto-me: para onde quereria ele ir? À quanto tempo andaria ele à boleia? Qual o grau de QI daquele gafanhoto? Qual o grau de loucura? G’anda maluco.

…………………..

Ah!... tenho o cpu mais leve, pois. Estava carregadinho de todo o tipo de vírus e tretas do género. Tinha também uma carga considerável de jogos e demos que o meu filho se foi encarregando de coleccionar. Levei-o ao médico… ao cpu… e depois fiz o tratamento em casa. Está melhor. Já tenho acesso à net, ao final de quase mês e meio. O tempo é que continua a ser escasso… para escrever, digo eu.

Beijinhos a todos.
Obrigado por se manterem por aí.

7 comentários:

MCV disse...

Vamos então lá ver se se pode entrar aqui e não sair infectado :) ou de gafanhoto ao colo.
Beijo

Aq disse...

Olá, Manuel! Beijinho grande.

VdeAlmeida disse...

Que saudades, Ana :):):) Sabes da minha alegria, não sabes?
Já sei que vais andar aos pulos, ausente, mas estas vindas vão compensando um pouco, (muito pouco)as saudades que deixas sempre. De ti e das tuas histórias que eu adoro
Beijo e um xi grande :-)

Anónimo disse...

"O meu gafanhoto não é um animal destruidor,(...). Ao princípio imaginei-o mauzinho, mas depois reconsiderei e desenvolvi-lhe o lado positivo. Ele é um ser solidário, tal como as pessoas que são forçadas a sair do seu país em busca de melhor vida e que são muito mal tratadas no país de acolhimento."

Pelo teu relato, trata-se seguramente de Saaraci, o Último Gafanhoto do Deserto. Por isso ele te sorriu.

Se quiseres saber mais sobre ele, para teres a certeza de que é o mesmo, o livro, de Luísa Queirós custa 7 euros e está editado pelo Instituto Camões. É um livro infantil. Foi premiado pelo texto e pelas ilustrações. Duas coisas de que gostas.

Até ao fim pensei que fosse uma osga. Mas depois pensei melhor - com essas tu (já)lidas bem.

Xi da Bina

Anónimo disse...

"O meu gafanhoto não é um animal destruidor,(...). Ao princípio imaginei-o mauzinho, mas depois reconsiderei e desenvolvi-lhe o lado positivo. Ele é um ser solidário, tal como as pessoas que são forçadas a sair do seu país em busca de melhor vida e que são muito mal tratadas no país de acolhimento."

Pelo teu relato, trata-se seguramente de Saaraci, o Último Gafanhoto do Deserto. Por isso ele te sorriu.

Se quiseres saber mais sobre ele, para teres a certeza de que é o mesmo, o livro, de Luísa Queirós custa 7 euros e está editado pelo Instituto Camões. É um livro infantil. Foi premiado pelo texto e pelas ilustrações. Duas coisas de que gostas.

Até ao fim pensei que fosse uma osga. Mas depois pensei melhor - com essas tu (já)lidas bem.

Xi da Bina

Aq disse...

Meu pássaro divino... saudades, sim. Fica a certeza de que são mútuas e o consolo, também Foram engraçados os nossos comentários lá no Mico. Quase nos cruzavamos. Quase me tapavas a boca. Mas, não tens razão. Beijinho grande.

Bina, de Arronches... estou impressionada, a sério que estou. Saberás tu, tudo? Que o meu gafanhoto é o último do deserto?! Juro que acredito em ti, mesmo sabendo que o Saaraci é mais colorido. Continua, por favor. Estou a gostar.
Xi da ana


Mas quem te disse a ti, matulona, que eu sou miúda de campo? Nã!... Estás enganada. Vivo no campo. Apenas isso. E raios partam... não me consigo habituar à bicharada.
Então e tu? Mais tranquila?
Beijinho grande.

PARTILHAS disse...

Bem... Olha mulher, eu nem sei bem que te diga. acreditas que hoje... só hoje é que cá vim? Eu... BURRA de todo... só hoje.
Deliciosos este teu "faganhoto".
Beijos grandes, com abraço forte. :-)