sábado, dezembro 24, 2005

Um poiso, afinal

Restos de conversas. Ocorrem-me.
O visor do meu telemóvel, a correr os contactos. Sem selecção possível.
Outros Natais. Com a minha mãe embrulhada no avental que só tirava à ultima hora.
Risos. Barulho. Vontade.
Restos de conversas. Antigas. Recentes.
A memória corre-me freneticamente. Sem poiso.
Rouba-me a vontade de movimento.
A capacidade de concentração.
Restos de conversas.
Invasoras recordações.
Alheiam-me.

Acabei por poisar aqui.
Feliz Natal a todos.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Debaixo do teu olhar

Debaixo do teu olhar
Sigo pela estrada comprida
De verde, iluminada
Ou de prata, escondida.
Debaixo do teu olhar
Descanso
Em noites mal dormidas
E conversas exaustivas.
Debaixo do teu olhar
Torno minhas
Imagens que são tuas.
Minhas… tuas…
Já nem sei.
Debaixo do teu olhar
Faço abrigo
No teu sorriso surdo
Nas tuas palavras frias
Na tua âncora presa
No teu tempo
Comigo.
Debaixo do teu olhar
Faço abrigo.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Purple Rain

Já tinha decidido que era esta.
Entretanto fiquei indecisa.
Pareceu-me que não vinha a propósito (se é que há algum propósito na escolha de uma música para um blog).
Depois, entendi que sim.
Na verdade, também sou teimosa. Dificilmente arrepio caminho.
Por isso, é mesmo Prince... com a música, com a letra, com a chuva.
Escolhas que se fazem.
Não há nada melhor do que poder escolher.
Hoje, esta música, mais do que nos outros dias, ajuda-me a virar uma página.

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Purple Rain - Prince

I never meant to cause you any sorrow
I never meant to cause you any pain
I only wanted one time to see you laughing
I only want to see you laughing in the purple rain
purple rain, purple rain (3x)
I only want to see you bathing in the purple rain

I never wanted to be your weekend lover
I only wanted to be some kind of friend
baby I could never steal you from another
it's such a shame our friendship had to end
purple rain, purple rain (3x)
I only want to see you underneath the purple rain
honey, I know, I know, I know times are changing
it's time we all reach out for something new, that means you too
you say you want a leader,
but you can't seem to make up your mind
I think you better close it
and let me guide you into the purple rain
purple rain, purple rain (3x)
I only want to see you, only want to see you
in the purple rain

sábado, dezembro 03, 2005

Conciências

É certo que a maior parte das vezes que escrevo, faço-o por uma questão egoísta. Ou seja, faço-o primeiro, porque me apetece escrever (mais do que falar) e segundo, porque me apetece fazer sair o que me vai na alma. Sendo que, o verbo “apetecer” poderia ser facilmente substituído pelo “precisar”. É portanto, uma questão, perfeitamente, individualista.

A questão é, porque publico eu, algumas das coisas que escrevo, partindo do princípio que o faço levando apenas em conta, a minha vontade, a minha necessidade. Sim, porque se publico palavras que nascem das minhas emoções, vivências, até opiniões, estou obviamente a partilhá-las com quem as lê. E aqui, a ideia do par individualismo/partilha parece um contra-senso.

Já uma vez, publiquei aqui um texto que se aproximava do assunto dos dois últimos parágrafos. E na verdade a tal ideia da parede de espelhos de que nos fazemos rodear, faz-me algum sentido. É na nossa exposição que vimos os reflexos das outras pessoas. E são os reflexos das outras pessoas que frequentemente, nos consolidam o raciocínio.

Seja como for, ou porque é urgente fazer sair, ou porque é preciso tornar o raciocínio claro, ou porque apenas há necessidade de deixar registos feitos, tenho-me sentido perfeitamente egoísta a escrever.

Não é o caso deste post. Me parece. Neste, quero mesmo partilhar uma opinião. Uma vivência. Abordar um assunto sério de uma forma, sucinta e desprovida de emoções. A violência e a agressividade, sob o ponto de vista afectivo.

Sim, porque há uma violência e uma agressividade, que de afectos está desprovida. Fazer o mal, por fazer. Mas também há violência e agressividade no seio dos afectos. Em nome do amor, muita merda se faz. E, se no primeiro caso há uma leitura clara, que desencadeia uma reacção rápida e segura, já no segundo caso, o mesmo poderá não acontecer.

