Há de facto, registos que vão perdurando na nossa memória, uns com base em quase nada, outros com base em muita coisa, outros, nem sabemos com que base. Vão teimando, sem nada podermos fazer. Muitas vezes, surpreendem-nos até… ou pelo tempo que aguentam, ou pelo motivo que ficaram.
De há uns anos a esta parte, há um registo, que eu nem sabia que tinha ficado e que me vai transmitindo estímulos à memória… assim, volta e meia. Eu vi um filme há muitos anos, ainda nem filhos tinha, de que não me lembro o título, nem me lembro dos protagonistas, tão-pouco da história. Apenas, tenho uma vaga ideia do contexto. Seria um daqueles filmes para ser visto por famílias com crianças, numa qualquer tarde de Domingo, na televisão. Tenho ideia de que as personagens fulcrais eram crianças e que a trama, seriam as suas aventuras numa qualquer imensa casa de campo. Lembro-me da mãe, de uma das mães. Lembro-me dessa mãe, resignada ao seu papel de mãe, por isso, uma mãe leve e bem disposta. Lembro-me dela a apanhar brinquedos espalhados pela casa toda. A acumular tudo nos braços e nos bolsos e em todo o lado onde fosse possível acondicioná-los até os devolver ao sítio deles. Acho que entretanto, o telefone tocou, ou a campainha da porta… já nem sei. Sei apenas que não era assunto que a prendesse muito tempo. Mas lembro-me, é disto que me lembro muito bem, dela a insistir na demora da comunicação… sem sucesso. E sobretudo, do desapontamento, perante a sua falta de capacidade em manter o atendimento, o diálogo, enfim… qualquer espécie de comunicação.
- Por favor!... não vá. Espere. Preciso urgentemente de falar com alguém adulto.
Escusado será dizer que o filme era uma espécie de comédia.
Os miúdos são do mais genuíno e transparente que pode haver. Fiáveis, por isso. Gosto de lidar com eles. Gosto de trabalhar com eles. Sei quando lá vem uma birra ou um amuo. Até já sei o que fazer. Reconheço quando têm dificuldades e o como devo proceder para os apoiar. O que eu já não sou capaz é de tranquilizar com a actividade deles. Parecem autênticas formiguinhas, a correr uma para cada lado. Em todos os aspectos. Ávidos de novidades. Ávidos de coisas para fazer. Ávidos para descobrir. Ávidos por movimento. Porra!... que me deixam tonta.