quarta-feira, abril 08, 2009

Deep Purple - Smoke in the water


Esquisito!

Imagem daqui

De há uns meses a esta parte, ando a ter mais hora de almoço do que preciso, o que não se te tem revelado uma circunstância positiva: fumo mais, como mais, e reflicto mais. Às vezes lá me consigo entreter com alguma conversa interessante ou qualquer coisa produtiva. Não foi o caso de hoje.

Então hoje, foi dia de reflexão. Ainda por cima, inconclusiva. Teve causa numa cisma que me tem acompanhado há anos e que foi assanhada por um episódio ocorrido da parte da manhã.

Porque raio, os homens substituem tão frequentemente a palavra “feio”, pela palavra “esquisito”?

Sim, porque carga d’água?

Esquisito é estranho, possa! Não tem nada a ver com feio ou bonito.

Que terão eles contra uma palavra tão precisa e objectiva? Quando ainda por cima, têm fama de reunirem tais características (de precisão e objectividade).

Parti de um princípio: Claro, que os homens conhecem o significado da palavra “feio” e portanto, têm que a saber aplicar em devido contexto.

Posto isto, restou-me o quê?

O conceito estético da coisa? Terão eles um conceito de beleza (ou falta dela) diferente do nosso?

O objecto de análise?

Escolhi a questão do objecto de análise para aprofundar a minha reflexão (não foi por nada de especial, apenas me pareceu mais objectivo e eu queria tentar reflectir com cabeça d’homem).

Então, tentei lembrar-me do que é que para nós, mulheres, pode ser feio. Fui à memória das conversas, das que tenho e das que oiço. Das conversas femininas.

O que é que para nós, mulheres, pode ser feio?

Uma casa. Uma peça de vestuário. Uma capa de um livro, filme ou CD. Um comportamento de alguém. Uma moda. Um estilo. Tudo, acho eu. Tudo pode ser feio ou bonito.

Agora, eles.

Usei o mesmo processo, ou seja, o recurso à memória das conversas, neste caso, mistas ou masculinas.

Epá!... epá!... nada!.

Tornei a pensar… Chica!... tá difícil!...

Estava quase a desistir quando me ocorreram logo três objectos de análise, aos quais os homens conseguem sem grande dificuldade, aplicar o conceito de “feio”.

Mulheres. Veículos. Equipamentos desportivos.

Mais?…

Ah!... Bandeiras.

Mais?…

Por muito que me esforçasse, não me lembrei de mais nada.

Estranho!

É que não me ocorreu mesmo, mais nada.

Esquisito!

sexta-feira, abril 03, 2009

Obrigadinha, ò pá!...

Porque os teus desejos são ordens, cá vai:




Segunda-feira partiu-se a antena do rádio do meu carro. Os meus colegas bem tentaram resolver a situação, mas nem sequer passaram a primeira etapa: retirar os parafusos. Bem lhes moeram o juízo (que os parafusos tal como os pregos, têm juízo, pois…) mas eles literalmente, não arredaram pé. Ao final de 3 dias já cheia de saudades dos disparates da Carla Rocha e do Zé Coimbra (RFM) e da música que me dão, lá providenciei um stock de CDs a ver se me consolava um bocadinho. Foi hoje.

Começou bem. Levei os primeiros 4 CDs que a minha mão encontrou. Já no carro, escolhi o primeiro que havia de ouvir: Aerosmith (Ok!... agora é aquela parte em que tenho que admitir um atraso de desenvolvimento. Aí bem à vontade, um atraso de 20 anos. É que continuo a gostar da música que ouvia na adolescência).

A viagem que faço todos os dias demora uns 45 minutos, 25 dos quais, são feitos por uma estrada de campo, onde não há casas, pessoas, nem coisa nenhuma que não seja árvores, cegonhas, cavalos, ovelhas e às vezes, uns répteis de 4 patas, do tipo dragão-osga, que atravessam a estrada antes de eu passar (ainda não consegui acertar em nenhum). Raramente, me cruzo com um carro. Raramente, tenho que ultrapassar algum. Apesar de perigosa pelo isolamento que causa (nem rede no telemóvel, tenho… havia de ser bonito um dia ficar empanada na estrada à mercê dos dragões-osgas-osgas-osgas) e pela quantidade de curvas que apresenta, gosto imenso de fazer esta viagem sobretudo, pela tranquilidade que me proporciona. Hoje gostei ainda mais… quer dizer, até um certo momento.