E quando não acontece, tudo se complica. Instala-se uma relação agressor-vitima, difícil de expirar. Muitos de nós, poderemos pensar que seria impossível sermos parte integrante de uma relação destas. Penso que a maior parte de nós, estará enganada. Basta que tudo se enquadre num qualquer contexto de permissividade e está o caos, instalado. Permite a vitima, o avanço do agressor. E permite o agressor, a passividade da vítima.

É claro que eu julgo que cada um de nós terá características dominantes, ou de vitima ou de agressor, sendo possível que nunca venha a ser nem uma, nem outra coisa. Assim, como também me parece, que os papéis poderão ser invertidos. Depende muito do contexto, de facto.

Mas conjugadas as características e o contexto, só o respeito nos salva. Ou seja, a formação de base. Aqui assenta, seguramente, o travão. O respeito pelo próximo. O respeito por nós próprios. Sendo que quem respeita muito o próximo, muitas vezes não se respeita a si próprio convenientemente. Assim como quem zela convictamente por si próprio, normalmente está a borrifar-se para os outros.

É uma teia muito relaxada, esta da efectividade de formação. Um equilíbrio difícil de consolidar. Até mesmo de construir. Por isso, falha muitas vezes, dando azo a que emirjam o agressor e a vítima. O abusador e o abusado. No seio dos afectos. Onde tudo se complica mais. Onde a permissividade é ainda maior. Na tentativa de compreender, de desculpabilizar. Atitudes há, que não se tomam por isso. Para evitar a dor, o sofrimento, o conflito. O agressor vai ganhando espaço e a vitima, encolhendo. Pode demorar anos. Pode ser fatal. Mas também se pode mudar o curso aos acontecimentos.

É preciso, antes de mais, que se reconheça o quadro. Os papeis. É preciso reter algum tempo. O tempo suficiente para que surja a primeira certeza. E depois… é preciso que se decida, não esperar mais. Esperar que os afectos normalizem, é um erro. Esperar que a situação se resolva com o tempo, é outro. Esperar que consigamos resolver a situação sozinhos, o maior de todos. É preciso tomar decisões práticas. Obviamente, quem está em melhor condição para as tomar, é a vitima. Não, porque seja a que sofre mais. Mas porque é a que tem mais ferramentas ao seu dispor. Basta ser capaz de as usar.

Falo dos tribunais. Da policia. De todas as instituições de apoio à vitima. Da família. Dos amigos. De tudo. Falo de tudo, sem excepção, aleatoriamente e sem pudor.

Ajuda-nos também o bom-senso e a concentração.

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Eu pensava que o facto de não ter “espírito de vítima” era quanto bastava para nunca o ser. Pensava que o facto de ser orgulhosa, às vezes dura com as palavras, refilona quanto baste, não deixava dúvidas. Falso. Nada mais falso. Fui e ainda sou, de alguma forma, vítima de maus-tratos. E antes me tivessem algum dia, agredido fisicamente, que tinha despertado para a realidade, mais cedo do que despertei. Porque agressão, é tudo aquilo que nós permitimos que nos façam, contra a nossa vontade. E se os nossos afectos e os dos outros, são usados constantemente, como arma de arremesso, na tentativa de nos fazer aceitar aquilo que não queremos, então, não há margem para indecisões. Há que agir. Com medo, ou sem ele.

Acabou

Rasgas-me a alma em mil pedacinhos
Que atiras ao chão.
Roubas-me o azul.
Calas-me a melodia.
Sinto o frio dos teus olhos
No fundo dos meus.
Ainda paraliso.
Ainda deixo.
Tudo de mau é possível, eu sei.
Basta um passo mais
E desarmo-te.
Antes que assim seja.

Acabou.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Registos

(Chegou a hora)

Tinha fugido com as crias.
Escondeu-se num buraco previamente calculado, quente e acolhedor.
Um ano e tal, a recuperar forças… escondida.
Estava na hora de sair.
Todas as forças eram precisas.
A concentração tinha que ser absoluta.
Por isso, nada mais interessa, senão uma saída em segurança.
A segunda parte de um plano que nunca existiu.