O que reconheço melhor, é o instinto maternal. Aquele que me diz que os meus filhos, não estão melhor com mais ninguém, senão comigo. Obviamente, não os quero agarrados às minhas pernas, o que quero dizer é que ninguém os conhece melhor que eu, nas suas capacidades e falta delas. Logo, ninguém melhor que eu, lhes adivinha o pensamento, os receios, as vontades. Ninguém melhor que eu, sabe em que momento devem ser retidos e em que momento devem ser empurrados. E já nem me dou ao trabalho de discutir isto com ninguém (senão com eles) porque a segurança, ao final de quase 10 anos, se tornou praticamente, absoluta.
Reconheço também um outro instinto. Bastam-me dois ou três contactos com alguém, para perceber se acabei de conhecer uma pessoa de bem, ou não. Raramente me engano. E quando me engano, sou avisada com antecedência… pois, exactamente pelo meu instinto. Aqueles avisos que não se conseguem racionalmente, compreender. Estou sempre atenta. E, se sou empurrada para uma tomada de posição, assim esteja ele activo, é mesmo pelo instinto que me oriento.
E o instinto de sobrevivência? É sobre ele, que me encontro introspectiva. Sempre me considerei desenrascada. Com poucas ferramentas, me desembaraço de um qualquer empecilho. A bem dizer, quanto menor é a diversidade de ferramentas que ao meu alcance tenho, maior é o gozo que me proporciona o triunfo.
Mas situações há, que nunca vivi, enquanto adulta. As catástrofes. As guerras. Sendo que destas últimas, ainda me recordo do cheiro a pólvora que se embrenhou no meu olfacto, há sensivelmente, 30 anos. Mas tal como referi, era criança e fui nessa condição, protegida por adultos. Há ainda, os confrontos hostis, com gente que nos quer mal. E porque raramente temos oportunidade de testar simulações nesta matéria, saberemos nós, avaliar o nosso grau de instinto de sobrevivência? Prever as nossas hipóteses de alcance de bons resultados?
Entrego-me a exercícios de adivinhação. Conseguirei eu passar para além, do olhar tresloucado de um malfeitor? Adivinhar-lhe o talento para fazer mal? Conseguirei eu manter o sangue frio, aquele que nunca senti assim? Manter a racionalidade, aquela que nunca tive? Entrego-me a exercícios de adivinhação. Escuto as palavras, tentando emoldurar um estado de espírito, tentando avaliar o grau de agressividade. Desvio a atenção do olhar, que me paralisa o raciocínio. Centro-me nas palavras. Oiço-as uma a uma, apesar de parecer que não lhes dou atenção. Meço-as de acordo com o tom usado. Se me são sussurradas, paraliso novamente. Entrego-me a exercícios de adivinhação. Paralisada. Pronta a fugir, mal encontre um momento de distracção. Planeio. Vacilo. Planeio novamente. E já não vacilo mais. Entrego-me a exercícios de adivinhação, tal e qual um teste, uma simulação. Conseguirei eu sobreviver a um malfeitor? Ah!... seguramente. Porque só é vítima, quem não tem força para lutar, nem forma de a encontrar. E fugir é por vezes, a única forma de vencer.
2 comentários:
Estranho como por vezes leio outras pessoas a discorrer sobre um assunto, e vejo reflectido nas suas palavras tudo o que eu diria. Foi o que se passou comigo quando li a última parte do teu texto, AQ. Apesar de ser homem, não me incomoda reconhecer os receios que por vezes me assaltam. E, neste caso que abordas, acho que só se consegue decidir o que fazer, em presença do facto concreto. Especular, penso, seria uma arrogância.
Quanto ao instinto maternal, acredito perfeitamente nele. E em ti. Os teus filhos não poderiam estar melhor entregues, isso sei-o porque o sinto. E os meus instintos também raramente me enganam.
Tem um fim de semana daqueles. Beijinhos, que distribuirás equitativamente :-). Diz-lhes que é de um passarito.
Para ti, um xi apertado
Amiga Querida,
Sim, tens razão, intuis e como... O pior é que nem sempre o "objecto" do nosso instinto se mantem puro, transforma-se.
A nossa sobrevivência, não é tão natural assim, digo eu... Há tanta gente a morrer... a apagar-se, a definhar-se. Em ti... é caracteristicas, feitio, igual ao teu olhar, às tuas mãos, ao teu jeito.
Não conjectures. Segue o coração, não batalhes com ele, porque TU és a única que pode retirar-lhe força.
A sabedoria e o discenimento, são dons, que nem todos valorizam, aproveita-os, que desses tu TENS.
Beijinhos Querida
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