sábado, março 25, 2006

Pessoas simples II

Dizia eu, eu, que preciso de ter as minhas coisinhas organizadas, de ter onde as arrumar, de saber o sítio delas, dizia eu, que as coisas simples, costumo arruma-las nas prateleiras mais altas ou mais baixas, tanto faz, mas nunca naquelas que estão à altura dos meus olhos.

Com as pessoas simples, passa-se mais ou menos, a mesma coisa… salvo seja. Não é com as pessoas simples que tenho maior afinidade, são no entanto elas, que mais me fazem brilhar os olhos, melhor dizendo, que mais vezes me fazem brilhar os olhos.

Não querendo dissertar muito sobre o assunto, ou sobre as pessoas simples, ou sobre o motivo por que assim as defino, dou um salto para o epílogo, o meu epílogo, e entendo que o fascínio que me provocam, não passa de uma capacidade que a elas lhes encontro, e que a mim, não. A capacidade de não querer mais. A capacidade de estar bem assim, tal como está. E não, não me parece nada, pouco.

É verdade que me parece que o sonho comanda a vida e faz os Homens crescerem. É verdade que acredito que quando um Homem quer mais, a humanidade evolui. É verdade que sempre me orientei pelos sonhos, os meus e mesmo, os que não fui eu que sonhei. É também verdade que alguma coisa tenho crescido. E sim, também há quem olhe para mim com os olhos a brilhar, vá-se lá saber porquê.

Há no entanto, uma relação que me atrai, que me atrai cada vez mais, de tão simples, tão fiável ser: Só há sossego quando não se quer mais. E só sossegados e tranquilos é que conseguimos construir alguma coisa.

Tem sido assim, ao longo da história da humanidade. Depois da guerra, a construção. Sendo que a guerra, apesar da destruição que causa, também já é uma evolução. Uma espécie de primeiro passo ou trampolim. Assim, quando antes me parecia que o sossego era o fim porque já tudo se tinha, hoje parece-me que pode ser exactamente, o contrário. Mais um ciclo, onde o fim e o princípio podem coincidir.

E voltam as pessoas simples a reluzir neste meu pensamento de renovação. Essas pessoas simples que nunca renasceram. Que continuam a vida que era a dos pais delas, que já era a dos avós delas. Não há revoluções neste ciclo. Continuam-se a criar galinhas e porcos. Continuam-se a cultivar legumes e tubérculos. Continuam-se a criar filhos que continuem a vida dos pais e dos avós. E este é o único espírito de renovação que existe nas pessoas simples. Não há insatisfação que provoque guerras. Não há guerras que provoquem renascimentos. Não há grandes dúvidas. É sempre em frente.

Nada me parece mais inteligente que isto. Viver a vida. Simplesmente.

Pessoas simples



Era sobre pessoas simples que eu tinha escrito.
O texto estava quase a meio da folha quando o quis guardar.
Bloqueou, o meu pc. Perdi o texto.
No contexto, esta foi a imagem que encontrei mais adequada para actualizar o meu blog.
É o que se pode arranjar... assim, de repente.

sábado, março 11, 2006

Sentidos

Abandono os olhos no ecrã da televisão
Porque quero dormir cedo.
Planeio o dia de amanhã preenchido de tarefas que não vou cumprir.

...

Correm-me os pés descalços sobre ervas transpiradas.
Risos de criança debaixo de um Sol amarelo
Fazendo luzir vestidos claros e esvoaçantes
Numa dança inocente.
Dias de infância cumpridos.
Promessas de um futuro encontrado.
Embalem-me no sono.

Pálida flor

(despejando gavetas)

Quero viver.
Quero sorrir.
Destapar o sol,
O chão colorir

Quero sair.
Puder escolher.
Entrar de novo
E não te ver.

O teu sorriso,
Hei-de esboçar,
Assim tu me deixes
Voltar a amar.

Descobre-te em mim,
Pálida flor,
Numa paisagem
Cheia de cor.


Perco-me aqui,
Quero sair.
Fugir de ti.

Porquê partir?
Para onde fores,
Eu quero ir.


Quero ser água,
Livre e fria.
Seguir caminho
Para onde eu ia.

Olhar para mim,
Ver a verdade.
Sentir orgulho,
Não ter saudade.

Não podes ir,
Meu doce amor.
Quero-te junto,
Vá onde for.

Dou-te um rio
Para tu correres.
Todas as cores
Para escolheres.


Perco-me aqui,
Quero sair.
Fugir de ti.

Porquê partir?
Para onde fores,
Eu quero ir.


(escrito em Maio de 2001)

domingo, março 05, 2006

Baile de máscaras

Fui ao baile de máscaras. Disfarçada.

Eu e as minhas filhas.

Elas foram de princesas.

Eu, fui com um sorriso rasgado, conversa feita, umas piadas para dizer. Até gargalhadas levei.

Dancei disfarçada, no baile de máscaras.

Ninguém me reconheceu.

Cheguei agora a casa. E tirei o disfarce.

quarta-feira, março 01, 2006

À deriva

(registos)

De tão poucas certezas, ter.

...

Estão os pedaços de madeira boiantes, demasiado dispersos.
Os meus braços são curtos.
A ondulação é grande.
E não há meio de amanhecer.
Se esta gente que mal vejo, parasse de gritar por mim, talvez me conseguisse concentrar.
Porra!... que estou exausta.
Que venha o Sol.
Que se calem as vozes que nada dizem.