É que além de tranquilidade, experimentei uma sensação de liberdade até então, desconhecida. Posso mesmo dizer que por momentos, fui uma mulher feliz. É que no que toca a figuras tristes (às minhas, claro) deixo-me inibir pelas pessoas mas, pelas árvores, cegonhas, cavalos e ovelhas (osgas à parte que estas, encolhem-me até ao tamanho… sei lá, qualquer tamanho mais pequeno do que o delas próprias) percebi, que não. Eu explico: numa estrada como esta, a ouvir a minha música (paguei-a, é minha) a um volume suficientemente alto de modo a bater-me dentro do peito, quando me dei conta, ia completamente eufórica, cantando, dançando e gesticulando, cheia de mim própria. Tão cheia, tão cheia, que a minha alma, sem espaço para caber em mim, subiu ligeiramente, de modo que consegui mesmo, ver-me de fora para dentro. E gostei do que vi. Uma miúda gira e bem arranjada (qu’isto dos miúdos estarem a dormir no pai dá-me todo o tempo do mundo para me aperaltar e eu quando me dão tempo, desenrasco-me bem) dentro do seu adorado carro, a ouvir a música de que gosta, no volume certo, no sítio certo, à hora certa, enfim… tudo certo, até ao momento em que depois duma curva, apanho com um calhambeque pela frente, errado no lugar, na hora e na velocidade.

Pé no travão, desacelera, baixa a música e agora, desenrasca-te a ultrapassá-lo. Ok!... era um calhambeque vagaroso, mas a estrada tem muitas curvas, lembram-se? A rogar pragas e coriscos, perguntando-me porque é que veículos daqueles ainda andam nas estradas que eu percorro, lá me fui aguentando atrás dele, que as curvas nunca mais acabavam. Não sei se me estava a irritar mais a velocidade a que era obrigada a circular (aí 60 kms/h) se o constrangimento relativamente ao volume do som. É que me estava mesmo, a apetecer andar depressa e ouvir música a altos berros… que seca!

Depois aí de uns 5 minutos atrás do calhambeque (era uma camioneta azul de caixa aberta, velhinha, velhinha) já quase com a manhã estragada, o condutor faz pisca à direita e eu: mas onde é que o homem vai virar, se não há aqui nenhum desvio? Pensei. Abrandei ainda mais a marcha, à espera que o homem doido - só podia - encostasse à berma, mesmo antes de uma curva. Estaria à rasquinha – pensei. Mas não. Desactiva o pisca e continua a circular.
Já cheia de ver aquela coisa à minha frente, continuei inconformada (atrás dela… pois). Outros 5 minutos depois, volta a fazer o mesmo. Só que desta vez, estacionou mesmo, na margem da estrada, obrigando-me quase, a parar. Cautelosamente, consegui ultrapassá-lo (consegui, hã?! reparem no detalhe) e olhei pelo retrovisor. Imediatamente após a minha passagem, retomou a marcha.

Afinal, o homem não era doido, nem estava à rasquinha. Eu é que era naba por não o conseguir ultrapassar. Tão naba, tão naba, que cheguei mesmo, a incomodá-lo.

- Obrigadinha, ò pá!... por te preocupares comigo. Mas estragaste o meu momento de felicidade, a minha manhã, diria até, que o meu dia, que depois de me cruzar contigo, senti-me otária o suficiente, que chegue para um mês. Nem a música, as árvores, as cegonhas, os cavalos e as ovelhas, me valeram… nem o tempo que perdi em casa a arranjar-me.

Uma praga d’osgas em cima de ti (daquelas bem barrigudas a adivinhar montes d’ovinhos lá dentro e portanto, montes d’osguinhas que aí vêm) era o que merecias… ò calhambeque velho!